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Bispo do interior de SP cria oração para ajudar fiéis a enfrentarem pandemia de coronavírus

Dom Milton Kenan Júnior, de Barretos, tomou iniciativa no mesmo dia que papa Francisco fez uma saída não programada do Vaticano para rezar pelo fim da pandemia e pelos doentes

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Ribeirão Preto

O veto aos tradicionais mutirões de confissões na Páscoa e uma oração escrita por um bispo são as novas iniciativas da Igreja Católica no interior de São Paulo para enfrentar a pandemia do novo coronavírus.

O bispo diocesano de Barretos (a 423 km de São Paulo), dom Milton Kenan Júnior, apresentou neste domingo (15) uma oração em razão da pandemia da doença, que avançou de 121 para 200 casos confirmados no país.

“Diante das epidemias, fruto do nosso descaso e da nossa ambição, que atingem toda humanidade e atingem implacavelmente os mais fracos, nós clamamos: Senhor, piedade!”, diz trecho da prece, intitulada “Oração em tempos de epidemias”.

Segundo a assessoria de comunicação da diocese, que abrange 13 municípios de São Paulo, a oração foi escrita em razão da pandemia e “também de outros males e pecados que todos nós cometemos”.

Dom Milton, 56, é o sexto bispo diocesano de Barretos, posto que ocupa desde dezembro de 2014. “Na ganância desenfreada, na busca do lucro a todo custo, na corrupção que corrói nossas instituições, nos escândalos daqueles que se enriquecem às custas da fé simples do vosso povo e dos que, sob o manto da piedade, abusam dos mais pequeninos e vulneráveis, profanamos a vossa casa e jogamos as pérolas que confiastes aos vossos ministros na lama mais depravadora”, afirma outro trecho da oração.

A oração foi apresentada no mesmo dia em que o coronavírus alterou a rotina do papa Francisco, que fez uma saída não programada do Vaticano para rezar pelo fim da pandemia e pelos doentes. A pé, ele foi à basílica de Santa Maria Maggiore e caminhou pela Via Corso, uma das ruas mais movimentadas de Roma, atualmente vazia.

A medida do bispo de Barretos é mais uma que se soma a outras iniciativas anunciadas pela Igreja Católica desde o surgimento do coronavírus no país. Em Limeira, o bispo dom José Roberto Fortes Palau decidiu publicar comunicado, também neste domingo (15), em que suspende os mutirões de confissão para a Páscoa —que será celebrada em 12 de abril— para evitar aglomerações nas próximas semanas.

O Vaticano afirmou que nesta semana as celebrações da Semana Santa e da Páscoa ocorrerão sem a participação do público, decisão sem precedentes nos tempos modernos.

“Cada paróquia procure organizar, ao longo das próximas semanas, horários especiais para atender a confissão de nossos fiéis, que se preparam para bem celebrar a Páscoa do Senhor. Contudo, sempre evitando o grande agrupamento de pessoas”, diz o comunicado assinado pelo bispo, responsável por 16 cidades.

A diocese também orientou idosos e pessoas que fazem parte de grupos de risco a acompanhar as celebrações das missas em casa —por rádio e TV, onde houver— até que a pandemia seja superada. Antes, quando o primeiro caso de coronavírus foi confirmado no país, igrejas já tinham alterado o ritual litúrgico das missas com o objetivo de evitar uma possível contaminação pela doença.

As recomendações, em vigor, são as de que os fiéis não deem mais as mãos durante a oração do Pai-Nosso, a suspensão do abraço da paz e a entrega de hóstias aos frequentadores das missas só em suas mãos, não mais nas bocas.

A avaliação de religiosos é de que as alterações não reduzem a validade ou sentido das celebrações e que o abraço da paz deve ser substituído pelo fortalecimento dos sentimentos de bem-querer ao próximo.

Leia, abaixo, a oração na íntegra escrita pelo bispo de Barretos:

Oração em tempos de epidemias

“Pecamos contra Vós, Senhor, pois desprezamos os vossos mandamentos. Deixamos de ouvir os vossos profetas e não escutamos a voz do vosso Filho que nos fala pelos seus enviados.

Na ganância desenfreada, na busca do lucro a todo custo, na corrupção que corrói nossas instituições, nos escândalos daqueles que se enriquecem às custas da fé simples do vosso povo e dos que, sob o manto da piedade, abusam dos mais pequeninos e vulneráveis, profanamos a vossa casa e jogamos as pérolas que confiastes aos vossos ministros na lama mais depravadora.

Convertei-nos, Senhor do universo, pois profanamos a Criação: poluímos a água, a terra e o ar. A Criação pede socorro e ficamos surdos ao seu clamor. Condenamos o planeta que criastes para ser um jardim para nós num caos pela devastação das suas riquezas e pela exploração desmedida dos seus recursos, movidos unicamente pela busca desenfreada do lucro.

Vede Senhor que, após milênios da presença do vosso Filho entre nós, ainda ficamos surdos ao seu apelo em favor dos mais pobres e pequeninos condenados a viverem da sobra, entregues à toda forma de violência, e abandonados à própria sorte.

São populações inteiras que vivem em condições miseráveis, insalubres, sem nenhuma assistência e, quando há, em condições extremamente precárias. São populações inteiras, hoje, vítimas da guerra e do terrorismo que se arrastam por dezenas de anos onde famílias são destruídas e crianças indefesas assassinadas.

Convertei-nos, Senhor, pois de outra forma as consequências serão sempre mais dolorosas. Diante das epidemias, fruto do nosso descaso e da nossa ambição, que atingem toda humanidade e atingem implacavelmente os mais fracos, nós clamamos: Senhor, piedade!

Vós nos quereis fazer compreender que quando deixamos de cuidar da mãe terra e dos mais frágeis colocamos em risco toda a humanidade. Quando não protegemos a vida dos mais pequeninos, daqueles que ainda estão no seio de suas mães, como daqueles que estão no fim de suas existências, colocamos em risco a vida de todos os homens e mulheres, filhos e filhas vossos, nossos irmãos e irmãs.

Convertei-nos, Senhor Deus do universo, nosso Pai e Salvador! Que o momento que vivemos, que nos obriga a cuidar de nós mesmos, não nos leve a descuidar da vida dos mais necessitados de cuidado e proteção, nem da Criação que geme com dores de parto esperando a manifestação dos filhos de Deus.

Fazei, Senhor, que nossa oração alcance o Vosso Coração, mas sobretudo, toque o coração daqueles que têm os destinos da humanidade em suas mãos, para que deponham as armas e compreendam que o bem-estar de todos é a única garantia que temos para vencer o mal que nos cerca e nos oprime. Amém!”

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