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Tudo o que você precisa saber para escolher seu DIU

Dispositivo está disponível nas versões de cobre, cobre e prata e hormonal; aplicação pode causar dor e exigir anestesia

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São Paulo

Seja para evitar a necessidade diária de tomar pílulas anticoncepcionais, para fugir dos hormônios esteroides ou para passar mais tempo sem se preocupar com a contracepção, mulheres têm optado pelo uso do DIU (dispositivo intrauterino) como método de prevenção à gravidez indesejada.

O dispositivo, que tem formato da letra T, é inserido no útero e tem duração de cinco a dez anos. Mas pode ter efeitos diferentes no corpo a depender do seu tipo —está disponível no Brasil nos formatos de cobre, cobre e prata, hormonal Mirena e hormonal Kyleena. Aqui está tudo o que você precisa saber para escolher o mais adequado ao seu corpo.

DIU
O DIU, dispositivo intrauterino, tem formato da letra T e pode ser feito de cobre, cobre e prata, hormonal Mirena e hormonal Kyleena - Unsplash

O QUE É O DIU

O objetivo principal dos DIUs é a anticoncepção, então eles são indicados para todas as mulheres que não querem ter filhos por enquanto, diz Ilza Monteiro, vice-presidente da Comissão Especializada em Anticoncepção da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

"Como são métodos de longa ação [LARC], são interessantes para mulheres que não pretendem engravidar nos próximos três ou cinco anos, estão espaçando o nascimento dos filhos, ou não querem engravidar mais, por exemplo, até a menopausa", afirma Monteiro.

O dispositivo também não interfere no funcionamento do ciclo menstrual. "O ovário funciona independente do método contraceptivo, são duas coisas que andam em paralelo, diferentemente das pílulas anticoncepcionais", diz Jorge Elias Neto, ginecologista do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

A mulher pode perceber inclusive um desconforto no período da ovulação, diz Monteiro, por isso nenhum tipo de DIU é indicado para tratamento da TPM (tensão pré-menstrual). Também não são indicados para mulheres com más-formações no útero ou no colo do útero.

Outros benefícios e contraindicações do uso, porém, dependem do tipo de DIU, que em geral são divididos em dois grupos: hormonais e não hormonais (de cobre).

DIUs de cobre e DIU de prata

Disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) desde 2017, o DIU de cobre é o tipo mais barato e de maior duração. "É um método extremamente interessante de ser usado, de muito baixo custo [entre R$ 100 e R$ 200] e com dez anos de duração", diz Elias Neto.

Ele funciona por ter uma alta concentração de cobre que deixa o espermatozoide estático ou com uma movimentação não adequada para chegar até os óvulos.

Normalmente, ele aumenta um pouco o sangramento nos primeiros seis meses de uso e depois tem uma tendência à normalidade, afirma Elias Neto. Algumas pacientes, entretanto, terão mais sangramento e cólicas mais intensas ao colocar o DIU de cobre, diz.

O DIU de prata e cobre tem o mesmo funcionamento contraceptivo que o formado apenas por cobre, mas a prata se soma ao elemento principal para tentar reduzir o processo inflamatório local, que provoca sangramento e cólica, afirma o médico da Fiocruz. Ele tem duração de cinco anos e custo entre R$ 300 e R$ 450.

Por causa dos efeitos colaterais, tanto o dispositivo de cobre quanto o de cobre com prata não são indicados para mulheres que têm endometriose, adenomiose, miomas e que fazem uso de medicações anticoagulantes, diz Elias Neto. Segundo ele, portadoras da doença Wilson (rara doença hereditária em que o fígado não excreta o excesso de cobre na bile) também não podem usar o DIU, além de ser contra-indicado a pacientes que fizeram cirurgia bariátrica, que têm tendência à anemia.

"A mulher que vai escolher um DIU não hormonal não pode ser uma mulher que sangra muito, porque senão ela está aumentando o risco de ter anemia, por exemplo", afirma Monteiro, que ressalta que o dispositivo de cobre não é indicado a mulheres anêmicas ou com tendência à condição.

DIUs hormonais

A substância presente nos DIUs hormonais se chama levonorgestrel, diferente do estrogênio que compõem as pílulas anticoncepcionais, explica o professor José Maria Soares, chefe do departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

"Tem DIU com dosagem mais alta [Mirena] e com dosagem mais baixa [Kyleena]. A mais alta faz com que você tenha o endométrio mais estável, e pode ser que você fique sem menstruar, mas tem efeitos colaterais", diz Soares.

