Descrição de chapéu The New York Times câncer

Truque na detecção permite que o câncer se esconda

Novo estudo conclui que células 'gigantes' eram, na verdade, células tumorais escondidas uma dentro da outra

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Gina Kolata
The New York Times

Em uma descoberta surpreendente, pesquisadores descobriram que células de alguns tipos de câncer escaparam da destruição pelo sistema imunológico escondendo-se dentro de outras células cancerosas.

A descoberta, eles sugeriram em um artigo publicado no mês passado na revista eLife, pode explicar por que alguns cânceres conseguem resistir a tratamentos que deviam destruí-los.

Projeção em 3D de células tumorais, similar a borrões de tinta em várias cores. Os núcleos estão em vermelho e a membrana em volta é verde. Eles estão sendo atacados por uma célula T, pintada de azul.
Projeção em 3D de células tumorais organizadas em formação célula-a-célula, com os núcleos codificados em vermelho, e a membrana, em verde, sendo atacados por uma célula T, em azul - Yaron Carmi e Amit Gutwilling - The Carmi Lab/Tel Aviv University via The New York Times

A pesquisa começou quando Yaron Carmi, professor assistente da Universidade de Tel Aviv, em Israel, estudava quais células T do sistema imunológico poderiam ser as mais potentes para matar cânceres. Ele começou com experimentos de laboratório que examinaram melanoma resistente ao tratamento e câncer de mama em camundongos, estudando por que um ataque de células T que foram modificadas para destruir esses tumores não os eliminou.

Ele estava analisando inibidores de checkpoint, um tipo específico de terapia contra o câncer, que envolve a remoção de proteínas que normalmente impedem as células T de atacar os tumores. Elas são usadas para tratar vários tipos de câncer, incluindo melanoma, câncer de cólon e de pulmão. Mas às vezes, depois que um tumor parece ter sido derrotado pelas células T, ele se recupera.

Carmi, que adora observar células ao microscópio, começou a espiar os tumores enquanto as células T os atacavam.

"Eu queria ver o assassinato, o assassinato real", disse ele.

Toda vez, porém, ele via algumas células gigantes que permaneciam depois que as células T faziam seu trabalho.

"Eu não tinha certeza do que era, então pensei em olhar mais de perto", disse ele.

As células gigantes acabaram sendo cânceres que abrigavam outras células cancerosas, protegendo-as da destruição. Uma vez que estas escapavam para seus esconderijos, as células T não conseguiam alcançá-las, mesmo que o sistema imunológico matasse as células cancerosas que serviam de "bunkers".

"Foi como ver o diabo", disse Carmi.

As células cancerosas, acrescentou, podem permanecer escondidas "por semanas ou meses".

Quando ele removeu as células T das placas de Petri, as células cancerosas saíram de seus abrigos.

Projeção em 3D mostrando a membrana e o núcleo de uma célula tumoral separados e unidos. Abaixo, a projeção mostra cada fase até que esses pedaços se unem.
Uma série de projeções em 3D (na parte superior) e fatias ópticas (na parte inferior), ao longo da altura das células tumorais organizadas em formação célula a célula. Os núcleos das células está identificado em verde e a membrana das células, em vermelho - Yaron Carmi e Amit Gutwilling - The Carmi Lab/Tel Aviv University via The New York Times

Ele observou células humanas de câncer de mama, câncer de cólon e melanomas e viu o mesmo fenômeno. Mas os cânceres de sangue e glioblastomas, os cânceres cerebrais mortais, não formaram as estruturas de célula dentro de célula.

Talvez, raciocinou Carmi, seja possível evitar que as células cancerosas se refugiem. Ele decidiu examinar os genes envolvidos nesse mecanismo de defesa. O bloqueio desses genes, segundo ele descobriu, também bloqueou a capacidade das células T de atacar os tumores.

"Percebi que esse é o limite do que o sistema imunológico pode fazer", disse Carmi. "Nosso sistema imunológico não pode vencer."

Outros, embora fascinados pela descoberta, dizem que permanecem muitas perguntas.

"É definitivamente um artigo interessante, com algumas observações fortes e convincentes", disse Michel Sadelain, imunologista do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, onde dirige o laboratório de transferência e expressão gênica. Mas, ele perguntou, quão relevante é essa descoberta para as imunoterapias no mundo real?

Marcela Maus, diretora do programa de imunoterapia celular do Mass General Cancer Center, disse que a descoberta mostra o que pode ser um novo mecanismo de defesa das células cancerosas.

"Vimos que os tumores podem se esconder do sistema imunológico, incluindo uma espécie que ‘finge’ ser células imunes, mas acho que nunca vimos células tumorais se esconderem dentro de outras." "Acho que precisa ser replicado para ganhar força total", acrescentou.

Jedd Wolchok, diretor do Sandra and Edward Meyer Cancer Center da Weill Cornell Medicine, teve a mesma reação.

"Ouvi falar de células cancerosas se alimentando de si mesmas, alimentando-se de suas vizinhas, liberando exossomos", disse ele, referindo-se a pequenas bolsas de substâncias químicas sinalizadoras. "Acho que esse é o próximo passo: esconder-se dentro da vizinha."

Um remédio possível, disse ele, pode ser frustrar as células de câncer tratando o paciente com imunoterapia por um curto período de tempo, interrompendo e tratando novamente. Isso pode estar de acordo com novas questões sobre por quanto tempo os pacientes devem ser tratados com esses medicamentos caros e tóxicos. A recomendação atual é tratar durante dois anos. Mas, disse Wolchok, "mas muitos nos perguntamos: 'Você pode se sair com menos?'"

Ele alertou, no entanto, que a imunoterapia usada pelo grupo de Tel Aviv não era padrão em pacientes com câncer.

Por enquanto, disse Wolchok, embora a descoberta seja "uma observação realmente inovadora", resta saber se levará a melhorias no tratamento de pacientes de câncer.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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