Descrição de chapéu Deutsche Welle Coronavírus

Tecnologia de mRNA pode revolucionar a medicina

Ela é usada nas vacinas da Pfizer e da Moderna, mas pode também ajudar no combate ao câncer

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DW

O desenvolvimento de vacinas contra a malária progrediu bastante mal nas últimas décadas. É verdade que a vacina RTS,S existe há vários anos, que pode prevenir cerca de um terço das infecções, e que a partir deste ano existe uma vacina ainda melhor, chamada R21/Matrix-M, que é 75% eficaz.

Mas talvez seja possível algo melhor que isso. Pelo menos é o que pensa Ugur Sahin, fundador, junto com sua mulher, Özlem Türeci, da BioNTech, desenvolvedora da primeira vacina contra Covid-19, em cooperação com a Pfizer. Ele anunciou esta semana em Frankfurt que sua empresa agora também quer desenvolver uma vacina contra a malária. O imunizante poderia entrar em testes clínicos no fim do ano que vem.

O novo projeto é baseado no princípio do RNA mensageiro (mRNA). A parceria BioNTech-Pfizer e a Moderna foram as primeiras a usar com sucesso essa tecnologia para produzir imunizantes contra o coronavírus em grande escala. Mas de onde vem originalmente a tecnologia de mRNA e até onde ela já progrediu? Aqui estão as perguntas e as respostas mais importantes:

Como funciona o mRNA?

A tarefa do RNA (ácido ribonucléico) em nosso corpo é usar informações de nossa constituição genética, o DNA, para produzir proteínas. Ele faz isso nas fábricas de proteínas das células, os ribossomos. É aqui que ocorre a biossíntese de proteínas.

A medicina se aproveita dessa característica. Nas vacinas, o mRNA produzido artificialmente fornece aos ribossomos as instruções para construção dos antígenos aos patógenos que se deseja combater –por exemplo a proteína spike do coronavírus.

Os ribossomos produzem esses antígenos e, assim, provocam uma resposta imunológica do corpo. Esta se direciona então contra todos os intrusos que possuem a propriedade de superfície específica da proteína –por exemplo essa proteína spike.

Em uma vacinação contra o câncer, os pesquisadores identificam quais proteínas são típicas da superfície de certas células cancerosas e desenvolvem um mRNA adequado para isso, na esperança de que o sistema imunológico ataque as células cancerosas. Os pesquisadores querem proceder de forma semelhante com a vacinação contra bactérias ou plasmódios (no caso da malária).

Qual é a diferença entre mRNA e outras vacinas?

A diferença crucial é que vacinas vivas ou mortas já existentes trazem dentro de si o antígeno contra o qual o sistema imunológico deve reagir. Já as vacinas de mRNA fazem com que ele seja produzido nas células.

Isso simplifica a produção de vacinas e sua adaptação a outros patógenos, porque basta ajustar determinados procedimentos, já experimentados e testados, por meio de um mRNA específico modificado.

Até que ponto a ideia de RNA mensageiro é novidade?

A ideia não é nova. Já em 1961, os biólogos Sydney Brenner, François Jakob e Matthew Meselson haviam descoberto que o ácido ribonucléico (RNA) é capaz de transportar informações genéticas que podem ser utilizadas para a biossíntese de proteínas, por exemplo em células. Mas o feito só foi alcançado pelo virologista Robert Malone, em 1989.

Os primeiros experimentos com vacinas de mRNA foram realizados por vários grupos de pesquisa entre 1993 e 1994 com camundongos. Por exemplo, uma vacinação contra o Semliki Forest Virus (SFV, ou vírus da floresta de Semliki), que foi isolado pela primeira vez no Uganda em 1942 e que afeta principalmente roedores.

Os primeiros ensaios clínicos com vacinas de mRNA em humanos ocorreram em 2002 e 2003. Eles se concentraram principalmente no combate às células cancerosas. Nos anos que se seguiram, a pesquisa de mRNA se concentrou principalmente na luta contra o câncer.

Contra o que as vacinas de mRNA estão sendo usadas atualmente?

Existem vários patógenos que já são foco da pesquisa. Isso inclui muitos vírus, como HIV, raiva, zika, chikungunya, gripe e dengue. Há grande esperança de que bons resultados sejam alcançados rapidamente, especialmente porque os sucessos na luta contra a Covid-19 mostraram que as vacinas de mRNA são eficazes contra vírus.

A luta contra o câncer é um dos campos mais antigos e avançados da pesquisa de mRNA. Em junho deste ano, a BioNTech iniciou um estudo de fase 2 na luta contra o câncer de pele avançado.

É claro que a experiência com o coronavírus não pode ser simplesmente transferida para as células cancerosas. Elas são muito maiores do que os vírus. A reação do sistema imunológico é muito diferente.

O mosquito do gênero Anopheles, principal vetor do parasita que causa malária - Jim Gathany - 23.nov.2015/Reuters

Um grande ponto de interrogação similar permanece na pesquisa sobre a vacinação contra a malária. Neste caso, os patógenos são organismos unicelulares. E eles mostraram repetidamente que são difíceis de serem combatidos.

Provavelmente, a chave para o sucesso no câncer e na malária reside na identificação de proteínas que sejam centrais para o funcionamento do patógeno em questão e que, mesmo assim, provoquem uma resposta imunológica forte o bastante no organismo. Em ambos os casos, o próprio sistema imunológico do corpo precisa matar as células que causam a doença sem prejudicar as células saudáveis ​​ou o organismo humano.

A tecnologia de mRNA revolucionará a medicina?

Isso ainda é muito cedo para se dizer. Mas uma coisa é certa: os médicos têm grandes esperanças na tecnologia de mRNA. Se os pesquisadores conseguirem desenvolver vacinas contra a gripe mais eficazes, muito já terá sido alcançado.

E se realmente houver sucesso em se mobilizar o sistema imunológico por meio de vacinações de mRNA de forma a atacar e destruir células patológicas específicas, isso seria uma grande revolução. Nesse caso, a tecnologia poderia também ganhar uma posição em áreas médicas completamente diferentes e que não têm sido foco das atenções até agora.

Uma revolução na medicina poderia ocorrer simplesmente pelo fato de as vacinações –em contraste com os tratamentos com drogas– ganharem uma importância cada vez maior. A vacinação é muitas vezes mais barata tanto para pacientes como para sistemas de saúde.

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