O hormônio pode aumentar a acne, a queda de cabelo e causar mudança de peso nos primeiros meses —o que depois é estabilizado, afirma o médico da USP.

"Hoje é muito comum a paciente chegar no consultório e dizer simplesmente: ‘Não quero hormônio no meu corpo’. Mas eu explico que como o DIU é local, a quantidade de hormônio que passa para o sangue é totalmente desprezível, é tão pouco que não chega a dar uma média mensal. A quantidade do Mirena, que tem muito mais hormônio, é a quantidade de duas mini pílulas por mês", diz Elias Neto.

Monteiro explica que os dispositivos não têm associação com trombose, então não são contraindicados para mulheres que têm algumas comorbidades como hipertensão ou diabetes.

Tanto o Mirena como o Kyleena, diz a médica, promovem "um tampão" espesso no colo do útero, dificultando, às vezes até impedindo, a ascensão dos espermatozoides da vagina para dentro da cavidade uterina. Ambos os dispositivos duram cinco anos e seus preços são em torno de R$ 1.000.

"Os principais benefícios no caso dos DIUs hormonais são a redução de sangramento e cólicas. O que não quer dizer que quando uma mulher coloca um DIU hormonal, ela não vai menstruar mais. [Em alguns casos], a mulher pode ficar sem menstruar nada. Agora, o outro grupo que fica com redução de sangramento continua, às vezes, menstruando, não necessariamente todo mês, mas numa quantidade muito menor, o que passa a ser muito confortável", diz a ginecologista da Febrasgo.

Outro benefício é que o hormônio pode proteger o endométrio de doenças. "Mulheres que têm problemas ovulatórios, que ficam sem menstruar quando não estão tomando nenhum tipo de hormônio, podem ter alguma alteração ovulatória. Elas têm mais risco de o endométrio, que é a camada menstrual, adoecer. Então esse DIU consegue protegê-lo", afirma Monteiro.

Elias Neto afirma que há contraindicações para mulheres com câncer de mama e sangramento uterino não diagnosticado.

Apesar de não serem nacionalmente oferecidos pelo SUS, Soares afirma que algumas prefeituras disponibilizam os DIUs hormonais em seus postos de saúde.

Dói para colocar o DIU?

Todos os tipos de dispositivos são recomendados para aplicação ambulatorial, ou seja, fora do hospital, diz a médica ginecologista Cristina Anton, do Hospital das Clínicas da USP. Por causa da maior sensibilidade à dor de algumas mulheres, no entanto, muitas vezes é recomendável fazer o procedimento com anestesia, o que depende de uma sala de cirurgia em hospital. "O grau de dor é variável de paciente para paciente", afirma.

Segundo a ginecologista, todas as pacientes podem pedir para inserir o DIU com anestesia. "Mas exige que você pague pelo plano de saúde ou particular, e fica mais cara a colocação do dispositivo."

O plano de saúde cobre a aplicação de DIU para fins de contracepção. Em hospitais particulares, a mulher geralmente precisa comprar o DIU oferecido pelo próprio centro médico, além de pagar o procedimento. É uma questão de segurança, diz Anton, porque o hospital tem que responder por qualquer dispositivo que é colocado dentro do paciente.

No SUS, o DIU de cobre geralmente é inserido sem anestesia ou com anestesia local, afirma. O hormonal, que possui um tubo um pouco maior, porém, costuma precisar de anestesia local.

É possível, porém, perceber antes se a paciente precisará de anestesia para o procedimento. "É necessário medir o útero para colocar o dispositivo. Então se o histerômetro [medidor] não passar pelo colo do útero ou enfrentar dificuldade, é melhor usar anestesia", explica Anton.

Para a médica, não há argumentos válidos para não usar anestesia no procedimento caso a paciente precise e tiver condições de recebê-la.

"Tem médicos que acham que o paciente precisa ficar sentindo a dor para saber se há perfuração uterina, por exemplo. Não faz sentido, senão você não poderia fazer a curetagem uterina, uma vez que o paciente está anestesiado", afirma a médica, que reforça que é possível checar se o DIU está bem posicionado por meio de um ultrassom, sem ser necessário medir isso pela dor.

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