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Ameaça de contaminação pelo coronavírus deixa os cemitérios de SP vazios

Prefeitura inclui no decreto de situação de emergência novas regras para as cerimônias e os cemitérios

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São Paulo

A ameaça de contaminação pelo coronavírus e a dispensa de velórios por parte das famílias que perderam entes queridos alterou o perfil de mensagens das redes sociais nos últimos dias.

Postagens políticas sobre o coronavírus e demais assuntos da atualidade passaram a dividir espaço com os avisos de morte e as condolências.

Algumas pessoas chegaram a disponibilizar emails exclusivos para envio das mensagens e dos cumprimentos.

O clima de compaixão virtual contrasta com a vida real na hora do luto. O medo do coronavírus deixou os cemitérios públicos e particulares de São Paulo praticamente vazios.

A Folha percorreu alguns cemitérios particulares, como o Grupo Funeral Tatuapé (zona leste) e Gethsêmani, no Morumbi (zona sul), e públicos da capital paulista —Lapa e Araçá (zona oeste), Vila Nova Cachoeirinha (zona norte) e Vila Formosa (zona leste).

Movimentação nos cemitérios da capital paulista após o coronavírus. Na imagem, o cemitério do Araçá, na zona oeste
Movimentação nos cemitérios da capital paulista após o coronavírus. Na imagem, o cemitério do Araçá, na zona oeste - Zanone Fraissat - 19.mar.2020/Folhapress

Durante a visita, a reportagem encontrou apenas uma sala de velório ocupada na Vila Nova Cachoeirinha e três na Vila Formosa. Em todas havia menos de dez pessoas. Os demais cemitérios estavam vazios.

No Grupo Funeral Tatuapé, um funcionário afirmou que as famílias optaram por reduzir o horário das cerimônias para evitar a transmissão do coronavírus.

Para Arthur H. Danila, psiquiatra membro titular da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), do American College of Lifestyle Medicine, da Comissão Nacional de Residência Médica da ABP e médico do corpo clínico de psiquiatria dos hospitais Albert Einstein, Sírio Libanês, Samaritano e Santa Paula, o momento exige uma nova liturgia na relação com a morte. “A forma de lidar com a morte terá que ser alterada, o que traz efeitos emocionais”, diz.

É recomendável adotar nova postura em relação ao ente querido morto. “Resgate os bons momentos que foram vivenciados em vida. É a troca do velamento do corpo morto pelas lembranças. O luto é complexo, mas humano. A morte nos instrui. Estamos vivenciando uma época que está fora da esfera de nossa governabilidade”, afirma Danila.

Mesmo com o movimento baixo, a Prefeitura de São Paulo fez recomendações e criou uma normatização para evitar aglomerações nos cemitérios públicos e particulares da cidade por causa do coronavírus.

O anúncio das regras que integraram o decreto de situação de emergência na capital paulista (nº 59.283) foi feito no dia 16 de março.

Pelas novas normas, os atendimentos presenciais nas administrações dos cemitérios acontecem das 10h às 15h.

Os velórios não poderão ter mais de uma hora de duração, com limite de dez pessoas dentro das salas.

No crematório da Vila Alpina (Dr. Jayme Augusto Lopes), as cerimônias de despedida foram suspensas por tempo indeterminado. O mesmo aconteceu com as visitas guiadas, técnicas e acadêmicas, que acontecem nas necrópoles municipais.

Apesar de não ter penalidade para o descumprimento das normas, a prefeitura determinou que a fiscalização das salas de velório cabe aos fiscais do serviço funerário com auxílio da GCM (Guarda Civil Metropolitana).

Mesmo após o anúncio feito pelo prefeito Bruno Covas, em nenhum cemitério visitado pela reportagem havia álcool gel disponível para a população. A unidade de Vila Nova Cachoeirinha também não tinha papel higiênico, sabonete nem papel-toalha nos banheiros.

Salas de velório vazias no cemitério do Araçá, na zona oeste da cidade
Salas de velório vazias no cemitério do Araçá, na zona oeste da cidade - Zanone Fraissat - 19.mar.2020/Folhapress

Nos serviços privados, a Folha encontrou um cenário diferente: álcool gel e banheiros adequados.

