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Antiviral reduz tempo de Covid-19 em pacientes fora de hospitais, diz estudo

Droga apresentou ainda potencial de melhora do desfecho clínico e na queda de transmissão

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São Paulo

Uma nova pesquisa apontou que uma droga antiviral experimental acelerou a recuperação de pacientes não hospitalizados com Covid-19 e pode diminuir a infecção comunitária, por impedir a transmissão dos contaminados para outras pessoas.

Ainda que a vacinação já tenha começado em mais de 70 países, ainda há atrasos e lacunas na disponibilidade de doses. O tratamento, portanto, pode ter vantagem em diminuir a necessidade de atendimento hospitalar e, consequentemente, diminuir a carga dos sistemas de saúde.

A droga, chamada peginterferon-lambda, é feita a partir de uma proteína produzida pelo corpo diante de uma infecção viral, da mesma classe que os interferons. A função dessa enzima é ativar alguns mecanismos celulares responsáveis por matar o vírus, que agem impedindo a replicação viral.

Uma das principais causas de morte pelo coronavírus é a chamada tempestade de citocinas, causada por uma reação exacerbada do sistema imune que ataca o próprio organismo, e não o coronavírus Sars-CoV-2. A peginterferon-lambda redireciona o sistema de defesa do corpo para atacar o vírus, e não os próprios órgãos.

O pesquisador Jordan Feld, do Centro de Doenças do Fígado de Toronto, segura uma injeção com a droga experimental peginterferon-lambda, atualmente em estudo contra Covid-19
O pesquisador Jordan Feld, do Centro de Doenças do Fígado de Toronto, segura uma injeção com a droga experimental peginterferon-lambda, atualmente em estudo contra Covid-19 - Divulgação/Universidade Health Network

Para verificar sua ação, os pesquisadores do Centro de Doenças do Fígado de Toronto, ligado à Universidade Health Network (UHN), conduziram um estudo clínico randomizado e duplo-cego (ou seja, que distribuiu pacientes em diferentes grupos de tratamento de forma aleatória, sem que médicos e pacientes soubessem que estavam recebendo o quê) de fase 2 com a droga, que foi administrada a 30 pacientes —outros 30 receberam placebo.

Os resultados foram publicados no início do mês na revista especializada Lancet Respiratory Medicine, do grupo The Lancet, a mais prestigiosa revista científica da área médica.

Entre os participantes do estudo, cinco necessitaram de atendimento hospitalar com sintomas respiratórios, dos quais quatro receberam o placebo e apenas um recebeu a droga.

Ainda de acordo com o estudo, os indivíduos que receberam uma única injeção de peginterferon-lambda tiveram quatro vezes mais chance de se recuperarem da Covid-19 nos sete dias seguintes, em comparação ao grupo placebo.

A quebra na cadeia de transmissão do vírus também foi reportada: oito em cada dez (79%) dos pacientes com alta carga viral —mais de 1 milhão de cópias do vírus por ml— se recuperaram da Covid após receberem o tratamento, em comparação com dois em cada cinco (38%) daqueles que receberam o placebo.

“Os pacientes que foram tratados com o peginterferon-lambda eliminaram o vírus rapidamente, e o efeito foi mais pronunciado naqueles com alta carga viral. Nós também vimos uma tendência de melhora mais rápida dos sintomas respiratórios no grupo da intervenção”, explica o especialista em doença de fígado e primeiro autor do estudo, Jordan Feld.

Embora se trate de uma droga experimental com acesso limitado, os resultados são muito promissores porque não há, até o momento, nenhum tratamento para Covid-19 para pessoas que não necessitam de internação hospitalar —há apenas drogas usadas durante o atendimento nas UTIS que podem ajudar na recuperação dos pacientes.

As vacinas são a única ferramenta eficaz para proteger aqueles que ainda não se contaminaram e podem desenvolver Covid-19 assintomática ou com sintomas leves a moderados. Por isso, Feld acredita que o potencial do peginterferon-lambda é alto, em um momento em que surgem novas variantes potencialmente mais infecciosas do vírus ou que possuem alguma vantagem sobre as vacinas e anticorpos monoclonais.

A equipe agora vai conduzir mais estudos para comprovar a eficácia do medicamento. A droga também é investigada simultaneamente em outros centros de pesquisa, como a Universidade de Harvard, a Johns Hopkins University e o Centro Médico da Universidade de Soroka, em Israel.

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