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Sensor que monitora glicose é útil para pessoas com risco de diabetes

Uso do equipamento tem aumentado, mas não há evidência que ele ajude pessoas a perder peso ou a combater problemas cardíacos

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Dana G. Smith
The New York Times

Monitorar os níveis de glicose no sangue era algo que no passado só era feito por diabéticos. Nos últimos anos, porém, a glicose virou um dos fatores biométricos mais usados por pessoas interessadas em otimizar sua saúde. Isso se deve em grande medida à acessibilidade crescente de um instrumento chamado sensor contínuo de glicose, ou CGM ("continuous glucose monitor").

Os CGMs monitoram os níveis de glicose, a principal fonte de energia do corpo, em tempo real. Um sensor minúsculo, semelhante a uma agulha, se insere na pele e lê os níveis de glicose do fluido intersticial. Essa informação é enviada para um smartphone, onde as pessoas podem acompanhá-la ao longo do dia.

Os aparelhos foram desenvolvidos mais de 20 anos atrás para diabéticos dependentes de injeções de insulina. Hoje há pelo menos cinco empresas que vendem aplicativos e CGMs a pessoas que não têm diabetes, dizendo que o conhecimento de seus níveis de glicose pode ajudar você a perder peso e melhorar sua saúde.

É possível monitorar a glicose em tempo real; um sensor minúsculo inserido na pele lê os níveis de glicose do fluido intersticial e envia a informação a um smartphone
É possível monitorar a glicose em tempo real; um sensor minúsculo inserido na pele lê os níveis de glicose do fluido intersticial e envia a informação a um smartphone - Getty Images

A Abbot e a Dexcom, as duas maiores fabricantes de CGMs, também estão começando a investir em usuários não diabéticos. Em seu relatório anual de 2022, a Abbott disse que pretende ampliar a aplicação de CGMs para "uso para além da diabetes".

As vendas de CGMs da companhia totalizaram US$4,3 bilhões em 2022, um aumento de mais de 20% em relação a 2021. A Dexcom, que produz exclusivamente CGMs, também alterou sua missão para em vez de enfocar exclusivamente a diabetes, agora voltar-se à saúde de modo geral. Sua receita subiu quase 20% em 2022.

Endocrinologistas dizem que os CGMs são indispensáveis para diabéticos que precisam saber quando e quanta insulina devem receber. Os sensores também podem ser úteis para orientar mudanças de dieta e estilo de vida para pessoas com diabetes tipo 2 ou que estão em risco de desenvolvê-la. Isso inclui adultos acima dos 45 anos, pessoas com histórico familiar de diabetes ou pessoas cujo índice de massa corporal as qualifica como acima do peso.

Para pessoas que não integram esses grupos, há poucas evidências de que saber como seus níveis de glicose reagem a determinados alimentos constitua uma vantagem para sua saúde, em parte porque os picos de glicose geralmente não são tão grandes assim.

"Acho que a maioria das pessoas, quando ficam sabendo sobre os CGMs, acha a ideia muito cool", comentou a endocrinologista Sun Kim, da Universidade Stanford. Mas pessoas jovens e saudáveis, segundo ele, geralmente se entediam porque nada está mudando de fato.

Veja três coisas que são ditas comumente sobre as vantagens para não diabéticos de monitorar seus níveis de glicose e o que as pesquisas indicam até agora.

Ajudar com a perda de peso

As firmas que vendem CGMs dizem com frequência que os sensores ajudam com a perda de peso. Há pesquisas em curso para testar se isso é fato ou não.

Uma empresa que vende CGMs diz que usuários não diabéticos do dispositivo tiveram uma perda de peso modesta (1,8 quilo em 12 semanas), mas isso é comparável ao resultado de muitas intervenções na dieta, disse Kim. Quando ela fez uma comparação entre os efeitos de CGMs e de acompanhamento nutricional, em um pequeno ensaio preliminar, não constatou diferença em termos do peso perdido.

Teoricamente, evitar picos glicêmicos pode fomentar mais perda de peso do que apenas contar calorias. Quando a comida é digerida, a glicose é liberada no fluxo sanguíneo. Isso leva o pâncreas a secretar insulina, que ajuda as células a absorver a glicose e usá-la como energia. A glicose em excesso é convertida em gordura, de modo que quanto mais glicose é liberada durante uma refeição, mais glicose pode ser armazenada sob a forma de gordura.

