Covid longa é especialmente difícil para idosos

Pesquisas sugerem que pessoas mais velhas têm menos probabilidade de serem diagnosticadas

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Paula Span
The New York Times

Pergunte a Patricia Anderson como ela está e você provavelmente não receberá uma resposta rotineira. "Hoje estou trabalhando e estou bem", ela disse numa terça-feira recente. "No sábado e domingo, não consegui sair da cama. A Covid longa é uma montanha russa."

Antes da pandemia, Anderson praticava artes marciais e vivia sem carro. Em vez disso, caminhava ou andava de ônibus para deslocar-se por Ann Arbor, Michigan, onde ela é bibliotecária médica. Pouco antes de contrair Covid-19, em março de 2020, ela havia andado 11.409 passos em um dia. Sim, ela toma nota de seus passos diários.

O vírus provocou calafrios extremos, falta de ar, um transtorno do sistema nervoso e um declínio cognitivo tão acentuado que durante meses Anderson não conseguia ler um livro.

Mulher sentada em uma cadeira no meio de um jardim
Patricia Anderson, da cidade de Ann Arbor, sentiu os sintomas da Covid longa por 40 meses - Emily Elconin/NYT

"Fiquei muito doente por muito tempo e nunca cheguei a me recuperar realmente", ela disse. Em alguns dias a fadiga não a deixa caminhar mil passos em um dia. As tentativas de reabilitação lhe valeram avanços, mas depois retrocessos fortes.

As dezenas de sintomas que são conhecidos coletivamente como Covid longa, ou pós-Covid, podem derrubar qualquer pessoa que tenha contraído a doença. Mas têm um impacto especialmente forte sobre alguns pacientes mais velhos, que podem ser mais propensos a apresentar certas formas da doença.

Cerca de 11% dos adultos americanos desenvolveram Covid longa depois de uma infecção com Covid, informaram no mês passado os CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças), uma queda em relação aos quase 19% registrados entre junho de 2022 e junho de 2023. A cifra sugere que alguns adultos estão se recuperando da síndrome com o passar do tempo.

Pessoas com mais de 60 anos na realidade têm índices mais baixos de Covid longa ao todo que pessoas na faixa dos 30 aos 59 anos. Isso pode refletir as taxas mais altas de vacinação e reforço de vacinação entre os americanos mais velhos ou sua adesão a comportamentos de proteção como usar máscara e evitar multidões.

"Pode também haver fatores biológicos que ainda não entendemos", disse Akiko Iwasaki, imunologista e pesquisadora da Escola de Medicina Yale. O conhecimento sobre a Covid longa aumentou, ela disse, mas ainda resta muito de desconhecido em relação à doença.

Patricia Anderson, 66, recuperou a maioria de suas funções cognitivas e algumas das físicas apenas recentemente; hoje ela consegue caminhar entre 3.000 e 4.000 passos por dia. Mas ela usa máscara N95 sempre que sai de casa e leva uma bengala acoplada a um banquinho. "Assim, se estou no supermercado e fico exausta no meio do corredor, posso descansar um pouco."

E ela se preocupa. A biblioteca para a qual trabalha a deixou continuar trabalhando remotamente, mas e se começar a exigir que ela cumpra suas funções presencialmente mais do que um dia por semana, como agora? "Não tenho condições financeiras de me aposentar", ela disse. "É assustador."

O CDC diz que a Covid longa começa quando os sintomas persistem por um mês ou mais após a infecção. Mas a Organização Mundial de Saúde define a Covid longa como "a continuação ou o desenvolvimento de novos sintomas" três meses após a infecção adicional, sintomas que durem pelo menos dois meses sem outra explicação.

A lista extensa de sintomas de Covid longa inclui dificuldades respiratórias, doenças cardiovasculares e metabólicas, doença renal, desordens gastrointestinais, perda cognitiva, fadiga, dor e fraqueza muscular e problemas de saúde mental.

"Praticamente não há sistema de órgãos que a Covid longa não atinja", disse o médico Ziyad Al-Aly, pesquisador clínico de saúde pública na Escola de Medicina da Universidade Washington e autor sênior de um estudo recente mostrando que esses sintomas podem persistir por dois anos. "Ela pode afetar praticamente qualquer pessoa, desde crianças até idosos."

