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Reserva de segunda dose breca ritmo de vacinação contra Covid

Decisão do Ministério da Saúde de liberar estoque da Coronavac acelerou imunização, mas não garantiu sua continuidade

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São Paulo

A queda no ritmo de vacinação contra a Covid-19 em abril e maio pode estar relacionada à reserva de imunizantes para a segunda dose, segundo dados do Ministério da Saúde.

Como mostrou a Folha, a velocidade de aplicação da primeira dose da vacina caiu 17% na semana passada. Em relação à segunda dose do imunizante, a queda foi de 23%.

Uma das hipóteses para isso está ligada a uma decisão do Ministério da Saúde de março. No dia 21 daquele mês, a pasta autorizou os municípios a utilizarem o estoque que seria reservado à segunda dose da Coronavac para ser usado como primeira dose e acelerar a imunização.

O anúncio levava em conta o cronograma de produção do imunizante pelo Instituto Butantan, do governo de São Paulo, e se limitava à Coronavac. A liberação não foi estendida às vacinas da AstraZeneca e da Pfizer —esta última só chegou ao país no fim de abril.

Naquele momento, a Coronavac representava 83% das doses contra a Covid aplicadas no país.

Com a decisão do ministério, o ritmo de vacinas aplicadas explodiu. Do dia 21 ao dia 30 daquele mês, o país vacinou quase 1 milhão de pessoas por dia, o maior volume já registrado na campanha contra a Covid.

Na mesma semana, porém, o Butantan, que fabrica a Coronavac no Brasil, suspendeu o envase de doses por conta de atrasos na chegada da matéria prima para a produção do imunizante, vinda da China.

A produção só foi retomada no fim de abril. Em maio, houve nova paralisação, mais uma vez por atraso na importação de IFA (ingrediente farmacêutico ativo).

Os sucessivos atrasos levaram a adiamentos na entrega de imunizantes, e, com isso, cidades que haviam utilizado todo o estoque para a primeira dose se viram sem imunizantes para completar o esquema de vacinação.

Para garantir a eficácia da Coronavac, é necessário que a segunda dose seja aplicada até 28 dias depois da primeira. Já o intervalo da Pfizer e da AstraZeneca é de cerca de três meses.

Como mostrou a Folha, em 2 de maio, Aracaju, Belo Horizonte, Campo Grande, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Porto Velho, Recife e Rio de Janeiro já não tinham estoque para a segunda dose da Coronavac.

Outras sete (Boa Vista, Curitiba, João Pessoa, Macapá, Maceió, Natal e Salvador) tinham disponibilidade restrita, e houve escassez dias depois.

A maior parte do estoque recebido nos dias que se seguiram foi utilizado para a segunda dose, e a administração da Coronavac como primeira dose ficou restrita em muitos municípios.

A vacinação só não ficou inviabilizada porque as remessas da Fiocruz, que produz a AstraZeneca no Brasil, se intensificaram a partir de abril.

Para comparação, o Butantan entregou até março 37 milhões de doses. No mesmo período, foram entregues 6,8 milhões da Astrazeneca, segundo o Ministério da Saúde.

Em abril, porém, a Fiocruz enviou aos estados quase 20 milhões de doses, enquanto o Butantan liberou cerca de 6 milhões.

No mesmo dia 2 de maio em que as capitais paralisaram a aplicação da segunda dose, somente 1,5% dos imunizantes administrados como primeira dose era Coronavac. A AstraZeneca respondia por 98,5%, e menos de 1% era da Pfizer.

Como a administração do estoque inteiro para a primeira dose não está liberada no caso desses dois imunizantes e metade das doses recebidas precisa ser reservada, o ritmo na vacinação caiu.

Na última semana de maio, foram administradas, em média, 250 mil primeiras doses de vacinas contra a Covid — quase 750 mil a menos que no pico, no fim de março. Dessas, 79% são da AstraZeneca, 19% da Pfizer e 2% da Coronavac.

Na segunda (31), a Fiocruz ultrapassou o Butantan como maior fornecedora de vacinas contra a Covid-19 no Brasil com a entrega desta segunda (31). São 47,6 milhões de doses disponibilizadas pela fundação, ante 47,2 milhões já enviadas pelo instituto paulista.

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