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'Ela nunca leu meu eu te amo': A amizade de infância interrompida pelo câncer que viralizou no TikTok

Carol e Maysa se conheceram ainda na infância e mantiveram amizade ao longo da vida

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Mariko Oi
BBC News Brasil

As brincadeiras na infância, o aniversário de 15 anos, o primeiro carnaval, a primeira festa juntas e um duro período após o diagnóstico de câncer.

Essas são algumas das lembranças registradas em fotos que marcaram a amizade de Maysa Helena e Ana Carolina Sartorato.

Maysa, 21, compartilhou esses momentos em um vídeo no TikTok no começo de outubro.

A homenagem a Carol, que morreu há dois anos, viralizou: teve mais de 5,6 milhões de visualizações e 918 mil curtidas.

Maysa e Carol durante a infância
Maysa tinha quatro anos e Carol três quando se conheceram - Arquivo pessoal

"Sou muito grata por ter tido a Carol na minha vida. Aprendi muito com ela, amadurecemos juntas", diz Maysa à BBC News Brasil.

A história das duas amigas de infância que passaram juntas por diferentes fases da vida e tiveram que se despedir precocemente sensibilizou muitas pessoas.

"Que amizade bacana. Carol foi feliz!", escreveu um rapaz.

"Eu sinto muito. Tenho certeza de que a Carol está muito orgulhosa de você", comentou outra pessoa.

O início da amizade

As amigas se conheceram quando Maysa tinha 4 anos e Carol, 3. Elas eram vizinhas em Valinhos, no interior de São Paulo.

Enquanto cresciam, compartilhavam segredos e descobertas. "Elas tinham uma amizade muito verdadeira, com carinho e respeito", diz a professora Ana Paula Sartorato, mãe de Carol.

As duas tinham uma relação de irmãs. "A gente tinha o mesmo jeito de ser e falar", diz Maysa.

Essa ligação foi fundamental em 2019, quando Carol foi diagnosticada com osteossarcoma na região do joelho.

O osteossarcoma é o tipo mais comum de câncer que se desenvolve nos ossos e é mais frequente na infância e adolescência. O tumor provoca dor no local e alterações ósseas, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Uma das principais queixas é o impacto que isso tem na forma de andar, porque a doença é mais comum nas pernas.

O principal sintoma que Carol teve e a levou a descobrir a doença foi uma dor forte e constante no joelho esquerdo. A princípio, ela e sua família pensaram que se tratava de uma consequência da fase de crescimento, porque a jovem tinha 16 anos na época.

Ela só procurou atendimento médico quando participou de um congresso e precisou caminhar muito, o que deixou seu joelho inchado. Em fevereiro de 2020, ela fez vários exames e recebeu o diagnóstico.

Maysa foi uma das primeiras pessoas para quem Carol contou sobre a doença. "Lembro que ela já tinha comentado sobre o joelho inchado e a dor, mas não imaginava que fosse câncer", diz Maysa.

"Ela me contou com naturalidade, mas fiquei muito preocupada." Carol estava otimista e confiante de que logo se recuperaria, e seus familiares e amigos acreditavam que ela logo se recuperaria.

Carol e Maysa
No tratamento contra o câncer, apoio de Maysa foi fundamental para a amiga - Arquivo pessoal

O tratamento contra a doença

Carol passou por sessões de quimioterapia e também fez uma cirurgia para a retirada de um pequeno pedaço do fêmur, onde o tumor estava localizado. Era o início da pandemia de Covid, e ela teve pouco contato com amigos nessa época.

"Ela sofreu muito com o tratamento, porque era uma quimioterapia muito agressiva. Perdeu muito peso e ficou muito fraca", diz Maysa.

"Desde o começo, sempre tentei tratar a Carol da mesma forma, ela não queria que fosse diferente ou que tivessem pena dela."

Maysa visitou Carol algumas vezes no início de tratamento. "Sempre ia com máscara, porque ela estava muito fraca, e ficava de longe. Largava as coisas da minha faculdade para ficar um pouco perto dela", diz.

