O que é e como funciona o sistema nacional de transplantes de órgãos

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São Paulo

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O SNT (Sistema Nacional de Transplantes) público brasileiro é o maior do mundo, e ele funciona totalmente ligado ao Ministério da Saúde, garantindo que todos os brasileiros e brasileiras sejam atendidos gratuitamente.

Nesta edição, vamos entender melhor como funciona o sistema de transplantes de órgãos no país e os principais desafios enfrentados.

Coração humano em mãos de crianças isoladas em fundo vermelho
Coração humano em mãos de crianças isoladas em fundo vermelho - Andrii Zastrozhnov/AdobeStock

A fila de transplantes de órgãos

O interesse pelo transplante de órgãos no país cresceu na população após o caso do apresentador Fausto Silva, o Faustão, que foi internado no último mês à espera de um transplante de coração.

O caso de Faustão era grave e, por isso, vários critérios o colocaram na lista como prioritário para receber um órgão. Ao final, o apresentador conseguiu um órgão compatível e fez a cirurgia de transplante no domingo (27) e segue com uma boa recuperação, de acordo com o boletim médico.

Porém, diversas notícias falsas passaram a circular, como alegações de sua fama e poder aquisitivo terem de alguma forma influenciado na velocidade em conseguir o transplante ou que ele teria ainda pago ao primeiro da fila para abrir mão do lugar.

Tudo isso são bobagens que tentam minar a credibilidade do sistema nacional de transplantes que é extremamente sério e é referência em diversos países como modelo a ser seguido.

A fila de transplantes no país segue alta, é verdade —até 4 de setembro, mais de 37 mil pessoas aguardam por um transplante de rim, seguido de fígado (2.223), pâncreas/rim (390), coração (382), pulmão (190) e pâncreas (49), de acordo com o Ministério da Saúde. Existem ainda 25.961 pessoas aguardando por um transplante de córnea no Brasil.

De modo geral, o cadastro de pacientes ativos em lista de espera no país é centralizado no Ministério da Saúde, através da Central Nacional de Transplantes, mas cada estado possui sua central estadual.

Assim que há disponibilidade de um órgão, confirmada pelo diagnóstico de morte encefálica de um potencial doador e com o aceite da família, o receptor é escolhido seguindo critérios bem rigorosos de acordo com cada caso.

  • Assim, cada região pode ter as suas listas próprias, a depender também da disponibilidade de órgãos —é preferível que doador e receptor sejam do mesmo estado, reduzindo assim o tempo de transporte do órgão, mas exceções podem ser consideradas— e com as centrais responsáveis por fazer a recepção e transplante;

Outro fator que pode influenciar a velocidade no transplante é a presença de equipes e hospitais capacitados a fazer transplantes no estado —alguns estados, como Amapá e Roraima, não possuem hospitais de referência para transplantes.

Isso significa que pacientes nestes locais podem ter, muitas vezes, que viajar para conseguir um transplante, o que diminui as chances de sucesso e aumenta também o tempo –e custos– relacionados à operação.

Quem pode doar órgãos

Como há uma discrepância em relação aos centros especializados no país, há de se esperar também que haja diferença entre os doadores efetivos, que são os transplantes completados com sucesso. Esta taxa é indicada por doadores por milhão de população (PMP).

Estados como Paraná (42,5), Santa Catarina (41,5) e Rondônia (30,4) —que cresceu devido ao Hospital do Amor, em Porto Velho— possuem as maiores taxas, enquanto Maranhão (3,2), Alagoas (3,2), Amazonas (3) e Mato Grosso (2,2) têm as menores, segundo dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes e Órgãos).

Por quê? Isso se relaciona muito mais à capacitação dessas redes locais do que à disponibilidade de órgãos doados.

O médico José Eduardo Afonso Júnior, coordenador do programa de transplantes do Einstein, explica que não deve haver mais mortes por traumatismo craniano ou AVC (acidente vascular cerebral), o que leva ao diagnóstico de morte encefálica, nestes estados com mais doadores. O que ocorre é que as centrais já estão preparadas para receber e transplantar os órgãos com rapidez.

E mais: há também o problema da recusa familiar. Via de regra, qualquer pessoa pode ser doadora, não é necessário deixar nenhum testamento ou desejo por escrito, apenas comunicar a família.

Infelizmente, no Brasil, apesar do crescimento de transplantes com sucesso no primeiro semestre de 2023, aumentou também a recusa de familiares. Preconceito, falta de conhecimento e questões religiosas são as principais motivações para a recusa familiar, segundo a ABTO.

Esclarecer a população sobre a importância de doar órgãos e expandir o conhecimento sobre essa rede são fundamentais para reduzir a fila de espera por órgãos no país.


CIÊNCIA PARA VIVER MELHOR

Novidades e estudos sobre saúde e ciência

  • Genes associados a câncer renal em humanos foram encontrados em cães e gatos. Pela primeira vez, um estudo abre caminhos para a investigação dessa condição em mamíferos. Na análise de 60 tipos diferentes de genes, três deles mostraram similaridade com genes também encontrados nos humanos. A pesquisa coordenada pelo Centro de Pesquisa em Câncer do Reino Unido foi publicada na revista Genome Biology.
  • Desigualdade no tratamento cardiológico afeta mais mulheres do que homens. Uma pesquisa canadense indica que mulheres com mais de 65 anos têm maior risco para apresentar fibrilação atrial, um tipo de condição que pode levar a acidentes cardiovasculares. Elas tiveram mais atendimentos no pronto-socorro, quando o quadro já está agravado, do que os homens (30% versus 25%) e tiveram menos consultas cardiológicas preventivas um ano antes do evento (12% contra 17%). Os resultados da pesquisa foram publicados na revista European Journal Heart.

  • Teste diagnóstico pode ajudar a identificar tumores a partir de uma única gota de sangue. Criado por cientistas da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, o exame detecta um tipo de material genético conhecido como RNA não-codificante, que são fragmentos de RNA produzidos a partir da região do nosso genoma que não possui nenhuma função específica. Como as células cancerígenas podem liberar esses fragmentos na corrente sanguínea, o teste pode ajudar na detecção precoce de alguns tipos de câncer, como pulmão, pancreático e de esôfago. O estudo foi publicado na revista Nature Biomedical Engineering.

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