"Esse é um dos principais mecanismos pelos quais armazenamos gordura em nossas células e ganhamos peso", disse Eran Segal, biólogo computacional do Instituto Weizmann de Ciência, em Israel.

Autor de um livro de dietas baseado nessa teoria, Segal disse que os sensores fornecem a quem os usa informação personalizada sobre como evitar picos de glicose e levam a uma perda de peso maior que o aconselhamento nutricional geral. Os alimentos podem exercer efeitos diferentes sobre os níveis de glicose de diferentes pessoas, de modo que sem um CGM você tem menos chances de saber quais refeições o levaram a apresentar um pico.

Mas outros especialistas –incluindo Michael Bergman, professor de medicina na New York University Langone Health que estuda a prevenção de diabetes, e Kevin Hall, pesquisador sênior do Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais— disseram que a ideia de que evitar picos de glicose pode ajudar com a perda de peso é controversa e "provavelmente não correta".

Proteger o coração

Outra coisa que é dita a favor dos sensores é que oscilações nos níveis de glicose em pessoas não diabéticas podem ser prejudiciais à saúde cardíaca. Logo, usar CGMs para identificar (e então prevenir) picos de glicose pode ter benefícios cardiovasculares.

"Mas não temos estudos que nos mostrem necessariamente que isso é correto", disse Jannifer Sherr, endocrinologista pediátrica na escola de medicina da Universidade Yale.

Para os diabéticos, índices glicêmicos persistentemente altos e grandes picos de glicose sabidamente produzem resultados piores no longo prazo, incluindo doença cardíaca e AVCs.

Pesquisas já mostraram que os níveis mais elevados de glicose entre não diabéticos também estão ligados a um risco mais alto de doença cardiovascular. Mas os estudos revelam uma correlação, não um efeito causal inequívoco, disse Robert Gabbay, diretor científico e médico da American Diabetes Association. Não está claro se reduzir os índices glicêmicos realmente conduz a resultados de saúde melhores.

"Essa é a peça que está faltando", ele disse.

Prevenir o diabetes

O benefício potencial mais claro dos CGMs é para pessoas que estão em risco de ter diabetes. Estima-se que um em cada três adultos americanos seja pré-diabético –ou seja, que seu índice glicêmico em jejum é superior ao recomendado (abaixo de 101 miligramas de glicose por decilitro de sangue), mas abaixo do limite de diabetes (126 para cima). Mas a grande maioria não sabe disso. Pesquisas sugerem que os pré-diabéticos têm um risco aumentado de desenvolver diabetes tipo 2 nos próximos cinco anos.

Os CGMs não são usados oficialmente como ferramenta diagnóstica, mas níveis elevados de glicose em repouso ou picos maiores que o normal após refeições são sinais de que algo pode não estar bem. O usuário pode adotar mudanças comportamentais para reduzir seu risco de desenvolver diabetes, usando os dados do CGM para saber quais alimentos levaram seu índice glicêmico a subir e quais comportamentos o mantêm estável.

"É realmente muito importante identificar os indivíduos numa etapa muito anterior ao que fazemos hoje", disse Bergman. "Acho que o uso desses dispositivos é uma maneira de fazê-lo."

Para melhorar sua saúde, não basta conhecer seus níveis de glicose –é preciso fazer alguma coisa a respeito. Alguns especialistas, incluindo Bergman e Gabbay, disseram que feedback em tempo real sobre como as diferentes refeições afetam seus níveis de glicose pode motivar as pessoas a modificar sua dieta. Outras, como Kim, disseram que, mesmo com os sensores, não é fácil convencer seus pacientes a modificar seus comportamentos.

Para algumas pessoas, vale a pena tentar

A maioria das empresas que vendem CGMs cobram entre US$ 300 e US$ 400 pelo dispositivo (incluindo uma receita médica off-label para não diabéticos) e um aplicativo que ajuda os usuários a interpretar seus resultados.

Para pessoas jovens e saudáveis, não há evidências claras de que picos de glicose (que são muito menores do que os picos de diabéticos) sejam prejudiciais à saúde. Logo, enquanto algumas pessoas podem ficar curiosas para ver se manipular esse aspecto de sua biologia muda como elas se sentem, vários especialistas disseram que os benefícios potenciais provavelmente não justificam o custo.

Para pessoas que correm o risco de diabetes –uma parcela substancial da população--, o cálculo é diferente. Para esse grupo, "acho que os CGMs valem totalmente a pena", disse Sherr.

Tradução de Clara Allain

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