Além disso, os locais não disponibilizaram informação visível sobre as novas regras, exceto no Vila Formosa onde foi improvisado um informe em sulfite colado em todas as salas.

Embora seja apenas uma recomendação a exigência de álcool gel nas salas de velório, a prefeitura disse à Folha que, como a procura está grande, a princípio foi disponibilizada a quantia para atender aos servidores que trabalham nas administrações e velórios.

Segundo o órgão, uma nova do remessa do produto está com previsão de chegada para esta semana.

Além disso, a limpeza e reposição de materiais de limpeza, sabonetes e toalhas foram intensificadas.

A prefeitura disse também que um problema técnico causou o atraso na confecção do material informativo a respeito de normas e prevenção contra o Covid-19, mas o envio aos cemitérios municipais, crematório e agências funerárias ocorreu na tarde de sexta-feira (20).

Sobre a vigilância, o órgão explicou que a GCM realiza a segurança dos cemitérios municipais por meio de rondas nos três períodos do dia, com viaturas e motocicletas.

Em Ribeirão Preto (313 km de SP), a prefeitura também restringiu o número de pessoas nas salas de velórios até dez. Além disso, o funcionamento será das 7h às 19h.

Para o combate ao coronavírus também é necessário que a população faça a sua parte. O biomédico Roberto Martins Figueiredo, conhecido como dr. Bactéria, deu algumas orientações para quem participará de velórios e enterros.

“Suponhamos que a pessoa morreu por causa de uma doença infecciosa. O corpo exposto no velório ainda mantém os vermes patogênicos e as bactérias. Não existe processo de desinfecção perfeito”, alerta dr. Bactéria.

São recomendações importantes evitar bebidas e lanches rápidos nos cemitérios, devido à quantidade de bactérias presentes nestes locais, e eliminar os cumprimentos. “Lembre-se de que há um trio proibido hoje em dia: beijo, abraço e aperto de mão.”

Na volta para a casa, leve os sapatos ao tanque, pegue um desinfetante caseiro puro e esfregue as solas com escova. Deixe-os num local ventilado e fora do sol por um dia. Dentro deles coloque uma colher de chá de bicarbonato de sódio. Tira o odor e ajuda a ressecar.

Tenha também na porta da entrada um capacho. O de vinil é melhor por ser lavável. Uma vez por noite, pulverize-o com uma solução feita com duas colheres de sopa de água sanitária por um litro de água. "É a fórmula mágica. Também dá para limpar o chão, azulejo, peças sanitárias, metais", orienta.

"Já foram feitas pesquisas que o vírus inviabiliza em um minuto em contato com o cloro e o álcool, mas não indico o álcool pelo perigo de incêndio", completa.

Em relação à roupa usada no velório, lave-a com desinfetante caseiro puro, tome um banho e nunca esqueça o álcool gel nas mãos”, completa.

Situação de emergência em São Paulo (decreto nº 59.283)

Nos cemitérios municipais

Atendimentos presenciais nas administrações dos cemitérios
10h às 15h

Velórios
Devem durar 1 hora
Só será permitida a presença de dez pessoas por vez (vale para enterros também)

Recomendações
Cemitérios devem disponibilizar álcool gel a funcionários e munícipes
Banheiros devem ter sabonete e papel toalha

Canceladas por tempo indeterminado
Cerimônias de despedida no crematório da Vila Alpina (Dr. Jayme Augusto Lopes)
Visitas guiadas, técnicas e acadêmicas, que acontecem nas necrópoles municipais

Fiscalização
A cargo dos fiscais do serviço funerário e GCM (Guarda Civil Metropolitana)

Quem for a velórios e enterros deve seguir algumas orientações
Evitar bebidas e lanches rápidos nos cemitérios
Eliminar os cumprimentos (beijo, abraço e aperto de mão)
Não tocar no corpo velado

Na volta para a casa
Com uma escova, esfregue as solas dos sapatos com desinfetante caseiro puro
Deixe-os num local ventilado e fora do sol por um dia
Coloque uma colher de chá de bicarbonato de sódio dentro dos sapatos
Lave a roupa usada no velório com desinfetante caseiro puro
Tome um banho
Nunca esqueça o álcool gel nas mãos

Fontes: Prefeitura de São Paulo e o biomédico Roberto Martins Figueiredo, conhecido como dr. Bactéria

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