Descrição de chapéu Agência Fapesp Dias Melhores

Molécula com ação antiobesidade é testada com sucesso em animais

Estudo da USP mostra que a molécula sintética ajuda no controle do metabolismo, regulação do apetite, quebra da gordura e liberação de energia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Thais Szegö
Agência Fapesp

Estudo conduzido na Universidade de São Paulo (USP) mostrou que uma molécula sintética denominada Pep19 age sobre o sistema endocanabinoide, que tem importante função no controle do metabolismo, na regulação do apetite, na lipólise (quebra da gordura) e na liberação de energia.

Divulgado recentemente no International Journal of Molecular Sciences, o trabalho contou com apoio da Fapesp e a participação de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade de Málaga (Espanha), Centro Biomédico de Pesquisa de Diabetes e Doenças Metabólicas Associadas (Espanha) e da empresa Proteimax BioTechnology (Israel).

Em camundongos alimentados com dieta hipercalórica, a molécula atenuou o ganho de peso, amenizou a resistência à insulina e o acúmulo de gordura no fígado. Resultados foram publicados por grupo da USP e colaboradores no International Journal of Molecular Sciences
Em camundongos alimentados com dieta hipercalórica, a molécula atenuou o ganho de peso, amenizou a resistência à insulina e o acúmulo de gordura no fígado. Resultados foram publicados por grupo da USP e colaboradores no International Journal of Molecular Sciences - Pixabay

Não é de hoje que os cientistas estão trabalhando em formas de influenciar o funcionamento do sistema endocanabinoide para ajudar as pessoas a perder peso. Em 2008, um fármaco chamado rimonabanto chegou a ser usado com esse objetivo, mas sua venda acabou suspensa no Brasil devido a efeitos colaterais graves, como ansiedade e depressão, em alguns casos com tendência suicida.

De lá para cá, estudos têm sido feitos para descobrir formas mais seguras de transformar o sistema endocanabinoide em um aliado de quem precisa baixar o ponteiro da balança. E o Pep19 – diminutivo de peptídeo DIIADDEPLT – é uma das grandes apostas nessa seara, pois já apresentou bons resultados em testes com animais sem interferir no sistema nervoso central, o que provocaria efeitos colaterais similares aos do rimonabanto.

Desempenho promissor

No estudo recentemente divulgado, os pesquisadores criaram uma versão sintética de um peptídeo naturalmente encontrado em células humanas. O Pep19 é quimicamente idêntico ao peptídeo natural, mas pode ser usado em concentrações mais efetivas para o fim desejado. A molécula foi então testada em 50 camundongos, que foram divididos em dois grupos. Um deles foi alimentado com dieta normal durante 30 dias. O outro recebeu alimentação rica em calorias. Metade dos animais de cada grupo recebeu uma solução salina e a outra metade uma solução salina com Pep19 diluído.

Os resultados do experimento foram bem animadores. Os roedores que receberam a dieta mais calórica acompanhada do Pep19 tiveram o ganho de peso atenuado e diminuição na resistência à insulina – fenômeno que pode levar a problemas como diabetes do tipo 2 e hipertensão, entre outros. Além disso, a molécula reduziu a inflamação no fígado, o acúmulo e a distribuição de gordura no órgão e a atividade da alanina aminotransferase, substância que indica lesões hepáticas.

Outro benefício notado pelos pesquisadores foi que o peptídeo sintético transformou parte da gordura branca (que serve de reserva energética para o organismo) em marrom, o que é muito positivo já que esta tem função termogênica, ou seja, queima calorias para gerar energia e calor, estimulando o processo de emagrecimento.

"Esse processo tem relação com a ativação de um tipo de proteína desacopladora da cadeia respiratória, conhecida pela sigla UCP1. A gordura branca normalmente não produz essa substância, ao contrário da marrom", conta Emer Suavinho Ferro, professor do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP) e responsável pelo Laboratório de Farmacologia dos Peptídeos Intracelulares da instituição, que participou da análise. "E pudemos ter certeza dessa relação quando fizemos a análise visual da gordura dos animais e vimos que parte dela estava com um tom bege e, assim, tivemos a indicação de que o Pep19 induzia a ativação da UCP1", explica.

Segundo Ferro, nos animais, os ganhos oferecidos pelo uso do Pep19 não foram acompanhados de efeitos colaterais como no caso do rimonabanto. "Sua ação é periférica e não acontece diretamente sobre o sistema nervoso central", explica.

O grupo pretende agora fazer novos trabalhos, inclusive em humanos, para tentar transformar essa molécula em uma opção viável a quem precisa emagrecer.

A investigação conta com apoio da Fapesp por meio de dois projetos (16/04000-3 e 19/25943-1).

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.