Embora seja mais provável que a Covid longa atinja pessoas que adoecem gravemente com Covid e precisem ser hospitalizadas —e embora os sintomas da Covid longa permaneçam por mais tempo nesses pacientes—, ela também pode ocorrer após infecções brandas. Pode ocorrer após a primeira infecção com Covid, a segunda ou a quarta.

Pessoas mais velhas não são mais propensas a sofrer Covid longa, mas as pesquisas de Al-Aly usando grandes bancos de dados do Departamento de Assuntos de Veteranos mostram que os idosos correm risco maior de apresentar quatro grupos particulares de sintomas:

  • Transtornos metabólicos, incluindo diabetes recente e colesterol alto.
  • Problemas cardiovasculares, incluindo doença cardíaca, ataques cardíacos e arritmias como fibrilação atrial.
  • Problemas gastrintestinais como diarreia, constipação, pancreatite e doença hepática.
  • Acidentes vasculares cerebrais, declínio cognitivo e outros sintomas neurológicos.

Jane Wolgemuth contraiu Covid em junho de 2022, com seu marido. "Ele superou em dois dias", ela falou. "Eu passei uma semana de cama."

Ambos se sentiram melhor depois de tomar o antiviral Paxlovid por via oral. Meses mais tarde, porém, Wolgemuth, que tem 69 anos e é bancária aposentada vivendo em Monument, Colorado, começou a notar problemas cognitivos, especialmente quando estava dirigindo seu carro.

A melhor maneira de evitar a Covid longa é evitar a Covid. E tome as doses de reforço, sem dúvida alguma. A vacinação e os reforços não eliminam o risco de Covid longa, mas o reduzem

Ziyad Al-Aly

pesquisador clínico de saúde pública na Escola de Medicina da Universidade Washington

"Eu estava reagindo devagar", ela disse. "A névoa cerebral estava tomando conta de mim."

Idosos podem confundir Covid longa com outras condições que são comuns na terceira idade. "Eles podem pensar ‘talvez eu esteja apenas envelhecendo ou talvez precise mudar a dose do meu remédio para pressão alta’", disse Monica Verduzco-Gutierrez, diretora de medicina reabilitativa no Centro de Ciência da Saúde da Universidade do Texas em San Antonio. Ela é coautora de diretrizes da Academia Americana de Medicina e Reabilitação Física sobre o tratamento da Covid longa.

A Covid longa também pode exacerbar problemas de saúde que muitos idosos já enfrentam. "Se a pessoa já tinha uma deficiência cognitiva leve, isso pode avançar para demência? Já vi isso acontecer", disse Verduzco-Gutierrez. Um problema cardíaco leve pode se agravar, reduzindo a mobilidade de uma pessoa mais velha e aumentando seu risco de sofrer quedas.

"A melhor maneira de evitar a Covid longa é evitar a Covid", disse Al-Aly. Com os índices de infecção voltando a subir em todo o país, voltar a usar máscara em espaços fechados e comer ao ar livre em restaurantes são comportamentos que podem ajudar a reduzir as infecções.

"Tome as doses de reforço, sem dúvida alguma", ele recomendou. "A vacinação e os reforços não eliminam o risco de Covid longa, mas o reduzem" —entre 15% e 50%, conforme apontam estudos.

"Se você ficar infectado, faça um teste para ter a certeza de que é Covid e então ligue para o médico o quanto antes e veja se tem direito a tomar Paxlovid", ele disse. O tratamento antiviral também reduz o risco de Covid longa em 20% para pessoas na casa dos 60 anos e em 34% para quem tem mais de 70.

Na ausência de estudos longitudinais, por enquanto, não está claro se pessoas mais velhas levam mais tempo para recuperar-se da Covid longa.

Pacientes como Patricia Anderson e Jane Wolgemuth já experimentaram tratamentos de vários tipos —suplementos, eletrólitos, roupas de compressão e fisioterapia de vários tipos. "Mas não temos um medicamento que comprovadamente reverte a Covid longa", disse Iwasaki.

Tradução de Clara Allain

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