Tivemos sorte de surto ter começado na China, afirma editor da revista The Lancet

Richard Horton diz que país asiático agiu rápido e alertou outra nações, que não deram a atenção necessária

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São Paulo

Apesar das alegações de que a China demorou para comunicar ao mundo sobre o novo coronavírus, o editor da revista científica The Lancet, Richard Horton, avalia que tivemos sorte que a epidemia tenha começado no país asiático. A fala foi feita em entrevista ao canal Um Brasil, uma realização da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo).

O editor argumenta que os médicos e cientistas chineses responderam velozmente a uma doença que era nova, comunicando rápido às autoridades chinesas sobre o potencial pandêmico do vírus.

“Tivemos sorte do surto ter começado na China, porque a experiência do país em 2003, quando a Sars apareceu, foi muito ruim. Eles tentaram esconder provas e mentiram para a comunidade internacional. A OMS (Organização Mundial da Saúde) pressionou e humilhou a China, à época, dizendo que o país mentiu”, afirma Horton.

A Sars, causada pelo vírus Sars-CoV-1, teve apenas 8.908 casos documentados, mas uma letalidade média de 9,6%, muito maior que a do novo coronavírus, que, por enquanto, gira em torno de 1%, segundo estimativas.

Depois desse surto, foi criado no âmbito da OMS o Regulamento Sanitário Internacional, assinado por 196 países, com regras que ajudam a diminuir o tempo de resposta em uma emergência sanitária.

Para Horton, as lideranças chinesas têm lembranças dessa epidemia anterior e não queriam ser humilhadas novamente, ainda que autoridades locais em Wuhan tenham tentado esconder as informações inicialmente.

Ele faz críticas aos governos e comunidades científicas de outras nações, ao afirmar que os alertas de médicos e cientistas chineses foram muito claros para não terem sido levados a sério.

“Quase todos os países desperdiçaram cerca de seis semanas. E não foi só um fracasso político, mas também técnico, porque cientistas em outros países tiveram a chance de ler artigos chineses, de escutar os avisos vindos da China, e eles falharam em comunicá-los aos seus governos”, afirma o editor.

Essa negligência inicial, segundo Horton, é explicada também por certa desconfiança permeada de racismo em relação à China, a exemplo da qualificação do novo coronavírus como “vírus chinês” feita pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

Além disso, ele destaca o peso de governos populistas nos países que mostram a pior resposta à pandemia —EUA, Brasil e Índia—, onde cientistas não estão sendo ouvidos pelos governos para formular uma resposta adequada à pandemia.

Outro ponto lamentado pelo editor é o que ele chamou de “nacionalismo da vacina”, a competição internacional para compra dos imunizantes —provavelmente insuficientes quando as produções começarem—, resultante da ausência de uma resposta global e coordenada diante do vírus.

Horton espera que o mundo tenha aprendido a lidar melhor com epidemias após a Covid-19. Segundo ele, isso deve acontecer porque, diferentemente do Sars de 2003, o novo coronavírus deve permanecer entre nós e, por isso, vai exigir mudanças sociais e campanhas de vacinações constantes.

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