O que se sabe sobre a fadiga provocada pela Covid longa e como gerenciá-la

Cansaço pode ser um dos sintomas mais debilitantes, persistentes e confusos da doença

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Dani Blum
The New York Times

De todos os sintomas clássicos da Covid (a tosse seca, a garganta irritada, a dor no corpo), a fadiga pode ser um dos mais debilitantes, persistentes e confusos.

Marc Sala, co-diretor do centro abrangente de Covid-19 da Northwestern Medicine, diz que a fadiga se tornou a queixa principal de seus pacientes. Isso pode ser porque os sintomas da Covid estão se tornando mais leves no geral — ele não vê mais regularmente pacientes com danos respiratórios graves, e, assim, a fadiga passou para o primeiro plano. Também é possível que o sintoma possa ser uma manifestação mais comum com as novas variantes, afirma.

Algum grau de fadiga relacionada à Covid é esperado. Quando alguém está na fase aguda de uma infecção pela doença, "o corpo está muito ocupado lutando contra o vírus" e tenta conservar energia, afirma Ziyad Al-Aly, chefe de pesquisa e desenvolvimento do Sistema de Saúde V.A. St. Louis. "Você não quer fazer nada — quer ficar na cama".

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De todos os sintomas clássicos da Covid, a fadiga pode ser um dos mais debilitantes, persistentes e confusos - Jamie Kelter Davis/The New York Times

Mas é um tanto misterioso por que algumas pessoas experimentam fadiga intensa durante uma infecção —do tipo que as deixa prostradas no sofá, incapazes de assistir TV ou aquecer sopa— enquanto outras apenas se sentem esgotadas. Também não está claro por que a fadiga extrema persiste em algumas pessoas meses depois de testarem negativo, como uma sequela da Covid longa.

Os médicos têm observado um espectro de fadiga associada à Covid: algumas pessoas ficam exaustas depois de se esforçarem, enquanto outras vivem a exaustão de forma mais constante, diz Paul Auwaerter, professor da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins.

"Eu não acho que entendemos isso de fato", diz E. John Wherry, diretor do Instituto de Imunologia e Saúde Imunológica da Escola de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia. "Há muita especulação."

Por que a Covid pode causar fadiga

Uma hipótese para explicar por que as pessoas podem se sentir tão exaustas é que a Covid pode perturbar as mitocôndrias —o que o Peter Chin-Hong, especialista em doenças infecciosas da Universidade da Califórnia, São Francisco, chama de "coelhinhos energizadores" de nossas células. A disfunção mitocondrial pode desacelerar o corpo, diz ele, e isso pode durar além da fase aguda de uma infecção.

Distúrbios do sono também podem contribuir para a fadiga geral durante e após uma infecção, já que a Covid dificulta uma boa noite de sono.

Outra teoria, especificamente relacionada à Covid longa, é que o vírus pode persistir no corpo mesmo após o teste negativo, diz Al-Aly. Depois de uma infecção ser eliminada, o corpo deve desligar um "interruptor" e sinalizar que não precisa mais combater o vírus. Mas em pessoas com Covid longa, o corpo permanece em modo de defesa, continuando a conservar energia, afirma.

Uma pesquisa publicada em setembro aponta outra causa potencial: pessoas com Covid longa parecem ter significativamente menos cortisol matinal, o hormônio que te deixa pronto quando você acorda, diz Chin-Hong. A deficiência de cortisol, em geral, pode levar à fadiga.

Os pesquisadores ainda estão tentando entender por que algumas pessoas desenvolvem Covid longa e outras não. "Essa é realmente a grande incógnita", diz Al-Aly.

Remédios potenciais

Ainda não há um protocolo estabelecido para curar a fadiga, mas "a regra básica é descansar", diz Al-Aly. "Você não quer lutar contra isso."

Durante uma infecção ativa, ouça seu corpo: descanse o máximo possível e certifique-se de repor líquidos adequadamente.

Se a fadiga intensa persistir por mais de 30 dias após o teste negativo, Al-Aly aconselha conversar o mais cedo possível com seu médico para definir um plano de ação.

Para pessoas com Covid longa, dormir o suficiente é vital, diz Fernando Carnavali, diretor do Centro de Cuidados Pós-Covid no Mount Sinai Doctors. O sono fragmentado ou insuficiente pode agravar o cansaço. É importante seguir os fundamentos da higiene do sono: tente dormir e acordar em horários consistentes, mantenha seu quarto escuro e fresco, evite álcool muito perto da hora de dormir e reserve um tempo para relaxar antes de fechar os olhos.

Pessoas com fadiga relacionada à Covid longa também devem ter cuidado com a atividade física, diz Carnavali, começando devagar e aumentando gradualmente a tolerância a ela.

Se você está lutando contra a fadiga, reconheça que pode ter um novo ponto de partida, diz Carnavali. Ele aconselha seus pacientes a manter um diário por um período de duas semanas para acompanhar como se sentem após realizar atividades cotidianas —talvez uma onda de fadiga apareça depois um jantar com amigos, ou você ache difícil ler por uma hora. Compreender essas correlações pode ajudar a evitar que você se esforce demais.

Carnavali também diz que a readaptação é importante. "Eu não posso fazer 16 km; farei metade disso. Não posso lavar louça por meia hora; vou lavar por cinco minutos."

"Você precisa definir novas referências para se adaptar", recomenda. A fadiga extrema associada à Covid longa "pode desaparecer —algumas pessoas estão melhorando, e isso é ótimo de se ver", ele diz. "Mas há novos pacientes toda semana".

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