Contra sorriso metálico, aparelhos transparentes atraem adultos, mas a alto custo

Eficácia de alinhador depende de adesão do paciente; nos EUA, startup dispensa dentista e envia aparelho pelo correio

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São Paulo

A transparência está em alta para todas as idades —pelo menos nos consultórios de dentistas. Se antes quem precisava de aparelho ortodôntico tinha que se acostumar com um sorriso metálico, hoje a opção dos chamados alinhadores transparentes só cresce no mercado.

A ideia é a mesma: um aparelho modifica a posição dos dentes para corrigi-los. 

Mas, para a colocação dos alinhadores, são feitos modelos digitais da dentição do paciente. A partir daí, com a ajuda de softwares, os dentistas conseguem determinar quais movimentações na arcada são necessárias.

Depois, calcula-se quantos alinhadores serão necessários durante o tratamento —o paciente precisa trocar as placas aproximadamente a cada uma ou duas semanas.

“Os alinhadores transparentes permitem que o paciente se alimente e fique sem resíduos no aparelho, já que são removíveis”, diz Ricardo Horliana, presidente da câmara técnica de ortodontia do Crosp (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo). 

O preço da discrição e da facilidade de higienizar bem os dentes pode chegar ao dobro do valor de um aparelho normal —pouco mais de R$ 10 mil para o tratamento completo. 

A Invisalign, da Align Technology Inc., uma das principais empresas a fabricar o alinhador, diz que o custo é similar ao de um aparelho fixo, mas que “no Brasil os ortodontistas determinam o preço”.

Há  outras empresas no Brasil disputando o mercado, como a Smart Aligner e a CA Clear Aligner, entre outros.

O cirurgião-dentista Rodrigo Bueno de Moraes diz que hoje a ortodontia vai dos 8 aos 80 anos. “Tenho pacientes com maloclusão [alinhamento errado dos dentes] na terceira idade e eles têm procurado esse recurso.”

Segundo dentistas ouvidos pela reportagem, são os adultos, inclusive, que mais procuram alinhadores, principalmente pela questão estética. 

“Adultos e adolescentes são tomados por vergonha. Eles acham que o sorriso metálico infantiliza”, diz Moraes. 

Mas um dos poréns dos alinhadores é justamente a possibilidade de poder tirá-lo. Especialistas dizem que, para ter o efeito desejado de reposicionamento dos dentes, deve-se usar o alinhador por longos períodos de tempo  —mais de 20 horas por dia.

“Esses aparelhos não fazem milagre. Funcionam como um aparelho móvel: se você não tiver disciplina para usar, o tratamento não evolui”, diz a ortodontista Ana Cristina de Sá Pedro.

Quando adolescente, Ronald Freire, 57, vivia esquecendo seu aparelho móvel. Hoje, o médico não tira o alinhador nem para dar aulas. “O grande segredo é a aderência ao tratamento. Pela minha experiência, em crianças e adolescentes o aparelho vai estar mais fora da boca do que nela.” 

Ronald voltou a usar aparelho por questões estéticas e optou por alinhadores transparentes pela mesma razão. Outro fator foi o conforto. “Tentei usar o móvel, mas parecia o Pato Donald falando.”

Há casos em que os especialistas ainda preferem utilizar os tradicionais aparelhos fixos, como na correção do queixo projetado para frente ou de mordida cruzada. Em outras situações, também pode haver, inicialmente, o uso do aparelho tradicional e, depois, do alinhador. Cabe ao ortodontista a indicação.

Sobre um ponto os especialistas concordam: o uso de alinhadores em crianças que ainda tenham dentição de leite não é recomendado.

A Invisalign, porém, já começa a visar o público entre 6 e 10 anos e lançou um produto destinado a essa faixa etária, o Invisalign First, em janeiro deste ano no Brasil. 

A empresa afirma que a América Latina é a região do mundo com o maior crescimento de ortodontistas treinados para usar o método. Em 2017, o aumento foi de 110%.

Nos EUA, o tratamento com os alinhadores tem dado dor de cabeça aos dentistas

A startup SmileDirectClub —com valor de mercado de US$ 3,2 bilhões (R$ 12 bilhões) e da qual a Align detém 19% de participação, segundo a Bloomberg— tirou os ortodontistas da equação e envia os alinhadores por correio, o que barateia o tratamento

No ano passado, os kits com moldes da SmileDirectClub começaram a ser vendidos em lojas de departamento, como Macy’s. Segundo a Forbes, neste ano, as redes de drogarias Walgreens e CVS também começaram a abrir quiosques com os produtos da startup.

Como reação, a Associação Americana de Ortodontistas acusou a empresa de violações regulatórias e de trazer risco aos pacientes de problemas dentários associados à falta de supervisão.

A AAO também mantém online uma página para consumidores que estejam pensando nessa modalidade de atendimento, na qual fala sobre os riscos da prática e diz que “criar um saudável e belo sorriso vai além de mover porções visíveis dos dentes”.

De acordo com reportagem da Bloomberg, a própria Invisalign, em 2015, protocolou um processo contra a startup por infração de patente e por conta do “faça-você-mesmo”. Um acordo pelo fim do processo acabou levando à participação da Align na companhia.

No Brasil, os riscos de cenários semelhantes são menores por causa do rigor regulatório, avalia Horliana, do Crosp. 

A Invisalign diz que “os ortodontistas sempre foram a parte central do tratamento. Nós acreditamos que a prescrição de um ortodontista, baseada em um exame ao vivo com o paciente continua sendo a única forma de oferecer um tratamento ortodôntico”.

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