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No auge da pandemia, 22 medicamentos de UTI estão no limite

Médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto vê a situação dos estoques como grave

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Brasília

O aumento no número de casos graves de Covid-19 tem feito a capacidade de atendimento das UTIs (Unidades de Tratamento Intensivo) e os estoques de medicamentos utilizados na intubação de pacientes chegar ao limite.

A Folha ouviu relatos de médicos, empresas, gestores da saúde e entidades médicas sobre a falta dos medicamentos utilizados no tratamento de pacientes em estado grave e desde o início do mês tem questionado o Ministério da Saúde sobre o tema.

Para conseguir mapear a situação, a Anvisa cobrou das farmacêuticas no dia 8 de março informações sobre anestésicos, sedativos, bloqueadores neuromusculares e agentes adjuvantes (que potencializam o efeito da medicação) utilizados no tratamento nas UTIs.

Os dados enviados para a Anvisa pelas farmacêuticas mostram as unidades de medicamentos vendidas desde agosto de 2020 e o estoque atual. Os números mostram que 22 medicamentos utilizados em UTI têm estoques baixos se compararmos a quantidade de unidades em estoque e o volume comercializado.

Hospital de Campo Limpo, em São Paulo - Foto: Zanone Fraissat/Folhapress

Entre os anestésicos, por exemplo, o midazolam aparece com um estoque de 3,2 milhões de unidades. Para dimensionar o que representa o número, desde agosto as empresas venderam 33,4 milhões de doses do medicamento. O estoque, portanto, é menor do que a média mensal de vendas no período de sete meses.

O laboratório Cristália, um dos fabricantes do Midazolan passou a fracionar as entregas do produto. Médicos relataram à Folha que a empresa tem realizado entregas do medicamento em quantidade muito inferior ao solicitado. O laboratório confirma o fracionamento e diz haver dificuldade na compra de matéria-prima.

Os bloqueadores musculares, utilizados em pacientes em situação muito grave para evitar, por exemplo, problemas na respiração mecânica, têm estoques também baixos. Segundo os dados coletados pela Anvisa, o estoque do besilato de atracúrio, que teve 4,6 milhões de unidades vendidas desde agosto, é de 333 mil doses. O besilato de cisatracúrio, possível substituto, tem apenas 172 mil unidades em estoque -desde agosto foram comercializadas 4,2 milhões de doses do medicamento.

No Paraná, o Cemepar (Centro de Medicamentos do Paraná) disparou um alerta para as unidades de saúde na segunda-feira (15) sobre o risco de desabastecimento dos medicamentos utilizados na intubação. O secretário de Saúde Beto Preto diz que já pediu e o Ministério da Saúde ficou de ajudar a resolver a situação. O problema, diz ele, é achar insumo disponível para a compra.

A médica Suzana Lobo diz que o país “está sob um risco enorme” de falta desses medicamentos. Presidente da AMIB (Associação de Medicina Intensiva do Brasil), ela diz que os comitês da entidade e da Sociedade de Anestesiologia devem apresentar até o fim da semana novas recomendações sobre o uso desses medicamentos por causa da escassez. “Para deixar nossos médicos alertas aos protocolos de substituição. Se acabar o midazolan, o que ele pode usar? Se acabar o propofol, o que eu uso?”, explica.

O médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto vê a situação dos estoques como grave. A Anvisa, diz ele, não tem instrumentos e cabe ao Ministério da Saúde coordenar os estoques e “cogerenciar” as vendas de medicamentos junto com a indústria para evitar o desabastecimento. Sem essa atuação da pasta, explica, grandes hospitais acabam comprando mais produtos, o que gera desequilíbrio no abastecimento.

O Ministério da Saúde afirma que recebe semanalmente dados dos estados sobre o consumo médio mensal dos medicamentos e, com base nesses dados, faz a distribuição. Segundo a pasta, o estoque pode variar de um local para outro “devido ao perfil/característica de consumo”.

O ministério também afirma que na quarta-feira (17) requisitou 665,5 mil medicamentos utilizados nas UTIs e que será utilizado em um período de 15 dias.

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