Descrição de chapéu The New York Times genética

Amostra de gripe aviária de paciente mostra sinais de adaptação a mamíferos

Mutações encontradas aumentam o risco para humanos, segundo virologista

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Emily Anthes
The New York Times

Uma amostra de gripe aviária isolada de um chileno que adoeceu no mês passado contém duas mutações genéticas que são sinais de adaptação a mamíferos, disseram autoridades dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) no último dia 14.

Em estudos experimentais com animais, as mutações, ambas no que é conhecido como gene PB2, já tinham mostrado que ajudavam o vírus a se replicar melhor em células de mamíferos.

O risco para o público permanece baixo, afirmaram autoridades de saúde, e nenhum outro caso humano foi relacionado ao chileno, que permanece hospitalizado.

Além disso, faltavam na amostra outras mudanças genéticas críticas que os cientistas acreditam serem necessárias para o vírus, conhecido como H5N1, espalhar-se eficientemente entre humanos, incluindo mutações que estabilizariam o vírus e o ajudariam a se ligar mais fortemente às células humanas.

leão-marinho morto na faixa de areia e perto está um pescador em pé
Homem pesca perto de carcaça de leão-marinho em Viña del Mar, no Chile; suspeita-se que mamíferos possam estar infectados com gripe aviária - Rodrigo Garrido/Reuters

"Existem três grandes categorias de mudanças que achamos que o H5 deve sofrer para deixar de ser um vírus aviário para ser um vírus humano", disse Richard Webby, especialista em gripe aviária no Hospital Infantil de Pesquisa St. Jude. "As sequências do paciente do Chile têm um desses tipos de mudanças. Mas também sabemos que desses três conjuntos de mudanças este é o mais fácil para o vírus fazer."

Mutações PB2 foram encontradas em outros mamíferos infectados com essa versão do vírus, bem como em algumas pessoas infectadas com outras versões do H5N1. As mutações provavelmente surgiram no paciente chileno ao longo de sua infecção, disseram especialistas.

"Entendemos que elas são um passo no caminho da adaptação aos humanos e aumentam o risco para os humanos", disse Anice Lowen, virologista de influenza da Universidade Emory. "Então, certamente, é preocupante encontrá-las."

Mas essas mutações sozinhas provavelmente não são suficientes para produzir um vírus que se espalha facilmente entre seres humanos, acrescentou ela.

"Essas mudanças genéticas já foram observadas em infecções anteriores por H5N1 e não resultaram em contágio entre pessoas", disse Vivien Dugan, diretora interina da divisão de gripe do Centro Nacional de Imunização e Doenças Respiratórias do CDC, em um comunicado.

"No entanto, é importante continuar a observar cuidadosamente todos os casos de infecção humana, bem como outros eventos de propagação em mamíferos, e acompanhar a evolução viral nas aves", disse Dugan. "Precisamos ficar atentos às mudanças que tornariam esses vírus mais perigosos para as pessoas."

A amostra foi sequenciada pelo Centro Nacional de Influenza do Chile e carregada no Gisaid, banco de dados internacional de genomas virais, disseram autoridades do CDC.

O Ministério da Saúde do Chile relatou o caso à OMS (Organização Mundial da Saúde) em 29 de março. O paciente, de 53 anos, desenvolveu sintomas respiratórios, incluindo tosse e dor de garganta, e foi hospitalizado quando seu estado piorou, de acordo com a entidade.

A investigação sobre o caso continua, e ainda não está claro de que modo o homem foi infectado. Mas o vírus havia sido detectado recentemente em aves e leões-marinhos da região onde ele vive.

"De acordo com os resultados preliminares da investigação epidemiológica local, a hipótese mais plausível sobre a transmissão é que ela ocorreu por exposição ambiental a áreas onde foram encontradas aves ou mamíferos marinhos doentes ou mortos perto da residência do caso", informou a OMS na semana retrasada.

É o 11º caso humano relatado de H5N1 desde janeiro de 2022, de acordo com o CDC, nenhum dos quais foi associado à transmissão entre humanos. Desde que o H5N1 foi detectado pela primeira vez em aves, em 1996, houve centenas de infecções humanas em todo o mundo, principalmente em pessoas que estiveram em contato próximo com aves.

Ainda assim, os especialistas há muito se preocupam com a possibilidade de que a gripe aviária, que é bem adaptada às aves, possa evoluir para se espalhar mais facilmente entre humanos, potencialmente desencadeando outra pandemia. Um surto de H5N1 em uma fazenda de martas espanholas no outono passado sugere que o vírus é capaz de se adaptar para se espalhar de forma mais eficiente entre pelo menos alguns mamíferos. E toda infecção humana dá ao vírus mais oportunidades de se adaptar.

As mutações documentadas no paciente chileno são um "passo na direção errada", disse Lowen.

Essa versão do vírus se disseminou rapidamente por meio de aves selvagens nas Américas, provocando surtos regulares em aves de criação. O vírus tornou-se tão difundido em aves que se espalhou repetidamente para mamíferos, e "infecções humanas esporádicas contínuas são esperadas", escreveu o CDC num relatório técnico recente.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.