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SPFW mostra diversidade de corpos, etnias e idade nas passarelas

Marcas têm apostado em modelos que fogem do padrão europeu predominante em edições passadas do evento

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São Paulo

A falta de diversidade na moda é um problema enraizado, que oscila de acordo com a temporada. Na última semana, aconteceu a São Paulo Fashion Week, que apesar do novo formato, mais comercial, conseguiu jogar os holofotes, ainda que timidamente, nesta questão. O resgate por uma identidade mais brasileira é um dos ganchos desse olhar.

Nos últimos anos, a SPFW tornou-se mais comercial, com venda de ingressos para o público e coleções mais tradicionais, o prêt-à-porter (do francês, pronto para usar) em seu sentido mais literal. A edição 57 do evento levou esse conceito para outro patamar, com o Shopping J.K Iguatemi como sua sede, ainda que alguns desfiles tenham acontecido no Iguatemi São Paulo e em ambientes externos, na região central da cidade.

Três modelos, de diferente etnias, e corpos na SPFW
A SPFW N57 mostrou que a diversidade continua na moda - Gustavo Scatena/ @agfotosite

A Semana de Moda Paulistana se despediu do Parque Ibirapuera em 2022 para ocupar temporariamente o Komplexo Tempo, localizado na Mooca. Desde então, o evento tem enfrentado desafios para encontrar o tom adequado. A escolha do shopping como local provou ser acertada, pois atraiu um novo público. Com isso, é notável a atenção para evitar cancelamentos, mantendo o foco na diversidade, um tema que segue sendo destaque nas passarelas brasileiras.

Historicamente falando, a moda é dominada por uma perspectiva eurocêntrica, o que vem de fora continua fomentando novas tendências. No entanto, a valorização de diferentes regiões do Brasil mostra uma diferente forma de encarar o que é moda neste contexto, um reflexo disso é a passarela com diversidade étnica, racial, de corpos, LGBTQIA+ e PCD.

Esse recorte é segmentado a certas marcas, não é um consenso entre todas. AZ Marias, única grife gerida por uma mulher negra que desfilou na SPFW, e as marcas nordestinas Dendezeiro, Marina Bitu, Catarina Mina, Walério Araújo, Maurício Duarte costumam voltar o foco para um casting e público, minimamente, diverso.

"As pessoas visualizam marcas como a Dendezeiro que fala sobre diversidade não como um momento, mas como um pilar que você expressa a sua liberdade", afirma Hisan Silva, fundador da marca.

Silva e Pedro Batalha citam como isso está ligado à complexidade de manifestar livremente as próprias ideias sem que isso tenha impactos significativos em diversos aspectos da vida, especialmente ao considerar as referências e influências culturais, como aquelas relacionadas ao Nordeste.

Esse tipo de divergência, é encontrada no mundo da moda desde a década de 1960. No livro "The Fashion System" (O Sistema da Moda), de Roland Barthes, há uma reflexão sobre essa falta de diversidade, ainda que pouco aprofundada. O sistema de poder e hegemonia cultural acabam contribuindo para isso. Só quem está à margem disso é que consegue ter uma percepção melhor do que foge do, dito, padrão.

Desde de sua estreia na SPFW, a Dendezeiro cria praticamente um universo paralelo dentro de um circuito de moda comercial. Há um time de modelos majoritariamente negro e pardo, com pessoas trans e uma pluralidade de corpos lidos como fora do padrão dentro e fora da passarela.

No desfile de AZ Marias, que aconteceu no Teatro Oficina, em São Paulo, era nítido esse cuidado. "O foco da coleção é entregar essa diversidade que a moda tanto fala e nunca faz", disse Cíntia Felix, CEO de AZ Marias. Foi uma celebração de todos os corpos e pessoas não brancas.

Mudando a cena para Catarina Mina, uma das estilistas, Celina Hissa, citou a importância em vestir todas as mulheres, independentemente da idade, cor, etnia e identificação de gênero. "Além do propósito da moda, a gente puxa o propósito da igualdade de gênero, um mundo no qual a gente tem esses lugares de forma mais proporcional e igualitária", afirma Hissa.

Na passarela da Mina, vimos modelos mais velhas, altas, baixas, magras e plus size, assim como de diferentes etnias. "Quando fazemos moda, precisamos dar visibilidade para mulheres, vestimos todos os corpos", completa a designer.

Ainda que exista a presença de pessoas que se encaixem em uma realidade mais vida real, essas personas geralmente são atores, participantes de reality show ou cantores. Ainda é difícil ver, de fato, modelos que fujam do escopo eurocêntrico, mas é importante ver marcas se preocupando em criar um ambiente que busque abraçar a diversidade.

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