Com quase 280 mil mortos, Lira e Pacheco consideram lockdown geral medida extrema e pregam pensamento positivo

Presidente do Senado afirmou que negacionismo foi derrotado pelo senso comum e citou Bolsonaro como exemplo de alguém que mudou convicções

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Brasília

Com quase 280 mil mortos em decorrência do coronavírus, os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), demonstraram alinhamento com o Palácio do Planalto e criticaram a possibilidade de lockdown geral para conter a disseminação de Covid-19.

Os congressistas participam na tarde desta segunda-feira (15) de uma videoconferência realizada pelos jornais O Globo e Valor Econômico, em conversa conduzida pelos jornalistas Miriam Leitão e Cristiano Romero.

Questionados sobre se apoiavam medidas mais rígidas ou mais flexíveis na pandemia, ambos qualificaram o lockdown geral como uma opção extrema.

“Todos os extremos, nesse momento, são muito complicados”, afirmou Lira. “Você defender um lockdown geral no país, eu já rebatia isso lá atrás, desde a época do [ex-ministro da Saúde Luiz Henrique] Mandetta, naquela época já se falava no ‘fique em casa’, [não] é absolutamente igual para todas as regiões do Brasil”, disse.

Como a Folha mostrou, apenas duas capitais brasileiras têm ocupação de leitos de UTI abaixo de 80%. Outras 16 se encontram perto do colapso, com mais de 90% de índice de ocupação.

“E também descartar a possibilidade de algum lockdown ou de alguma medida mais restritiva numa cidade ou região que esteja passando por um momento de mais dificuldade também não é conveniente”, disse.

Lira defendeu que se “despolitize” a pandemia. “Os extremos não ajudam. Eu acho que, neste momento, nós devemos ter uma postura mais equilibrada, para tentarmos, todos juntos, como estamos dizendo há vários dias, desde que assumimos, remarmos num só sentido”, afirmou.

O deputado afirmou que, no momento, não há necessidade de medidas mais duras. “Eu não defendo CPIs [Comissões Parlamentares de Inquérito] na Câmara”, disse. “Eu acho que perder tempo, neste momento, discutindo o que está certo e o que está errado tem que ser feito de maneira proativa.”

Lira ressaltou que a economia brasileira precisa se movimentar, mas disse que nada é mais importante que saúde e vacinação para a população.

Após ter defendido em redes sociais a médica Ludhmila Hajjar para o cargo de ministra da Saúde, Lira afirmou que cabe ao presidente da República indicar o ministro. A médica rejeitou convite para ocupar o cargo. Hajjar defende uma vacinação em massa e políticas de isolamento social, diferentemente do governo do presidente Jair Bolsonaro.

Coloquei o que penso sobre Ludhmila Hajjar, mas a prerrogativa de escolha é do presidente”, limitou-se a dizer o presidente da Câmara. Lira também afirmou que não é o momento de “apontar o dedo para ninguém”, evitando críticas à condução do governo no enfrentamento à pandemia

Já Pacheco avaliou não ser “racional” um lockdown absoluto no país neste momento.

O presidente do Senado seguiu a mesma linha de Lira, afirmando que decisões devem ser tomadas localmente.

“Eu considero que temos que buscar uma solução racional. Não me parece racional lockdown absoluto no país nesse momento. Assim como não se pode negar gravidade da pandemia, a necessidade da tomada de decisões. Caso a caso, a depender do município, do estado, que se possa evitar aquilo que se tem que combater desde o início, as aglomerações”, afirmou.

Ao comentar posições negacionistas da pandemia, Pacheco afirmou que essa visão já foi derrotada pelo senso comum e citou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como exemplo de alguém que mudou suas convicções.

"Aspectos de negação já encontraram uma mitigação necessária pelo próprio senso comum de que isso não é o correto. E vi o próprio presidente da República, na sessão de sanção do projeto de lei que foi convertido na lei 14.125, o presidente usando máscara, falando de vacina e buscando conscientizar a população de que é preciso ter o enfrentamento dentro desses critérios", afirmou.

"Eu acho que devemos desapegar nesse momento de pontos de negação aqui e ali e convertermos dentro de uma conscientização de todos que nós depois de um ano da doença nós não podemos mais recusar vacina, recusar o uso de máscara, recusar o distanciamento social", completou.

Pacheco também criticou o que chamou de negativismo, de “achar que nada funciona e que nada anda”.

“Nesse momento o que nós do Congresso Nacional, e tenho absoluta convicção de que é o pensamento do presidente Arthur Lira, o que estamos buscando promover é um ambiente de positivismo, de positividade, para que nós possamos valorizar aquilo de bom que nós temos no Brasil”, disse, citando como exemplo a aprovação do projeto que amplia a compra de vacinas e a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Emergencial, que destrava o auxílio emergencial.

No domingo, o Brasil chegou a 278.327 mortes e a 11.483.031 infecções pela doença desde o início da pandemia.

Novamente, o presidente do Senado descartou a hipótese de instalar uma CPI no Senado para investigar ações e omissões do governo federal durante a pandemia. Pacheco afirmou que a “solução [para a pandemia] não virá de uma CPI”.

“A CPI, se precisar ser instalada, será instalada para apurar fatos pretéritos. Agora, a solução não virá de uma CPI. A solução do problema da vacinação, do credenciamento de leitos, da assistência das pessoas doentes no Brasil

Ao final da videoconferência, Lira contestou a reportagem da Folha e afirmou que o texto distorcia o que ambos defendiam --para deixar mais claro a que se referiam, a reportagem incluiu a palavra geral no título e no início, mas mantém o teor do que foi publicado.

“Não foi isso que nós dissemos aqui. Nós não relativizamos. Nós dissemos que é injusto você fazer um lockdown total em algumas situações que são específicas. E nós condenamos os extremos, tanto fechar o país todo como não tomar medida nenhuma”, afirmou o presidente da Câmara.

Lira acrescentou que defendia um “pensamento do meio”, mas que fosse um meio “responsável, racional e lógico”. O presidente da Câmara novamente atacou a Folha e disse ser contrário a um fechamento absoluto das atividades.

“Um lockdown de 100% é uma loucura, praticamente vai causar mais instabilidade do que estabilidade no país. E ao mesmo tempo um lockdown zero, como preveem os extremos, também é falta de racionalidade, justamente nisso que a gente está focando”, completou.

Já Pacheco afirmou que o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu pela autonomia de estados e municípios em relação ao lockdown. “Pode haver lockdown numa cidade e não haver lockdown em outra cidade”, disse. O presidente do Senado não reclamou da reportagem da Folha.

“O que eu digo é que indiscriminadamente nós fecharmos tudo, num município que tem condição de fazer o atendimento, e fecharmos um restaurante que tem o espaçamento das mesas, tem o álcool-gel, tem os garçons com máscara, tem toda prevenção para evitar que ali seja um palco de proliferação”, continuou o presidente do Senado, qualificando a medida de indiscriminada e que acaba gerando distorções e injustiças.

“Não é negar a pandemia nem a importância dela, essa é a prioridade absoluta nossa. Mas há meios inteligentes, razoáveis, de meio para se conseguir alcançar esse objetivo”, ressaltou, citando o combate a aglomerações clandestinas e no transporte público.

“O lockdown, no geral, eu acredito que, primeiro, não vai resolver o problema, e segundo, vai gerar uma distorção e uma trava econômica no Brasil muito substancial, e pode haver ainda um preço ainda pior que a realidade que nós estamos vivendo hoje.”

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