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Tratar Alzheimer em estágio inicial pode reduzir avanço do declínio, diz estudo

Trabalho testou o medicamento donanemab, que diminuiu a progressão de problemas de memória

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Pam Belluck
The New York Times

Tratar os pacientes de Alzheimer o mais cedo possível, quando os sintomas e a patologia cerebral são mais leves, oferece uma melhor chance de retardar o declínio cognitivo, sugere um grande estudo de uma droga experimental para a doença apresentado na segunda-feira (17).

O estudo com 1.736 pacientes relatou que a droga, donanemab, produzida pela empresa farmacêutica Eli Lilly, pode retardar modestamente a progressão dos problemas de memória e pensamento nos estágios iniciais da doença de Alzheimer, e que a desaceleração foi maior para os pacientes quando eles tinham menos quantidade da proteína que cria emaranhados no cérebro.

Para as pessoas no início da doenças, o donanemab pareceu retardar o declínio da memória e do pensamento em cerca de 4,5 a 7,5 meses, num período de 18 meses, em comparação com os pacientes que tomaram placebo, segundo o estudo publicado na revista Jama.

Estudo mostra que tratar Alzheimer nos estágios iniciais da doença pode diminuir o avanço do declínio cognitivo - Elena Abduramanova/Adobe Stock

Entre as pessoas com menor quantidade dessa proteína, chamada tau, a desaceleração foi mais pronunciada naquelas com menos de 75 anos e nas que ainda não tinham a doença, mas sim uma condição anterior ao Alzheimer chamada comprometimento cognitivo leve. Os dados foram apresentados na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer, em Amsterdã (Holanda).

"Quanto mais cedo você chegar, mais poderá impactá-la antes que eles já tenham declinado e estejam nessa ladeira rápida", diz Daniel Skovronsky, diretor médico e científico da Eli Lilly, em entrevista.

"Não importa como você destrinche os dados –mais cedo, mais jovens, mais branda, menos patologia–, sempre parece que o diagnóstico e a intervenção precoces são a chave para controlar essa doença", acrescenta.

As descobertas e a recente aprovação de outro medicamento que retarda moderadamente o declínio nos estágios iniciais da doença de Alzheimer, o Leqembi, sinalizam uma virada potencialmente promissora no longo e difícil caminho para encontrar medicamentos eficazes para a doença. O donanemab está atualmente sendo considerado para aprovação pela FDA (agência americana que regulamenta alimentos e drogas).

Donanemab e Leqembi (também conhecido pelo nome científico lecanemab) não foram comparados diretamente entre si em estudos. Os ensaios individuais das duas drogas diferem em projeto e outros aspectos, tornando difícil dizer qual medicamento pode ser mais eficaz.

Cada um deles apresenta riscos de segurança significativos, especialmente inchaço e sangramento no cérebro, que, embora geralmente leves, podem ser graves em alguns casos. O estudo do donanemab teve taxas mais altas de inchaço e sangramento do que o do Leqembi, mas as comparações são difíceis devido às diferenças entre os pacientes e outros fatores.

Nenhuma das drogas reverte ou repara os danos cerebrais causados pela doença. Muitos especialistas em Alzheimer, portanto, as consideram apenas um primeiro passo numa direção potencialmente frutífera.

"Saber se os danos dessas drogas são equilibrados por seus modestos benefícios clínicos exigirá mais dados", escreveram três geriatras em um editorial publicado na segunda-feira no Jama.

Três mortes foram ligadas ao donanemab em seu ensaio clínico, diz o estudo. Três participantes dos testes de Leqembi também morreram, após sofrerem inchaço cerebral e sangramento. Mas a Eisai, empresa japonesa que fabrica o medicamento ao lado da empresa Biogen, com sede em Boston, pontua que não está claro se a droga contribuiu para essas mortes porque esses pacientes já tinham problemas médicos complexos.

