Com impressora 3D, startup faz aparelho ortodôntico sem paciente ir ao dentista

Pacientes recebem os aparelhos em casa; ortodontistas criticam

Janine Wolf
Nova York | Bloomberg

Nunca foi tão fácil corrigir os dentes. E os ortodontistas veem um grande problema nisso.

Se os aparelhos ortodônticos instalados no consultório de um dentista antes eram a única maneira de corrigir dentes desalinhados, um novo método que usa alinhadores transparentes removíveis é capaz de evitar a visita ao ortodontista e poupar milhares de dólares dos pacientes. Foi isso que levou Deniece Hudson, que sempre sonhou em endireitar os dentes, a uma startup chamada SmileDirectClub.

Deniece, 24, formada pela Universidade do Sul da Geórgia, visitou um dos escritórios de vendas da empresa, em uma rua comercial de Atlanta, em fevereiro, para tirar o molde dos seus dentes. Essa experiência seria sua única interação pessoal com um profissional da área durante uma jornada de nove meses pelo crescente campo da teleortodontia.

A partir das digitalizações, o SmileDirectClub usou impressoras 3D para criar 24 bandejas alinhadoras de plástico transparente, que foram entregues pelo correio com instruções a respeito de quando trocar de bandeja. Os dentistas monitoraram o progresso dela observando as selfies que ela enviava pela internet. A única coisa que ela sabia sobre os dentistas que a trataram era o sobrenome deles.

“Confiei que a empresa não me ofereceria alguém que não soubesse o que estava fazendo”, disse Deniece.

O programa custou US$ 2.170, contra de US$ 5.000 a US$ 8.000 cobrados por um ortodontista tradicional usando o sistema Invisalign, líder do setor, criado pela Align Technology. Faltando um mês de programa, Hudson afirma estar satisfeita com os resultados.

“Eu costumava ficar tão nervosa, mas agora estou sempre sorrindo”, disse.

Hudson pode estar sorrindo, mas um número crescente de ortodontistas pensa diferente. Eles estão alertando os consumidores a respeito dos possíveis perigos de se submeter a um procedimento médico complexo sem a supervisão presencial de um profissional da odontologia.

A principal associação de ortodontistas dos EUA apresentou queixas contra a SmileDirectClub em 36 conselhos dentários estaduais e procuradorias-gerais alegando violações regulatórias e estatutárias.

“Não acho que seja possível fazer um diagnóstico com três cliques”, disse Hera Kim-Berman, professora assistente clínica do departamento de Ortodontia e Odontopediatria e diretora do programa de treinamento de pós-graduação em Ortodontia da Universidade do Michigan. “Essas empresas os tratam como consumidores, como clientes, e essa é, de fato, a principal diferença.”

Cerca de 300 milhões de pessoas em todo o mundo com desalinhamento dentário poderiam se beneficiar da correção dos dentes, mas é improvável que busquem tratamento por meio de um consultório tradicional de odontologia, segundo comunicado ao mercado de fevereiro da Align. O mercado global de ortodontia, que inclui os aparelhos tradicionais, deverá crescer de US$ 1,5 bilhão em 2016 para US$ 2,6 bilhões até 2023, segundo a Allied Market Research.

A SmileDirectClub, que tem capital fechado, é a mais destacada de uma série crescente de startups que buscam capturar esse mercado. Desde o lançamento, em 2014, a empresa afirma ter tratado mais de 250.000 pacientes com alinhadores personalizados. A empresa preferiu não divulgar os números de vendas.

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