Uso de plasma sanguíneo para tratamento contra calvície é experimental e pode causar infecções

Chamada de PRP, técnica é oferecida por clínicas em diversos estados brasileiros

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São Paulo

Clínicas em São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Goiás estão oferecendo a pacientes com calvície um tratamento que promete estimular o crescimento de cabelo. O problema é que o procedimento, chamado de PRP (plasma rico em plaquetas), ainda requer estudos e pode provocar infecções caso seja realizado de forma incorreta.

A oferta da prática levou a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) a emitir uma nota técnica. No texto, a entidade afirma que a terapia é considerada experimental pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e só pode ser utilizada em contexto de pesquisa.

Nesses casos, o estudo precisa ser aprovado por comitê de ética e os voluntários não podem arcar com nenhum custo.

Segundo a SBD, "o PRP não possui evidências científicas suficientes para a sua utilização na prática médica" e são necessárias mais pesquisas para avaliar sua eficácia no tratamento de alopecias, como são chamadas as diferentes condições caracterizadas por queda de cabelo.

Queda de cabelo tem diferentes causas e não há tratamento único - Eder Chiodetto - 14.mai.2004/Folhapress

O PRP não é uma novidade. Em 2013, o Fórum de Hematologia e Hemoterapia do CFM já discutia as pesquisas e o uso da técnica, que consiste em retirar o sangue do paciente, centrifugá-lo, extrair o plasma e injetá-lo na área de interesse com a expectativa de estimular a cicatrização de tecidos.

Dois anos depois do evento, em julho de 2015, o CFM publicou a resolução nº 2.128, que estipula o uso do PRP exclusivamente em estudos e que permanece em vigor.

Mesmo com a restrição, a prática passou a ser oferecida em clínicas de estética como opção para "rejuvenescer" a pele, no que ficou conhecido como "protocolo Kim Kardashian" ou "Facelift de Vampiro", e agora é anunciada no combate à queda de cabelo.

A preocupação das entidades é que os dados já publicados ainda não sustentam o uso do PRP com essa finalidade e, como o procedimento inclui manipulação do sangue, pode haver contaminação caso os estabelecimentos não sigam as boas práticas no manuseio de materiais biológicos.

"Vivemos num país com uma discrepância muito grande na qualidade dos consultórios e serviços de saúde. Se não for respeitada a legislação de hemoderivados, há um risco de contaminação do sangue e de infecção", diz o médico Gabriel Lazzeri Cortez, membro da SBD e pesquisador do PRP.

Cortez explica que a técnica é utilizada nos Estados Unidos e em países da Europa como uma forma de fortalecer os fios. Mas mesmo nesses locais há a combinação com outros tipos de terapia.

"Não é um tratamento que vai fabricar novos fios. O que o PRP faz é criar um ambiente favorável para melhorar os fios que estão no couro cabeludo", afirma. "Não existe nenhum procedimento que de uma única vez ou uma vez por mês vai tratar de forma definitiva os problemas de cabelo", complementa.

A dificuldade de obter sucesso com um único tratamento está relacionada à complexidade das alopecias. Além do tipo mais comum, a alopecia androgenética, que é geneticamente determinada e leva ao afinamento capilar progressivo, há doenças inflamatórias como a alopecia areata, relacionada a reações autoimunes. "São doenças crônicas e o paciente deve fazer uso de medicação", diz Cortez.

Há ainda algumas alopecias chamadas de cicatriciais. Nesses casos, as falhas no cabelo não se regeneram porque não se trata de uma mudança na espessura dos fios, mas sim da formação de cicatrizes no couro cabeludo.

Além da identificação correta do tipo de alopecia, Cortez lembra que apenas especialistas podem indicar o melhor tratamento.

Atualmente, as opções no mercado têm dois mecanismos de atuação. Uma parcela dos remédios inibe o subproduto da testosterona que leva ao afinamento dos fios. A outra opção aumenta a vascularização e o suporte nutricional no couro cabeludo, favorecendo o fortalecimento e o crescimento dos fios.

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