Dados parciais sobre antiviral remdesivir fazem ações de farmacêutica americana subir

Pesquisadores e a própria empresa afirmam, porém, que ainda é cedo para dizer se o medicamento é eficaz

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Bangalore (Índia) e Los Angeles | Reuters

Dados parciais de um grande estudo que busca averiguar a ação do antiviral remdesivir em pacientes com Covid-19 fizeram as ações da Gilead Sciences disparar nas negociações 'after market' na quinta-feira (16).

Os próprios autores da pesquisa e a empresa, porém, afirmam que ainda é muito cedo para dizer se a droga funciona contra o novo coronavírus.

Os dados são da Universidade de Chicago, um dos 152 locais que participam do experimento da Gilead envolvendo pacientes com quadros graves de Covid-19. Segundo o site de notícias médicas Stat, o hospital da universidade está observando melhora rápida da febre e outros sintomas.

Ao todo, 113 pacientes receberam a droga. A maior parte recebeu alta em menos de uma semana, segundo o site Stat. Dois pacientes morreram.

O estudo tem um "braço único" e não segue o chamado padrão ouro, ou seja, não compara um grupo que toma o medicamento com outro grupo correspondente de pacientes que recebem, sem saber, placebo.

A instituição disse que as informações são de um fórum interno para colegas de pesquisa sobre trabalhos em andamento e que foram divulgadas sem autorização.

O fármaco foi testado sem grupo controle, ou seja, não houve comparação dos resultados entre pessoas que receberam a droga e as que receberam o placebo
O fármaco foi testado sem grupo controle, ou seja, não houve comparação dos resultados entre pessoas que receberam a droga e as que receberam o placebo - Olivier Douliery/AFP

Em comunicado, a Gilead foi cautelosa e disse que "a totalidade dos dados ainda precisa ser analisada para que se possa tirar conclusões sobre o teste".

O Centro Médico da Universidade de Chicago também disse que "dados parciais de um estudo clínico em andamento são, por definição, incompletos, e que nunca devem ser usados como conclusivos".

A Gilead disse que os resultados do seu estudo de fase 3 (a última antes do lançamento de um medicamento) em pacientes com coronavírus devem estar disponíveis no fim de abril, e espera que dados adicionais de outros estudos sejam disponibilizados em maio.

Os "dados anedóticos [estudo de caso] parecem promissores à superfície e oferecem potencial para que o medicamento seja ativo em certos pacientes com a Covid-19", disse Brian Abrahams, analista da RBC Capital Markets, em uma nota de pesquisa. "No entanto, existem grandes limitações para contextualizar e interpretar esses dados."

O interesse no medicamento da Gilead em meio à pandemia de coronavírus é alto. A revista científica New England Journal of Medicine publicou na semana passada uma análise mostrando que dois terços de um pequeno grupo de pacientes com coronavírus gravemente doentes apresentaram melhora do quadro clínico após o tratamento com remdesivir.

O autor do artigo chamou as descobertas de "esperançosas", mas alertou que é difícil interpretar os resultados, pois eles não incluem comparação com um grupo de controle, o número de pacientes era pequeno, os detalhes divulgados eram limitados e o tempo de acompanhamento dos pacientes era relativamente curto.

O Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA iniciou em fevereiro um estudo com 800 pacientes, administrando aleatoriamente em pacientes o remdesivir ou placebo. Os resultados ainda devem demorar para sair e não são esperados antes das conclusões dos testes realizados pela Gilead.

Não há, até o momento, tratamentos aprovados e com eficácia comprovada pela literatura médica para a Covid-19.

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