Entenda os tipos de vacina em desenvolvimento contra a Covid e quais as vantagens de cada uma

De vírus inativado a pedaço de RNA, laboratórios têm alternativas de diferentes custo e eficácia

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São Paulo

Aquele futuro almejado desde a instalação da pandemia de Covid-19, no começo deste ano, está logo ali. Ou, ao menos, assim parece: mais de uma dezena de candidatas à vacina se aproximam da linha de chegada, e, felizmente, não deve haver apenas uma vencedora.

A expectativa é que as aprovações em tempo recorde ocorram a partir de dezembro de 2020, conforme os resultados de fase 3 de pesquisa clínica (com milhares de indivíduos, em que a eficácia é comparada a um placebo) vão sendo publicados.

Algo que chama a atenção entre os imunizantes em teste é a diversidade. Algumas iniciativas seguiram por um caminho um tanto mais seguro, com os chamados vírus mortos, ou inativados. É o caso, por exemplo, da chinesa Coronavac, da empresa Sinovac, que realiza os testes em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo.

Os resultados de fase 3 da Coronavac, que está no centro de uma disputa política entre o governador João Doria (PSDB) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), devem ser divulgados no começo de dezembro.

O governo brasileiro planeja pagar R$ 56 para cada dose da Coronavac. Assim como a maior parte das candidatas, seu esquema vacinal prevê duas doses. Estão encomendadas 46 milhões de doses pelo governo paulista.

Outras iniciativas, por sua vez, podem fazer história ao se tornarem as primeiras vacinas à base de material genético aplicadas em larga escala em humanos. Nos casos em questão, um trecho de RNA viral é injetado no organismo com a finalidade de produzir uma proteína viral.

Essa proteína, que originalmente compõe o quebra-cabeça da estrutura do patógeno, é reconhecida como corpo estranho (antígeno) pelo organismo, o que gera uma resposta semelhante à que seria produzida em contato com o vírus propriamente dito, com a vantagem de não haver qualquer vírus na jogada.

A mesma proteína, a S (de “spike”, ou espícula), é a matéria prima para uma outra abordagem vacinal, que entrega a própria proteína (acompanhada de uma espécie de “tônico imunológico”, o adjuvante) para o organismo reconhecer. Essa plataforma é conhecida como “subunidade protéica”, e é também usada em vacinas contra Hepatite B e contra o HPV. Nesse front a americana Novavax ainda não apresentou resultados de eficácia.

Duas das vacinas com melhor eficácia na prevenção de casos de coronavírus, na faixa dos 95%, são de RNA, das empresas Pfizer e Moderna. Embora já tenha havido conversas preliminares entre o governo brsaileiro e a Pfizer, ainda não há definição se ou quando o país terá acesso a esses produtos.

Há ainda mais dificuldades. O armazenamento e transporte dessas vacinas requer refrigeração em temperaturas tão baixas quanto -70°C, infraestrutura da qual o país não dispõe na escala necessária.

Além disso, o preço por dose deve ser muito mais caro, até seis vezes o preço de concorrentes, como a da AstraZeneca, que estima que cada dose custará entre US$ 3 e US$ 4 (entre R$ 16 e R$ 22).

“Certamente essa tecnologia vacinal trará avanços no desenvolvimento de outras vacinas para doenças infecciosas e até contra o câncer. Vacinas de RNA têm a vantagem de não necessitar do cultivo do vírus para a sua produção e são bem imunogênicas [ou seja, são capazes de gerar reação do sistema imunológico]. No entanto, têm a desvantagem de necessitar de ultracongeladores que são caros", diz Diego Tanajura, professor de imunologia da Universidade Federal de Sergipe .

A vacina da AstraZeneca é do tipo vetor viral não replicante, no caso um adenovírus de chimpanzé capaz de infectar células humanas, mas que não forma novos vírus, o que impede que a infecção progrida. Os resultados dos testes de fase 3 indicam eficácia de até 90%, segundo a iniciativa.

No Brasil, a Fiocruz, que tem uma parceria firmada com a AstraZeneca, deve produzir 210 milhões de doses do imunizante no ano que vem.

Como esse vírus carrega instruções para a construção de proteínas do Sars-CoV-2, essas moléculas é que serão identificadas pelo organismo e servirão de referência para identificar e eliminar o patógeno em uma infecção de verdade.

Também nessa categoria dos vetores virais não replicantes está a Sputnik V, que, segundo o Fundo de Investimento Direto Russo (RDIF), custará menos de US$ 10 (R$ 54) a dose. O RDIF integra o consórcio formado com o instituto Gamaleya, que testa a vacina em dezenas de milhares de pessoas na Rússia. No Brasil, os estados do Paraná e da Bahia têm intenção de adquirir essa vacina.

A vantagem da vacina russa é a possibilidade de armazenamento da forma liofilizada (em pó) em geladeira comum (temperatura de 2°C a 8°C). Segundo comunicado do RDIF, “esse formato permite a distribuição da vacina em mercados internacionais, além de expandir seu uso em regiões de difícil acesso, incluindo áreas de clima tropical.”

“Com a possibilidade de termos uma vacina em breve no nosso país, resta ao Ministério da Saúde o planejamento sobre como serão as estratégias de vacinação. Até o momento, isso não foi informado”, diz Tanajura.

Um consenso entre especialistas é que a prioridade de imunização vai para os profissionais de saúde e os mais idosos. Para os últimos, por causa do maior probabilidade de, uma vez infectados, desenvolverem uma forma grave de Covid-19; para os primeiros, em razão da intensa exposição, que multiplica o risco.

A seguir viriam os demais idosos e pessoas com comorbidades, como obesidade, diabetes, asma e outras doenças crônicas, que também favorecem o aparecimento de uma forma mais grave da doença. Vale ressaltar que, como as vacinas podem ter perfis de segurança e efeitos adversos distintos, essa “fila” pode se alterar de acordo com aquelas que estiverem disponíveis no momento.

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