Escrever sobre paternidade no Brasil é um desafio, uma vez que, por exemplo, uma pesquisa realizada pelo IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família), no primeiro semestre de 2022, aponta que mais de 100 mil crianças não tiveram o nome do pai no registro de nascimento. A paternidade, na sociedade ocidental, sempre esteve ancorada à forma de ser homem e as performances de masculinidade e, historicamente, se manifesta através de práticas machistas.
Um dos pilares do machismo é o não reconhecimento do homem como cuidador, como indivíduo que desenvolve atividades e tarefas domésticas. O objetivo deste texto é promover um olhar para práticas paternais baseadas no fortalecimento de vínculo.
A gestação é o primeiro e mais importante momento em que o homem pode se vincular ao bebê. Para isso, setores, como o sistema de saúde, precisarão contribuir para a formação deste vínculo. Tenho aqui algumas dicas para participação ativa no pré-natal:
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Vá a todas as consultas com a sua companheira ou a mãe do bebê;
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O SUS oferece o Programa de Pré-Natal do Pai, que é importante para que o pai seja cuidado na gestação, assim como aprenda como cuidar ainda na gravidez e no puerpério;
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O sistema privado de saúde oferece muitos cursos de cuidado com o bebê durante a gestação. Participe! É importante!
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Converse com o bebê ainda na barriga. Ali, você começa a criar conexões com o seu filho ou a sua filha;
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Participar do parto é necessário! A participação neste momento, além de reduzir a possibilidade de violência obstétrica, será o primeiro toque no seu bebê, logo no nascimento;
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Os primeiros cuidados com a criança poderão ser feitos pelo pai, junto com a equipe de saúde.
Aqui, vai um apelo aos profissionais de saúde do Brasil inteiro: por favor, incentivem os pais para que participem de todas as etapas até o nascimento do bebê. É importante retirar a ideia de que a sala de espera do pré-natal é um espaço feminino. Ela é, também, um espaço para os homens. Incentivar que eles participem do parto é estratégico para a criação e fortalecimento de vínculo com os filhos, além da promoção de um bom trabalho de parto e dos primeiros cuidados com a criança.
Não delegar esses cuidados para a avó ou outra pessoa, mas serem executados pelo pai, é crucial para a criação de laços de cuidado e proteção.
Quando o pai participa ativamente do pré-natal, também saberá que tem um papel importante na amamentação. A não romantização dessa prática, a busca por banco de leite no território onde se vive (quando há necessidade) ajuda, também, a promover um ambiente seguro para amamentação.
Importante lembrar que os pais por adoção precisam vivenciar todo o processo de espera, preparando-se para o exercício de cuidado e proteção. Os primeiros cuidados, ainda que desenvolvidos com medos, preocupações e ansiedade, precisarão ser exercidos. Tudo é aprendizado! E nesse processo, ler, buscar ajuda e participar de grupos sobre paternidade e cuidado será o melhor caminho.
Paternidade, assim como maternidade, não se relaciona com "dom" ou "vocação", como costuma ser dito no senso comum. É aprendizado!
Dessa forma, na primeira infância (período que corresponde de 0 à 6 anos), momento mais importante da vida da criança (época em que o cérebro tem o seu desenvolvimento mais intenso), a relação do pai com o filho ou filha é extremamente necessária no fortalecimento dos vínculos e cuidados. Esses laços avançam para todas as etapas da vida, na segunda infância, na adolescência e na juventude.
Já na adolescência, a relação dos pais com os filhos e filhas se torna especialmente importante por ser um momento em que surgem muitas inseguranças. Estar por perto para escuta, aconselhamento e diálogo, além de criar referências para os jovens (reconhecimentos de masculinidades positivas), é crucial para os meninos e as meninas.
A paternagem, assim como a maternagem, é um lugar constante de insegurança e medos. Mas também é um lugar de alegrias e aprendizados. Não precisamos romantizar esses papéis, mas vivenciá-los! Busque redes de pais!
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