Descrição de chapéu Censo 2022

Brasil tem envelhecimento recorde, e pessoas de 65 anos ou mais chegam a 10,9% da população

Grupo nessa faixa etária se aproxima de 22,2 milhões em 2022, com alta de 57,4% ante 2010, diz Censo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro e São Paulo

Indicadores de envelhecimento da população brasileira aceleraram para níveis recordes, e pessoas de 65 anos ou mais já representam 10,9% do total de habitantes no país —dos 203,1 milhões de brasileiros, 22,2 milhões estão nesta faixa etária.

É o que apontam novos dados do Censo Demográfico 2022 divulgados nesta sexta-feira (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Elide Elisa Rodrigues Luccas, 72, trabalha no ateliê de sua casa no Butantã, zona oeste de São Paulo
Elide Elisa Rodrigues Luccas, 72, trabalha no ateliê de sua casa no Butantã, zona oeste de São Paulo - Mathilde Missioneiro/Folhapress

O percentual de idosos é o maior desde o primeiro recenseamento realizado no Brasil, em 1872, disse o instituto.

Em termos absolutos, a população nessa faixa etária (22,2 milhões) superou o número total de habitantes de Minas Gerais (20,5 milhões), o segundo estado mais populoso do país.

Ainda em termos absolutos, o contingente de idosos de 65 anos ou mais teve um salto de 57,4% em relação ao recenseamento anterior, de 2010. À época, a população nessa faixa etária era de 14,1 milhões, o equivalente a 7,4% do total de habitantes.

Uma comparação mais longa também dá uma dimensão do envelhecimento dos brasileiros. Em 1980, os idosos de 65 anos ou mais representavam 4% da população total. O percentual cresceu ao longo das décadas seguintes, até superar os 10% em 2022.

Enquanto isso, a participação de crianças e adolescentes vem encolhendo, de acordo com o IBGE. Em 2022, as pessoas de 0 a 14 anos representavam 19,8% do total de habitantes, abaixo da marca de 24,1% em 2010. Em 1980, essa mesma faixa etária correspondia a 38,2% da população total.

Izabel Marri, gerente de estudos e análises da dinâmica demográfica do IBGE, afirma que o efeito da redução da fecundidade começou a ficar mais visível no Brasil na passagem dos anos 1980 para a década de 1990. Nos anos seguintes, a perda de participação dos jovens se intensificou, como apontam os dados de 2022.

"É uma estrutura populacional que já não é tão jovem, que está em franco envelhecimento e que tende a envelhecer mais", diz a pesquisadora.

Ela afirmou nesta sexta que a pandemia reduziu nascimentos em um nível maior do que o esperado anteriormente. O instituto, contudo, ainda não publicou os dados do Censo sobre fecundidade.

"A gente está em um período pós-crise, pós-pandemia. Isso fez uma redução dos nascimentos para além do que a gente esperava", disse Marri.

O IBGE ponderou que, embora a população brasileira tenha um percentual mais elevado de idosos atualmente, o país é menos envelhecido do que nações como o Japão. A estrutura etária nacional se assemelha mais à de locais como os Estados Unidos.

Idade mediana avança a 35 anos

Outras estatísticas divulgadas nesta sexta reforçam o cenário de envelhecimento no Brasil. Segundo o IBGE, a idade mediana dos brasileiros aumentou em seis anos do Censo 2010 para o levantamento de 2022. Nesse intervalo, o indicador subiu de 29 para 35 anos.

É o maior nível de uma série histórica divulgada pelo instituto com dados a partir do Censo de 1940, o primeiro produzido pelo órgão. A idade mediana separa o total da população em duas metades iguais: uma mais jovem, e a outra, mais velha. Ou seja, 50% dos brasileiros têm mais de 35 anos, e 50% têm menos.

O chamado índice de envelhecimento também avançou. Saltou de 30,7 em 2010 para 55,2 em 2022. O novo patamar é o maior da série histórica com dados a partir de 1940.

Na prática, o índice de envelhecimento referente ao ano passado aponta que havia 55,2 idosos de 65 anos ou mais para cada cem crianças de 0 a 14 anos. Essa relação estava em 10,5 em 1980.

De acordo com especialistas, o envelhecimento traz uma série de impactos para o país. Parte das pessoas vive mais, e a procura por serviços de saúde tende a aumentar.

Ao mesmo tempo, o país deve contar com uma proporção menor de jovens trabalhando e gerando recursos para o pagamento de aposentadorias e outros benefícios.

