Gravidez na adolescência está ligada a risco de morte precoce, aponta estudo

Pesquisa mostra que gestantes nessa faixa etária têm mais chances de morrer antes dos 31 anos

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Roni Caryn Rabin
The New York Times

A gravidez na adolescência aumenta as chances de uma jovem abandonar a escola e enfrentar a pobreza, mostram pesquisas. Adolescentes também têm mais chances de desenvolver complicações médicas graves durante a gravidez.

Agora, um grande estudo no Canadá relata outra descoberta perturbadora. Mulheres que engravidaram na adolescência têm mais chances de morrer antes de completar 31 anos. A tendência foi observada entre mulheres que levaram a gravidez na adolescência até o fim, assim como entre aquelas que tiveram um aborto espontâneo.

barriga de gestante
Adolescente grávida em São Paulo; novo estudo mostra que jovens que levaram a gravidez até o fim tiveram mais de duas vezes mais chances de sofrer morte prematura - Jardiel Carvalho - 20.jun.2018/Folhapress

"Quanto mais jovem a pessoa estava quando engravidou, maior era o risco de morte prematura", diz Joel G. Ray, especialista em medicina obstétrica e pesquisador de saúde pública no Hospital St. Michael, em Toronto, e primeiro autor do estudo. Ele foi publicado na Jama Network Open na quinta-feira (14).

"Algumas pessoas vão argumentar que não devemos julgar, mas acho que sempre soubemos intuitivamente que há uma idade que é muito jovem para a gravidez", acrescenta.

O estudo utilizou um registro de seguro de saúde provincial para analisar os resultados da gravidez entre cerca de 2,2 milhões de adolescentes em Ontário, Canadá, incluindo todas as meninas que tinham 12 anos entre abril de 1991 e março de 2021.

Mesmo depois que os pesquisadores consideraram os problemas de saúde pré-existentes que as meninas poderiam ter tido, e as disparidades de renda e educação, as adolescentes que levaram a gravidez até o fim tinham mais de duas vezes mais chances de sofrer morte prematura mais tarde na vida.

Os pesquisadores encontraram chances semelhantes entre mulheres que, na adolescência, tiveram gravidez ectópica, em que o óvulo fertilizado cresce fora do útero, ou gravidez que terminou em natimorto ou aborto espontâneo.

O perigo foi substancialmente menor entre mulheres que haviam interrompido uma gravidez na adolescência; no entanto, elas ainda tinham 40% mais chances de morrer prematuramente, em comparação com aquelas que não tinham engravidado.

Ray e seus colegas encontraram as maiores chances de morte prematura entre mulheres que engravidaram antes dos 16 anos e aquelas que engravidaram mais de uma vez na adolescência.

Lesões —tanto autoinfligidas quanto não intencionais, como agressões— causaram a maioria das mortes prematuras, encontrou a análise.

Mulheres que engravidaram na adolescência tinham mais que o dobro de chances de morrer jovens de uma lesão não intencional, em comparação com aquelas que não engravidaram na adolescência —e também tinham o dobro de chances de morrer de uma lesão autoinfligida.

Em um comentário que acompanha o artigo, Elizabeth L. Cook, cientista da Child Trends, uma organização de pesquisa focada em crianças e jovens, observou que a gravidez na adolescência pode não ser um fator causal na mortalidade prematura.

Em vez disso, pode ser uma variável indireta para uma série de outras influências, incluindo experiências adversas na infância, que aumentam as chances de uma morte precoce. Ela pediu mais pesquisas para entender essas causas.

Embora alguns adolescentes escolham engravidar, "a maioria das gravidezes na adolescência não são intencionais, o que expõe deficiências nos sistemas existentes para educar, orientar e apoiar os jovens", escreveu Cook. O estigma e o isolamento que muitas adolescentes grávidas enfrentam "podem tornar mais difícil prosperar na idade adulta", acrescentou. O novo estudo não é o primeiro a encontrar uma associação entre gravidez na adolescência e morte prematura, mas parece ser um dos maiores e mais robustos.

Um estudo finlandês relatado em 2017 descobriu que mulheres que tiveram uma gravidez na adolescência tinham mais chances de morrer prematuramente devido a suicídio, causas relacionadas ao álcool, doenças circulatórias e acidentes de carro. Esse estudo atribuiu o risco excessivo à baixa escolaridade.

Embora os riscos da gravidez geralmente aumentem com a idade, as adolescentes grávidas têm mais chances do que mulheres em seus 20 e 30 anos de desenvolver pressão alta relacionada à gravidez e uma condição potencialmente fatal chamada pré-eclâmpsia.

Elas têm mais chances de dar à luz prematuramente e de ter bebês pequenos ao nascer, e seus bebês frequentemente têm outros problemas de saúde graves e correm maior risco de morrer durante o primeiro ano de vida.

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