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Doenças neurológicas são principal problema de saúde no mundo

Levantamento com 204 países e territórios apontou 37 problemas que afetam o sistema nervoso e precisam de atenção; nova edição do relatório inclui complicações por Covid

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Ribeirão Preto

As doenças que afetam o sistema nervoso, como demências, enxaquecas ou acidentes cardiovasculares, são a principal causa de problemas de saúde no mundo, de acordo com um amplo estudo do Global Burden Disease (GBD), publicado na última quarta-feira (14) na revista The Lacet Neurology.

O estudo, publicado na revista Lancet Neurology, aponta que 43% da população mundial (cerca de 3,4 bilhões de pessoas) sofreu problemas de saúde neurológicos em 2021. O relatório subiu ainda de 15 para 37 o número de doenças acompanhadas pelo monitoramento mundial de distúrbios neurológicos —entre elas, as complicações pós-Covid.

Mulheres negras idosas mexem em cartas espalhadas em uma mesa
Idosas praticam atividades de estimulação cognitiva em Havana, em Cuba - Alexandre Meneghini - 7.mar.2024/Reuters

O levantamento "Global Burden of Diseases, Injuries, and Risk Factors Study (GBD) 2021" analisa itens como mortalidade, prevalência entre gêneros, anos vividos com incapacidade, anos de vida perdidos e anos de vida ajustados por incapacidade atribuíveis a doenças e condições que causam disfunção no sistema nervoso.

O estudo foi realizado por centenas de pesquisadores sob a supervisão do Instituto de Métricas e Estatísticas em Saúde (IHME, na sigla em inglês), uma instituição de referência em estatísticas de saúde.

O impacto deste tipo de patologias é muito maior do que se imaginava. Desde 1990, aumentou em mais de 50%, ultrapassando assim as doenças cardiovasculares, que eram as mais prevalentes até então. E, embora as mortes por esses diagnósticos tenham caído 33,6% nos últimos 31 anos, a contagem de incapacitados subiu 18,2% no mesmo período, indicando uma crescente nos custos com equipamentos médicos, cuidados, remédios e tratamento multidisciplinar para essas pessoas.

Os pesquisadores veem nesses números um reflexo do envelhecimento da população, uma vez que a grande maioria dessas patologias não tem cura e pode persistir até a morte do paciente.

Esta realidade responde, por outro lado, a uma evolução dos critérios da OMS (Organização Mundial de Saúde), que atualmente contabiliza o acidente vascular cerebral (AVC) como uma patologia neurológica e não cardiovascular, uma opção aplicada pelos autores deste estudo.

"Incluímos morbidades e mortes por condições neurológicas, para as quais a perda de saúde é diretamente devida a danos no sistema nervoso central (SNC) ou no sistema nervoso periférico. Também isolamos a perda de saúde neurológica para as quais a morbidade do sistema nervoso é uma consequência, mas não a característica principal", afirma o texto.

Dentro desta categoria global de patologias neurológicas, os acidentes vasculares cerebrais são os que causam mais problemas. Segundo o estudo, resultaram em uma perda total de 160 milhões de anos de vida saudável para as pessoas afetadas.

Em seguida, estão a encefalopatia neonatal, as demências do tipo Alzheimer, as consequências neurológicas do diabetes, a meningite e a epilepsia.

Em termos de mortalidade, estima-se que as patologias neurológicas tenham causado mais de 11 milhões de mortes em 2021. Nesse aspecto, elas ainda estão abaixo das 19,8 milhões de mortes por doenças cardiovasculares.

As adições englobam condições congênitas (anomalias cromossômicas e defeitos congênitos de nascença), condições neonatais (como icterícia, nascimento prematuro e sepse), doenças infecciosas (Covid, equinococose cística, malária, sífilis, zika) e neuropatia diabética.

Para os autores, a adição de novas condições traz "um benefício notável, pois fornece uma imagem mais precisa da carga global dos distúrbios neurológicos".

Algumas das condições recentemente incluídas, como o TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e o espectro autista "podem ultrapassar as fronteiras da neurologia e serem abordadas de forma mais adequada noutras especialidades médicas, como a pediatria, a medicina interna, a geriatria ou a psiquiatria, dependendo da situação, região ou país".

O efeito que essas condições podem ter na função neurológica e na saúde geral, entretanto, não deve ser negligenciado ou descartado, segundo o estudo.

Segundo a OMS, na região das Américas, que compreende 51 países e territórios, a principal preocupação apontada pelos pesquisadores é com a falta de preparo para lidar com o envelhecimento da população. Em 2019, o AVC foi a segunda principal causa de morte nessas localidades e a doença de Alzheimer e outras demências foram a terceira.

"Os recursos atribuídos para resolver a situação ficam muito aquém das necessidades. Entre 2020 e 2050, a proporção da população da América Latina e do Caribe com mais de 60 anos quase dobrará, e espera-se que esse envelhecimento da população leve a aumentos substanciais do número de pessoas com problemas neurológicos que exigiriam cuidados coordenados e multidisciplinares", alertam os colaboradores do GBD.

O novo documento toma como base os levantamentos anteriores do instituto e dá continuidade a uma série histórica com registros de 1990 até 2021 —o relatório anterior foi publicado com dados de até 2019.

O relatório conta com financiamento da Fundação Bill e Melinda Gates e chancela da OMS.

Com informações da AFP

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