As duas drogas atacam outra proteína, chamada amiloide, que se aglomera em placas no cérebro de pacientes com Alzheimer. Ao longo de anos de estudo, outras drogas antiamiloides falharam em demonstrar que atacar a amiloide poderia retardar os problemas de memória ou pensamento. E a decisão da FDA em 2021 de dar uma espécie de aprovação condicional ao medicamento antiamiloide Aduhelm, embora reconhecendo a incerteza sobre seu real benefícios, gerou polêmica, investigações do Congresso e relutância em prescrevê-lo.

Donanemab e Leqembi, infusões administradas por via intravenosa, são as primeiras drogas de ataque à amiloide com evidências claras de retardar o declínio cognitivo no início da doença. Mas alguns especialistas em Alzheimer dizem que a desaceleração é tão modesta que não está claro se será notada por pacientes e familiares.

Os pacientes com Leqembi, que receberam infusões a cada duas semanas durante 18 meses, tiveram declínio 27% mais lento do que os que receberam placebo –uma diferença de menos de meio ponto numa escala cognitiva de 18 pontos que avalia funções como memória e resolução de problemas. Na mesma escala no estudo do donanemab, o grupo geral de pacientes que receberam o medicamento, administrado em infusões mensais, declinou 29% mais lentamente do que o grupo do placebo –ou uma diferença de 0,7 ponto.

Alguns especialistas em Alzheimer dizem que, para que a desaceleração do declínio seja clinicamente significativa ou perceptível, a diferença entre um medicamento e um placebo deve ser de pelo menos 1 ponto.

Outros aspectos do estudo com donanemab deverão ser especialmente intrigantes para os especialistas na doença. Os pacientes deixavam de receber o medicamento e passavam a tomar placebo se a amiloide fosse eliminada abaixo de um determinado limite. Cerca de metade atingiu o limite em um ano, e seu declínio continuou diminuindo mesmo depois que pararam de receber a droga.

Os cientistas da Lilly estimaram que levaria quase quatro anos para os níveis de amiloide ultrapassarem o limite novamente. É incerto se a desaceleração do declínio continuaria à medida que a amiloide começasse a se acumular novamente.

A dificuldade de prever se esses medicamentos serão significativos na vida diária se reflete na experiência de um paciente em outro estudo com donanemab.

Há cerca de quatro anos, Jim Sirois, 67, de Berlin, em Connecticut, começou a ter problemas para encontrar palavras durante as conversas e se esquecia de quais itens comprar no supermercado, diz sua mulher, Sue Sirois, em entrevista organizada pela Eli Lilly.

Em novembro de 2021, Jim, ex-eletricista de uma empresa de energia, começou a receber infusões mensais de donanemab em um estudo comparando se o medicamento elimina mais amiloide do que o medicamento Aduhelm. Sua mulher, uma ex-professora de matemática do ensino médio, afirma que o donanemab limpou as placas e que o tratamento foi interrompido após cerca de 13 meses. Mas o casal pontua que não sabe se o medicamento retardou o declínio cognitivo dele.

Embora os sintomas de seu marido não tenham piorado significativamente, diz Sue Sirois, "havia algumas coisas que ele fazia sem dificuldade no verão passado que se tornaram um problema neste verão".

Jim agora não consegue conectar o aspirador da piscina ou colocar fio no cortador de grama. "Ele só tem muita dificuldade com planejamento e qualquer coisa que tenha várias etapas", afirma ela.

Até o boliche, atividade em que ele se destacava, foi afetado. Sua pontaria pode ser menos direcionada agora e, embora recentemente ele tenha feito um jogo perfeito, "sua média provavelmente está uns 20 pinos abaixo do que costumava ser", afirma Sue.

"Não sei se a droga o ajudou ou não", diz. "Não sei dizer."

Mas, ela acrescenta, "o que quer que possamos fazer para retardar a progressão ou pelo menos ter alguma esperança nesse sentido é o que eu gostaria de fazer".

Tradução Luiz Roberto M. Gonçalves

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