A solução, segundo economistas, passaria por elevar a produtividade do trabalho, um gargalo histórico no Brasil.

"As implicações em termos de políticas públicas deveriam estar sendo pensadas há muitos anos para atender a essa população idosa", diz o demógrafo Ricardo de Sampaio Dagnino, professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

"A gente tem um déficit grande. Precisa debater sobre isso e sobre o que fazer com os jovens", acrescenta, citando a necessidade de criar caminhos em áreas como trabalho e educação para o segundo grupo.

RS é o estado mais envelhecido

De acordo com o Censo, o Rio Grande do Sul é a unidade da federação mais envelhecida. A população de 65 anos ou mais correspondia a 14,1% do total de habitantes do estado em 2022.

O Rio de Janeiro vem na sequência, com 13,1%. O percentual de São Paulo foi de 11,9%, também acima da média nacional (10,9%).

Roraima se destaca na outra ponta do ranking. O percentual de idosos de 65 anos ou mais correspondeu a 5,1% da população local em 2022. É a menor proporção entre os estados.

De acordo com o IBGE, a queda da fecundidade começou mais cedo no Sul do que no Norte, fator que poderia explicar uma parte das diferenças entre gaúchos e roraimenses.

A região Norte é a mais jovem do país: 25,2% da população local tinha até 14 anos em 2022. A marca equivale a 1 em cada 4 habitantes. O Nordeste (21,1%) e o Centro-Oeste (20,9%) vieram na sequência.

O Sudeste e o Sul, por outro lado, apresentam as estruturas mais envelhecidas. A população de 65 anos ou mais corresponde a 12,2% e 12,1% do total de habitantes nas duas regiões, respectivamente.

‘A cabeça não envelhece’, diz idosa

A bióloga Elide Luccas, 72, ri ao lembrar que considerava "velhas" suas vizinhas de 30 anos quando implicavam com o barulho que fazia durante brincadeiras.

Quando tinha entre 20 e 30 anos e pensava sobre os anos 2000, ela sempre imaginava um futuro distante e que estaria velha quando chegasse a virada do milênio. "Nós estamos em 2023, e eu não estou velha. Achava que a velhice estava ligada à aparência", diz ela. "As vezes, olho no espelho e não me reconheço, mas a cabeça não envelhece."

Hoje, a bióloga de São Paulo tem uma rotina que varia de acordo com trabalhos manuais que ela produz, cuidados dos três netos, tarefas domésticas e prática de esportes.

"Trabalho formal eu não tenho, faço um hobby-trabalho. Não dá para pagar as contas, mas eu ganho um dinheirinho", diz ela, que confecciona mosaicos em casa e vende em feiras do clube que frequenta. "Melhora a longevidade, é uma distração que me faria muita falta se eu não fizesse."

Creusa Biasioli, 75, tem um pensamento semelhante ao de Elide. Ela vive em Araraquara (SP), comanda uma siderúrgica e afirma que gosta de trabalhar e de se sentir útil.

"Gosto de sempre dar um pulo e saber o que está acontecendo para podermos melhorar", conta ela.

Mulheres são mais da metade dos brasileiros

Além dos dados de idade, o IBGE também publicou nesta sexta estatísticas sobre a divisão por sexo da população brasileira.

Conforme o Censo 2022, as mulheres eram 51,5% (104,5 milhões) do total de habitantes, enquanto os homens representavam 48,5% (98,5 milhões). Ou seja, a parcela feminina superava a masculina em cerca de 6 milhões.

A comparação com os recenseamentos anteriores sinaliza que as mulheres vêm aumentando sua participação entre os brasileiros. O percentual feminino era de 50,78% em 2000, passou para 51,03% em 2010, alcançando 51,5% em 2022.

A parcela masculina, por sua vez, estava em 49,22% em 2000, foi para 48,97% em 2010 e atingiu 48,5% em 2022.

A razão de sexo, que mede o número de homens para cada cem mulheres, diminuiu de 96 em 2010 para 94,2 no ano passado. É a menor relação da série histórica divulgada pelo IBGE com dados a partir de 1940.

Em linhas gerais, a população feminina supera a masculina no Brasil em razão da mortalidade menor das mulheres na comparação com os homens, afirmou nesta sexta Izabel Marri, gerente de estudos e análises da dinâmica demográfica do instituto.

Essa tendência, disse a pesquisadora, pode ser reforçada pelas condições do mercado de trabalho em cada município. Segundo ela, as mulheres se concentram mais em grandes cidades pela disponibilidade maior de oportunidades de emprego.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.