Cirurgiões americanos anunciam primeiro transplante de olho do mundo

Anúncio foi feito seis meses após a cirurgia; no período, órgão mostrou sinais importantes de saúde

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Nancy Lapid
Reuters

Cirurgiões em Nova York (EUA) realizaram o primeiro transplante de olho inteiro em um ser humano, segundo anunciaram nesta quinta-feira (9), o que foi saudado como um avanço pioneiro, apesar de o paciente não ter recuperado a visão desse olho.

Nos seis meses desde a cirurgia, realizada durante um transplante facial parcial, o olho enxertado mostrou sinais importantes de saúde, incluindo vasos sanguíneos funcionando bem e uma retina de aparência promissora, segundo a equipe cirúrgica da Langone Health, Universidade de Nova York.

"O simples fato de termos transplantado um olho é um grande passo adiante, algo que foi pensado durante séculos, mas nunca realizado", disse Eduardo Rodriguez, que chefiou a equipe.

Eduardo Rodriguez opera Aaron James transplante ocular do mundo - Joe Carrota /NYU Langone Health/AFP

Até agora, os médicos só tinham conseguido transplantar a córnea, a camada transparente dianteira do olho.

O receptor do olho, Aaron James, é um militar aposentado de 46 anos do Arkansas (EUA), sobrevivente de um acidente elétrico de alta tensão relacionado ao trabalho que destruiu o lado esquerdo de seu rosto, inlcuindo o nariz, a boca e o olho esquerdo.

A cirurgia de transplante durou 21h.

Inicialmente, os médicos pretendiam incluir o globo ocular como parte do transplante facial por razões estéticas, disse Rodriguez durante uma entrevista pelo Zoom.

"Se ocorresse alguma forma de recuperação da visão, seria maravilhoso, mas... o objetivo era realizarmos a operação técnica" e que o globo ocular sobrevivesse, acrescentou Rodriquez. O que quer que aconteça daqui para a frente será monitorado, pontuou ele.

Aaron James posa ao lado do médico Eduardo D. Rodriguez - NYU Langone Health/Handout/Reuters

Atualmente, o olho transplantado não se comunica com o cérebro através do nervo óptico.

Para encorajar a cura da conexão entre os nervos ópticos do doador e do receptor, os cirurgiões colheram células-tronco adultas da medula óssea do doador e as injetaram no nervo óptico durante o transplante, na esperança de que substituíssem as células danificadas e protegessem o nervo.

O transplante de um globo ocular viável abre muitas novas possibilidades, disse Rodriguez, mesmo que a visão não seja restaurada neste caso.

Outras equipes de investigação estão desenvolvendo formas de ligar redes nervosas no cérebro a olhos cegos através da inserção de eletrodos, por exemplo, para permitir a visão, disse ele.

"Se pudermos trabalhar com outros cientistas que estão investigando outros métodos para restaurar a visão ou restaurar imagens no córtex visual, acho que estaremos um passo mais perto", disse Rodriguez.

James, que conservou a visão no olho direito, sabia que talvez não recuperasse a visão no olho transplantado.

Os médicos "nunca esperaram que funcionasse e me disseram isso desde o início", afirmou ele.

"Eu disse a eles: 'Mesmo que eu não consiga ver... talvez pelo menos todos vocês possam aprender algo para ajudar a próxima pessoa'. É assim que começa", disse. "Espero que isso abra um novo caminho."

James ainda pode recuperar a visão do olho transplantado, disse Rodriguez.

"Não creio que alguém possa afirmar que ele enxergará. Mas, da mesma forma, não podem afirmar que não verá", afirmou Rodriguez. "Nesse ponto, estamos muito felizes com o resultado que conseguimos alcançar numa operação muito difícil tecnicamente."

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