Especialistas explicam o que fazer quando um parceiro quer sexo com mais frequência que o outro

Diferenças de libido são comuns nos relacionamentos; saiba como lidar com isso

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Catherine Pearson
The New York Times

Frances e sua esposa estão juntas há mais de 40 anos e, no início do relacionamento, não paravam de se agarrar. Então vieram três filhos e uma série de problemas de saúde (com os medicamentos correspondentes), que foram pouco a pouco enfraquecendo a libido de sua esposa.

"Ela simplesmente perdeu o interesse por sexo", disse Frances, 61, que pediu para não ser identificada por seu sobrenome, para respeitar a privacidade de sua esposa. "Onde antes acontecia uma vez por semana, foi diminuindo para uma vez por mês, depois uma vez por ano. E, em dado momento, simplesmente parou por completo."

Há dez anos as duas agora vivem uma seca sexual completa. Frances ama sua mulher e diz que o casamento delas era forte. Mas ela anseia pela "mutualidade" do sexo, em suas palavras.

"Eu me vejo tecendo fantasias com praticamente todo o mundo que conheço e tendo sentimentos de culpa por isso", ela disse. "É difícil suportar."

Um casal está sentado lado a lado em um sofá branco; uma mulher negra está sentada à esquerda, com um dos braços sobre uma almofada; o homem, também negro, está à direta, sentado com as pernas viradas para frente
Pesquisa sugere que as diferenças de desejo são uma das principais razões pelas quais os casais procuram terapia - Courtney Yates/The New York Times

Recentemente o New York Times perguntou a seus leitores sobre diferenças de libido. Mais de 1.200 responderam, muitos para compartilhar relatos profundamente pessoais sobre como estão lidando com incompatibilidades sexuais. Também conversamos com pesquisadores e terapeutas sexuais que disseram que as discrepâncias em matéria de desejo sexual são comuns, a ponto de serem quase inevitáveis em relacionamentos de longo prazo. Pesquisas sugerem que as diferenças de desejo são uma das maiores razões que levam casais a procurar terapia.

"Penso que isso ocorre em quase todas as parcerias, ou por uma parte do tempo ou de modo mais duradouro", disse a psicóloga e terapeuta sexual Lauren Fogel Mersy, co-autora do livro ainda inédito "Desire: An Inclusive Guide to Navigating Libido Differences in Relationships" (Desejo: um manual inclusivo de como lidar com as diferenças de libido nos relacionamentos).

Muitos fatores podem influir sobre a libido: dinâmicas interpessoais, saúde física e mental, as mensagens sociais em torno da sexualidade que as pessoas absorvem na infância e adolescência. A lista continua, e raramente há soluções fáceis. Mas Fogel Mersy e outros especialistas dizem que mais comunicação pode ajudar os casais a diminuir a distância entre as duas pessoas em matéria de desejo sexual.

O mais importante é a comunicação

Quando atende clientes com diferenças de libido, a psiquiatra e terapeuta sexual Elisabeth Gordon não procura reduzir a libido de um dos parceiros ou aumentar a do outro. Em vez disso, ajuda as duas pessoas a entender o que está causando esse desnível —que pode ser qualquer coisa, desde preocupações com o relacionamento até estresse no trabalho— e, crucialmente, como falar disso.

"Há uma coisa que eu repito sempre: o mais importante que podemos fazer é melhorar a comunicação", disse Gordon. "A comunicação é o alicerce da saúde sexual."

Joel, 40, e sua mulher, com quem está casado há 12 anos, têm problemas com sexo praticamente desde que se casaram. Os dois vêm de origens familiares rígidas, mas de maneiras diferentes: a família de Joel era religiosa e a de sua esposa tendia a evitar falar de temas emocionais. Ele é o parceiro com alto nível de desejo. Com frequência, não encontra as palavras para transmitir sua frustração.

"Não quero me sentir carente", disse Joel, que não quis ser identificado por seu sobrenome. "Mas, ao mesmo tempo, quero expressar quão importante isso é para mim." Segundo ele, sentir às vezes que sua parceira não sente mais atração por ele o deixa confuso e sentindo solidão.

Gordon lembra a clientes como Joel dos princípios básicos da boa comunicação. Reservem uma hora para conversar que não seja ao final de um longo dia ou quando você estiver tentando fazer várias coisas ao mesmo tempo. Considere que ambiente ou situação deixará você à vontade —por exemplo, durante um jantar tranquilo ou um passeio a pé.

