Ozonioterapia não tem eficácia comprovada contra a Covid-19

A terapia, considerada procedimento experimental pelo Conselho Federal de Medicina, foi a principal novidade anunciada pelo prefeito de Itajaí em live no Facebook

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São Paulo

Não há comprovação científica de eficácia dos tratamentos para a Covid-19 propostos pelo prefeito de Itajaí (SC), Volnei Morastoni (MDB). No dia 3 de agosto, em uma live no Facebook verificada pelo Comprova, ele anunciou que o município vai passar a oferecer um “ambulatório de ozônio”, onde os pacientes confirmados com a doença poderão realizar a chamada ozonioterapia.

A técnica, que administra uma mistura de oxigênio e ozônio no corpo por diversas vias, porém, não é um consenso na comunidade médica e só tem autorização do CFM (Conselho Federal de Medicina) para ser aplicada de forma experimental. Por isso, a cidade vai participar de um estudo da Associação Brasileira de Ozonioterapia que vai avaliar a efetividade do tratamento. O ensaio, segundo a prefeitura, também é realizado em outras partes do país e não tem limite de participantes –na prática, portanto, estará disponível a todos os moradores da cidade que estiverem interessados.

A terapia foi a principal novidade anunciada pelo político, que detalhou o tratamento: “É uma aplicação simples, rápida, de dois a três minutinhos por dia. Provavelmente vai ser uma aplicação via retal, que é uma aplicação tranquilíssima, rapidíssima, de dois minutos, num cateter fininho, e isso dá um resultado excelente.”

O prefeito também mencionou a distribuição de comprimidos de ivermectina e de cânfora –nenhuma das duas substâncias tem comprovação de eficácia contra o novo coronavírus.

O prefeito de Itajaí (SC), Volnei Morastoni (MDB), de máscara, fala em vídeo sobre tratamentos contra a Covid-19; no canto direito, mulher faz leitura em libras
Volnei Morastoni, prefeito de Itajaí, na live em que anunciou a ozonioterapia e outros tratamentos para combater o novo coronavírus - No Facebook

Ozonioterapia

Em 20 de abril de 2018, o Conselho Federal de Medicina tornou a ozonioterapia “procedimento experimental”. Com isso, determinou que ela só pode ser realizada “em instituições devidamente credenciadas” e sob o escopo de estudos. Sua aplicação deve seguir critérios definidos pelo Conep (Conselho Nacional de Pesquisa e Ética). Uma das regras é que a aplicação não pode ser cobrada.

O CFM define a ozonioterapia como técnica de aplicação de uma mistura dos gases oxigênio e ozônio, por diversas vias de administração, com finalidade terapêutica. As principais são: endovenosa, retal, intra-articular, local, intervertebral, intraforaminal, intradiscal, epidural, intramuscular e intravesical.

O estudo em Itajaí será coordenado pela Associação Brasileira de Ozonioterapia, que faz lobby pela regularização da terapia junto ao CFM, que analisou 26 mil trabalhos sobre o tema e classificou-os como “incipientes”. Entendeu que “seriam necessários mais estudos com metodologia adequada e comparação da ozonioterapia a procedimentos placebos, assim como estudos comprovando as diversas doses e meios de aplicação de ozônio”.

O Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina emitiu nota nesta terça-feira (4) na qual reforça que todo tratamento —não só para Covid-19— deve ser validado pelo CFM e que este já emitiu parecer restringindo a prática da ozonioterapia a estudos experimentais. “A norma federal também deixa claro que o seu uso benéfico em tratamentos clínicos ainda está longe de ser uma unanimidade positiva, já que o volume de estudos e trabalhos científicos adequados sobre a prática ainda é incipiente e não oferece as certezas necessárias. Esse assunto exige mais pesquisa em busca de conhecimento sobre o tema.”

Segundo o prefeito de Itajaí, o município vai fazer parte de uma pesquisa para que tenha autorização para montar um “ambulatório de ozônio”. Ao contrário do que sugere um protocolo de pesquisa, porém, o chefe do Executivo municipal disse que a terapia vai estar disponível para todos os habitantes da cidade que testarem positivo para a Covid-19: “ivermectina, cânfora, ozônio e tudo mais que nós formos descobrindo e sabendo que pode ajudar, nós vamos colocar à disposição da nossa população”, afirmou, na transmissão ao vivo.

Em uma nota publicada no site da prefeitura e enviada ao Comprova, o órgão diz que o estudo está sendo realizado em outros hospitais e ambulatórios do país, com os mesmos protocolos que ainda não têm data para ser implementados na cidade. “Os pacientes poderão participar da pesquisa de forma voluntária, desde que preencham os requisitos do estudo e assinem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido da Pesquisa. Todas as informações serão fornecidas pela equipe da pesquisa. O estudo recomenda que o protocolo seja aplicado em, no mínimo, 142 pacientes”, diz, ainda, o texto divulgado pela prefeitura.

Verificação

O Comprova checa informações sobre políticas públicas do governo federal ou sobre a pandemia de Covid-19 que tenham alta viralização nas redes sociais. A possibilidade de aplicação da ozonioterapia como tratamento contra o novo coronavírus se tornou um dos assuntos mais comentados do dia.

Até o fechamento deste texto, o vídeo original da live, no Facebook da Prefeitura de Itajaí, acumulava mais de 16 mil visualizações e centenas de comentários. No Twitter, trechos do vídeo que falam do tratamento —muitas vezes, de modo irônico— também viralizaram. Uma única postagem tinha mais de 9 mil curtidas.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde com ou sem a intenção de causar dano.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 4 de agosto de 2020.

A investigação desse conteúdo foi feita por BandNews, Jornal do Commercio, NSC e Estadão e publicada na segunda-feira (4) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus e políticas públicas. Foi verificada por Folha, Nexo, SBT e Gazeta do Sul.

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