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Leitor recomenda 'Os Sertões', que mostra raízes do exército brasileiro

Folha convida leitores a enviar recomendações de atividades na quarentena

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Ao longo de três meses, colunistas e blogueiros deram sugestões para o período de quarentena, como livros, filmes e séries.

Agora convidamos vocês, leitoras e leitores, a enviar suas recomendações para enviesuanoticia@grupofolha.com.br.

Informe nome, profissão e cidade onde mora. As melhores dicas serão selecionadas para publicação. Veja aqui as dicas já publicadas.

Luiz Augusto Loredo, veterinário em Londrina (PR)

Para Ler

Os Sertões
Euclides da Cunha, ed. Penguin, 544 páginas, R$ 45,87
ed. Ubu, 750 páginas, R$ 78,48

Soldados enfileirados em meio ao sertão
O 12º Batalhão de Infantaria na trincheira em de Canudos, no sertão da Bahia, palco dos conflitos sangrentos entre os seguidores de Antônio Conselheiro e as tropas do Exército. As fotos de Flávio de Barros foram as únicas feitas durante o conflito narrado em "Os Sertões", de Euclides da Cunha - Flávio de Barros/Museu da República

Leitura densa, texto pesado, assunto espinhoso. Mas temos tempo...

A obra revela que o exército brasileiro promoveu na Guerra de Canudos um verdadeiro Holocausto "avant la lettre". As cenas finais do arraial repleto de cadáveres em decomposição são assustadoras. O cortejo de prisioneiros é arrepiante: velhos e mulheres famintos, crianças agarradas a peitos murchos, uma menina com os ossos da face expostos por um ferimento aberto.

O autor reveste a questão do racismo com um cientificismo hoje absurdo, mas essa abordagem serve como alerta atualíssimo para as discussões sobre movimentos baseados em supostas supremacias raciais.

Além disso, a leitura esboça um quadro sugestivo das raízes do exército brasileiro republicano e das origens de um modus operandi que parece presente entre as forças armadas até hoje.

Por isso, o livro vale a pena. As reflexões que a leitura provoca ajudam a entender por que o Brasil tem trilhado caminhos cada vez mais difíceis: o crescente populismo na política, o avanço do pentecostalismo, a relevância dos militares. E, ao final, resta um sinal para que a sociedade e as instituições estejam sempre articuladas e preparadas para agir e saber evitar situações extremas e dolorosas com a Guerra de Canudos.

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