Nove em cada dez brasileiros dizem usar máscaras sempre que estão fora de casa, mas só metade da população diz ver as outras pessoas usando sempre a proteção facial, aponta pesquisa Datafolha.
O autodeclarado uso de máscara sempre é majoritário e praticamente não varia além da margem de erro entre regiões do país, sexo, idade, cor da pele ou classe social —os menores índices ocorrem entre quem tem entre 16 e 24 anos, mas ainda assim são altos: 87% dizem cobrir o rosto quando estão fora de casa.
O uso de máscara em espaços públicos é lei federal no país desde julho, mas já vinha sendo imposto por governadores e prefeitos desde que a OMS (Organização Mundial da Saúde) o incluiu em seus protocolos, em junho.
A proteção facial é tida por especialistas como uma das principais maneiras de controlar a disseminação da Covid-19 porque evita que gotículas de saliva de pessoas contaminadas se espalhem pelo ar. Além disso, pesquisas recentes apontam que a gravidade da doença pode estar relacionada com a quantidade de vírus a que as pessoas são expostas. Assim, se uma pessoa saudável for exposta ao vírus, a máscara pode funcionar como uma barreira que reduz a carga viral e faz com que os sintomas sejam mais leves.
O alto índice do uso de máscaras coincide com uma queda no número de pessoas que dizem não ter medo de se infectar pelo coronavírus. Em agosto, 18% disseram não ter medo da Covid-19. O maior índice havia sido em março, quando 26% da população dizia não temer o vírus.
Mas se todos usam máscara, por que nem todo mundo vê outras pessoas se comportando da mesma forma?
A psicóloga Vera Iaconelli, colunista da Folha, levanta duas hipóteses. "Pode haver um número grande de pessoas que têm vergonha de assumir que não usam máscaras, mas acham que deveriam, e criam um personagem ao responder à pesquisa. A pessoa se constrange, porque isso é uma infração, para a qual há multa", diz ela. "Um exemplo clássico é o racismo no Brasil: ninguém é racista, mas todo mundo conhece um racista. A máscara você não consegue disfarçar, como o racismo, então você mente para não acusar o próprio crime."
"Por outro lado, causa um incômodo tão grande ver que algumas pessoas não estão usando, que chama muita atenção", completa ela. Ou seja, o efeito negativo de ver uma pessoa sem máscara pode alterar a percepção e fazer parecer que há mais gente que não usa a proteção facial.
A pesquisa mostra também que a parcela da população brasileira que diz que vai rejeitar uma possível vacina contra a Covid-19 (9% dos brasileiros, segundo pesquisa divulgada no domingo) é a mais resistente ao uso de máscaras. Deles, 33% dizem não usar o protetor facial, o que dá 3% dos entrevistados.
O Datafolha ouviu 2.065 pessoas de todo o país nos dias 11 e 12 de agosto por telefone, modelo que evita o contato pessoal entre pesquisadores e entrevistados e exige questionários mais rápidos.
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