Kristen Mark é professora do Instituto de Saúde Sexual e de Gênero da Escola Médica da Universidade do Minnesota. Ela recomendou que se usem afirmações começando por "eu", que podem ser mais suaves e ajudar a reduzir reações defensivas da outra pessoa. (Por exemplo, "eu não tenho sentido muita vontade de transar ultimamente porque ando cansado" ou "eu quero me sentir mais próxima de você, quer a gente faça sexo ou não".) Outra sugestão dela: experimentar o "método do sanduíche" —um elogio, um pedido ou afirmação difícil de ouvir e depois outro elogio.

Tirem tempo para identificar a intimidade dentro e fora do quarto

Os terapeutas sexuais que atendem casais com discrepâncias de desejo podem incentivar seus clientes a ampliar seus chamados roteiros sexuais. Essas são as ideias às quais as pessoas às vezes se aferram sobre como a intimidade sexual "deve" ser ou como ela "deve" acontecer.

O importante é que vocês reservem tempo para a intimidade, disse Gordon, seja o que for que isso significa para vocês. Por exemplo, ela já atendeu clientes que chegaram a um meio-termo: uma das pessoas abraçava a outra enquanto ela ou ele se masturbava.

Segundo Mark, a maioria das pessoas nunca parou para pensar o que, especificamente, elas ganham com o sexo. O mais importante é o prazer físico? É a diversão? É a conexão emocional com o outro ou a possibilidade de soltar-se emocionalmente? Perguntem-se sobre isso e depois procurem pensar em outras maneiras, que não sejam pelo sexo, pelas quais você ou seu parceiro poderiam satisfazer pelo menos algumas dessas necessidades, ela recomendou.

O sexo aproxima emocionalmente Jack, 23, e seu namorado, mas eles não andam fazendo sexo tão frequentemente quanto o namorado gostaria. Jack, que pediu para não ser identificado pelo sobrenome, vem enfrentando questões de saúde mental que atrapalharam seu desejo. Então ele e seu namorado estão procurando outras maneiras de fomentar o tipo de intimidade que o sexo lhes proporciona.

"Coisas inocentes, tipo ficar abraçados, de mãos dadas, ou um do lado do outro ou encostados um no outro enquanto estamos cozinhando, são importantes, apesar de nem sempre ser uma coisa sexual", ele disse.

Apesar desses momentos de conexão, seu namorado ainda sente mágoa, e Jack frequentemente acha que há algo de errado com ele. Mas disse que encontrar maneiras de ter intimidade sem sexo "ajudou a combater algumas das frustrações".

Fiquem abertos aos diferentes tipos de desejo

Segundo Fogel Mersy, acredita-se que haja dois tipos de desejo sexual: espontâneo e responsivo. O desejo espontâneo acontece de repente, como o que vemos no cinema ou na televisão. O desejo responsivo ocorre em resposta à excitação física por meio de qualquer dos cinco sentidos, como, por exemplo, por um toque agradável ou um estímulo visual. Pode ocorrer rapidamente ou pode levar algum tempo para ir crescendo. As pessoas tendem a não valorizar devidamente os benefícios do desejo responsivo, disse Fogel Mersy.

"Sem ensinar às pessoas que existem tipos distintos de desejo sexual, muitas se sentem fracassadas", disse a psicóloga e terapeuta sexual Jannifer Vencill, que co-escreveu o livro "Desire" (desejo) com Fogel Mersy.

No livro, elas sugerem que os parceiros considerem o "modelo da disposição" para responder a uma pergunta em uma escala de 0 a 10: eu me disponho a ver se meu desejo sexual vai aparecer ou reagir? Um zero quer dizer que você não está disposto a tentar suscitar desejo reativo —e tudo bem (o consentimento é imprescindível). Mas se você é um 5, está disposto a abraçar seu parceiro ou deitar-se com ele e ver se se dispõe a aprofundar o contato físico a partir dali?

Procurem ajuda externa

Terapeutas, especialmente terapeutas sexuais, podem dar uma ajuda valiosa a casais com disparidade de libido. Se o desequilíbrio do desejo está provocando brigas ou distanciamento na relação, vocês podem pensar em fazer terapia de casais. Pergunte a possíveis terapeutas se já trabalharam com seu problema antes, e não hesite em oferecer feedback após algumas sessões. Pesquisas indicam que isso pode tornar a terapia mais eficaz.

Guarde em mente que um terapeuta sexual não pode tratar problemas de saúde subjacentes que podem estar afetando a libido de vocês —por exemplo, dor durante o sexo, desejo fraco devido a certos medicamentos ou disfunção erétil. Qualquer pessoa que tenha esses problemas deve procurar um médico.

Segundo Gordon, boa parte do trabalho do terapeuta sexual é voltado a ajustar as expectativas dos clientes e normalizar o que estão vivenciando.

Ela explicou: "Queremos que eles entendam que a discrepância de desejo é extremamente comum, realmente normal e pode ser trabalhada."

Tradução de Clara Allain

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