A quimioterapia foi encerrada quando os médicos não encontraram mais sinais do tumor. "A gente acreditava que tinha dado tudo certo. O cabelo dela voltou a crescer, e ela estava muito feliz", diz Maysa.

Meses depois, Carol voltou a sentir dores, e os médicos encontraram novos sinais de câncer. "Ela estava com o mesmo tumor, na mesma perna, e começou um novo tratamento em agosto daquele ano", diz a mãe de Carol.

A jovem passou por um novo tipo de quimioterapia, com outros medicamentos, e a princípio respondeu bem ao tratamento. Mas precisou passar por transfusões de sangue para que pudesse continuar se tratando.

"Ela teve um problema na medula por causa desse tratamento, que era mais pesado, e recebeu sangue para ver se conseguia estar apta para continuar o tratamento", diz Ana Paula.

"Mas a medula não chegava ao ideal para o novo tratamento, e o tumor começou a crescer novamente."

A solução dos médicos foi amputar a perna esquerda de Carol. Mas exames apontaram que a doença havia se agravado e se espalhado mesmo assim.

Isso abalou a confiança de Carol no tratamento. "Toda vez que ela voltava do hospital, falava que as coisas não estavam dando certo. Ela já esperava o pior e falava: 'acho que vou morrer logo'", diz Maysa.

"Ela dizia: 'por que comigo?'. Ela sempre foi uma pessoa muito inocente, nunca fez mal para ninguém e ela não entendia o que tinha feito para merecer isso."

Apesar de todas as dificuldades, Maysa diz que ainda tentava manter as esperanças de que a amiga pudesse se recuperar.

Na última vez em que se viram, Carol estava muito fragilizada. "Ela me mandou mensagem me chamando para dormir na casa dela", diz Maysa.

"Passamos produtos para a pele porque a Carol gostava muito de se cuidar, assistimos a um filme e conversamos até cair a língua."

Na manhã seguinte, Maysa, que é estudante de odontologia, foi para a faculdade. Naquele dia, Carol começou a sentir fortes dores de cabeça e foi internada.

"Mandei mensagem pra ela: 'oi, amiga, te amo, me responde quando puder porque você vai ficar bem'. Ela nunca leu essa mensagem, porque ficou sedada no hospital", conta Maysa.

Carol morreu no dia seguinte, em 20 de outubro de 2021, aos 18 anos. "Eu entrei em negação um pouco após a morte dela, não aceitei, mas os dias foram passando", diz Maysa.

"Aos poucos, fui lidando com isso da melhor maneira que pude."

Maysa posa em frente a túmulo de Carol
Maysa durante visita a túmulo da amiga, em foto enviada para a mãe de Carol para confirmar que havia localizado o lugar em que a amiga havia sido enterrada - Arquivo pessoal

A homenagem no TikTok

No início de outubro, Maysa decidiu homenagear Carol com um vídeo no TikTok em que reuniu fotos de momentos importantes que viveram juntas.

Ela mostrou a alegria antes do diagnóstico de Carol e também os momentos após a descoberta do câncer, como o réveillon de 2020 para 2021 em que passaram só as duas e a mãe de Carol por causa da pandemia.

Outro momento foi o dia em que as duas ficaram bêbadas juntas. "A gente decidiu fazer isso no dia em que a Carol soube que iria precisar retomar o tratamento", diz Maysa.

"A gente sabia que naquele período ela não poderia mais beber."

A mãe de Carol se emocionou com o vídeo. "A Carol foi uma amiga muito especial com todas que a conheceram e conseguiram sentir a pureza e a verdadeira alma amiga que ela era", diz Ana Paula.

A enorme repercussão surpreendeu Maysa, que não esperava que a homenagem tivesse milhões de visualizações.

"Muitas pessoas acabaram se solidarizando com a nossa história", conta ela.

"Acho que a Carol ficaria muito feliz em saber que nosso vídeo foi assistido por tantas pessoas."

O texto foi publicado originalmente aqui.

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