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Não há evidências de que suramina elimine vacina contra a Covid do organismo

Em vídeo de 2021 que voltou a circular, médico também desinforma ao indicar ivermectina contra ação do imunizante

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São Paulo

Não há evidências científicas que demonstrem que a substância suramina possa impedir a atuação da vacina contra a Covid-19 no organismo, assim como não há indicação médica para o uso da ivermectina por pessoas imunizadas contra a doença, ao contrário do que afirma post nas redes sociais.

O conteúdo verificado pelo Comprova apresenta uma palestra conduzida pelo médico José Augusto Nasser no evento Encontro Liberdade e Democracia, realizado em novembro de 2021 em São José, em Santa Catarina. Já naquela época, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) alertava para a falta de evidências dos possíveis benefícios da ivermectina.

O médico, que já foi alvo de outras investigações do Comprova, defende que os remédios sejam usados para reparar mitocôndrias (estruturas dentro das células) que são supostamente destruídas pela proteína S gerada a partir da vacinação, o que não é verdade. Ele diz ainda que a suramina pode ser consumida por meio do chá de funcho, planta medicinal indicada para melhorar a digestão, combater cólicas e aliviar náuseas, mas a substância é, na verdade, fabricada em laboratório.

Mãos com luva branca vacinam braço de pessoa branca
Vacinação contra a Covid; imunizantes têm eficácia e segurança comprovadas contra o novo coronavírus - Athit Perawongmetha - 14.jun.2023/Reuters

Ao Comprova, a farmacêutica Bayer, que sintetizou o medicamento pela primeira vez em 1904, disse que o antiparasitário é reconhecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como remédio essencial para tratar doenças tropicais. "Não há indicação em bula para uso relacionado à Covid-19 e o medicamento não é comercializado no Brasil", esclareceu a empresa.

Eduardo Silveira, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (Universidade de São Paulo), explica que a proteína S estimula a produção de anticorpos para combater uma eventual infecção pelo coronavírus e que não se mantém no organismo. "Quando a gente toma uma vacina, ela é rapidamente processada. Então, para que esse suposto detox de vacina pudesse funcionar, essa proteína teria que ficar circulando eternamente, o que não acontece."

Procurado pela reportagem, o Hospital Albert Einstein informou que o médico José Augusto Nasser nunca fez parte do corpo clínico da instituição, diferentemente do que alega o vídeo.

O Ministério da Saúde reafirmou que a vacinação de covid-19 teve "grande impacto na redução da morbimortalidade pela doença, evitando milhares de óbitos e internações no Brasil".

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

A reportagem contatou Nasser, que reafirmou que a suramina inibe, sim, os efeitos da vacina e que os estudos já foram bem divulgados "em outras contestações". O médico também afirmou que não recomenda mais o chá de funcho "por outras razões", mas não deu detalhes. "A discussão médica deverá ser feita em ambiente médico e eu não me responsabilizo por muitos vídeos que não são meus que podem ainda estar circulando. Infelizmente estes conteúdos são editados, clonados e tudo pode ser feito com eles", disse Nasser, que, como informado acima, já teve conteúdos verificados.

Por que investigamos

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984. Sugestões e dúvidas relacionadas a conteúdos duvidosos também podem ser enviadas para a Folha pelo WhatsApp 11 99486-0293.

Leia a verificação completa no site do Comprova.

A investigação desse conteúdo foi feita por BandNews FM, Correio Braziliense e Imirante e publicada em 13 de março pelo Comprova, coalizão que reúne 42 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, UOL, piauí, Correio, Estado de Minas e Estadão.

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