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Estímulo elétrico no cérebro melhora a memória de idosos, indica pesquisa

Estudo pode ser usado para ajudar a aumentar o desempenho cognitivo de pessoas que desenvolvem a doença de Alzheimer

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Clive Cookson
Londres | Financial Times

A estimulação elétrica cerebral melhorou a memória imediata e de longo prazo em voluntários idosos, com os benefícios durando mais de um mês, em experimentos realizados na Universidade de Boston, nos Estados Unidos.

Robert Reinhart, chefe do projeto, disse que as descobertas podem constituir a base de tratamentos que não envolvem drogas ou neurotecnologia invasiva, para aumentar o desempenho cognitivo de pessoas que desenvolvem a doença de Alzheimer e outros distúrbios caracterizados por falhas de memória.

Os pesquisadores de Boston direcionaram correntes alternadas fracas para regiões específicas do cérebro, usando eletrodos em "toucas" cranianas vestidas pelos participantes. Eles trabalharam com 150 pessoas com mais de 65 anos, que receberam 20 minutos de estímulo por dia durante quatro dias e ouviram listas de palavras que foram solicitadas a lembrar.

Imagem mostra as mãos de uma mulher segurando as de um idoso
Pesquisa da Universidade de Boston comprovou que a estimulação elétrica cerebral melhorou a memória imediata e de longo prazo em voluntários idosos - Carlos Eduardo Ramirez/Reuters

A memória de curto prazo ou de trabalho —indicada pela lembrança imediata de palavras— melhorou 65% após os quatro dias e ainda estava 40% melhor um mês depois, sem estímulo adicional.

A memória de longo prazo —recordar palavras minutos ou mais depois de ouvi-las— foi 50% melhor após quatro dias e 37,5% melhor um mês após a última estimulação elétrica. Os resultados foram publicados nesta segunda-feira (22) na revista Nature Neuroscience.

Reinhart vê a neuroestimulação não invasiva como um tratamento potencial para a perda de memória em idosos e particularmente naqueles que desenvolvem demência. Não foram relatados efeitos colaterais adversos, além de "uma certa sensação de coceira e formigamento durante aproximadamente 30 a 60 segundos no início da estimulação e durante 30 a 60 segundos no final".

"O trabalho tem implicações clínicas óbvias", disse ele. "Os idosos com mau funcionamento cognitivo geral que participaram do experimento foram os indivíduos que mostraram as maiores melhoras tanto durante a intervenção como no ponto de um mês. [Esse] é um bom presságio para transferir [o procedimento] para um estudo clínico adequado em pessoas com doença de Alzheimer que sofrem deficiência de memória mais grave."

A estimulação elétrica foi direcionada a duas regiões cerebrais alternativas: o córtex pré-frontal, conhecido por estar associado à memória de longo prazo, e o córtex parietal, mais atrás no cérebro, que está mais envolvido na memória de curto prazo. Para criar um grupo de controle, alguns voluntários foram submetidos a um procedimento "simulado" ou placebo, no qual usaram as mesmas toucas que os submetidos ao estímulo ativo, mas sem que a estimulação elétrica fosse direcionada a qualquer região do cérebro. Os participantes não sabiam em que grupo estavam.

Os pesquisadores então leram sequências de 20 palavras desconexas para os participantes. Eles examinaram a probabilidade de as pessoas reconhecerem as palavras ouvidas mais recentemente no final da lista, o que está correlacionado com a memória de curto prazo, ou no início da lista lida para eles minutos antes, o que é um indicador de memória de longo prazo.

Masud Husain, professor de neurociência da Universidade de Oxford, que não participou da pesquisa, disse que "esses resultados são muito empolgantes", mas ressaltou que o escopo do estudo foi limitado.

"Temos que ter em mente que os efeitos na memória foram da ordem de lembrar mais três ou quatro palavras de uma lista de 20, mas essa melhora foi detectável um mês após a estimulação, o que é bastante notável", disse. "Se essas melhoras ocorreriam para memórias cotidianas, em vez de apenas listas de palavras, ainda precisa ser testado", acrescentou.

Reinhart disse que a equipe da Universidade de Boston agora pretende concentrar seu trabalho em atividades cognitivas do "mundo real".

"Agora estamos envolvidos em relacionar nosso cérebro de laboratório e medidas comportamentais a resultados funcionais como... medidas de atividades da vida diária", disse. "[Elas] são mais relevantes para reduzir o grave impacto social e econômico da cognição prejudicada que vem com a idade e a doença mental."

 Luiz Roberto M. Gonçalves

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