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Ministério da Saúde e governos estaduais divergem sobre casos de dengue

Nove dos dez estados que possuem painel de monitoramento dizem seguir dados fornecidos pelo sistema da pasta

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São Paulo

Dados disponibilizados por dez estados brasileiros sobre os números de casos e mortos por dengue em 2024 são diferentes se comparados à apuração divulgada pelo Ministério da Saúde por meio do painel de arboviroses do país.

Com exceção de Goiás, que não respondeu até a conclusão desta reportagem, todos os outros nove estados citados, apesar de apresentarem números divergentes, dizem utilizar dados do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), desenvolvido pelo Ministério da Saúde, para atualização das informações de suas respectivas plataformas.

Em alguns estados, o Ministério da Saúde registra dados maiores do que as próprias secretarias estaduais de saúde. Foram analisados dados computados até terça-feira (5) de dez estados de todas as regiões do país que também possuem painel.

Mosquito do Aedes Aegypti genéticamente modificado na Unicamp, em Campinas
Mosquito do Aedes Aegypti genéticamente modificado na Unicamp, em Campinas - Carla Carniel/Reuters

Atualizada diariamente, segundo nota, a plataforma do Ceará mostra 591 casos confirmados de dengue, ante 567 apontados pelo Ministério. O estado e a pasta não registram nenhum óbito.

Já o painel do Distrito Federal informa 36.570 confirmações e 78 óbitos, números semelhantes ao do governo, que apresenta 36.543 casos e a mesma quantidade de óbitos, divergindo em quatro óbitos em investigação, o estado aponta 77 em comparação a 81 do governo.

Em nota enviada à Folha, o estado diz que os painéis possuem momentos de atualização distintos e esse é um dos fatores para as diferenças. A sugestão da secretaria de saúde do DF é acompanhar os dados pelo boletim semanal.

Goiás apresenta 41.199 casos confirmados e 40 óbitos. No entanto, o governo aponta 40.175 casos confirmados e 37 óbitos no estado, segundo a plataforma de arboviroses.

Após questionada sobre a divergência, a secretaria de saúde de Goiás informou que os dados são dinâmicos, sujeitos a alteração e que o painel estadual é atualizado diariamente, às 12h, enquanto a plataforma do governo não tem periodicidade de atualização diária. O Ministério da Saúde diz atualizar sua plataforma diariamente, às 16h.

A maioria das secretarias de saúde estaduais apresenta dados superiores se comparados aos números do Ministério da Saúde, o que não é o caso de Minas Gerais. O estado com mais casos de dengue apontou 152.440 confirmações, 49 óbitos e 270 mortes em investigação, enquanto o governo mostrava 179.334 confirmações, 127 óbitos e 354 mortes em investigação.

Por nota, a secretaria de saúde de Minas Gerais informa que o processo de atualização dos dados no painel e no boletim de arboviroses ocorre por meio da exportação de dados do Sinan online. O departamento alega que não há o envio direto de dados pelos municípios à secretaria de saúde.

De acordo com a secretaria, após a notificação pelo sistema, os municípios têm 60 dias para concluírem a investigação e encerramento dos casos.

Utilizando da mesma fonte, a secretaria de saúde da Paraíba diz ter duas atualizações diárias e apresenta 2.163 casos prováveis de dengue, um número com 348 a menos do que o apresentado pelo Ministério da Saúde. Na quantidade de óbitos, as duas plataformas convergem, com dois em investigação e três confirmados.

Já o estado do Rio de Janeiro não apresenta especificamente quantos casos confirmados tem. O cálculo com dados de perfil clínico epidemiológico somado ao resultado laboratorial resultou em 56.598 casos confirmados, quantidade superior aos 55.902 casos divulgados pelo ministério

Por telefone, a secretaria de saúde do Rio de Janeiro informou não possuir uma regularidade na atualização dos números, porém, costuma fazer duas vezes por dia.

No sul do país, a plataforma do Rio Grande do Sul é atualizada diariamente e registra 12.234 casos confirmados, ante a 11.526 casos do Ministério da Saúde. Em relação aos números de óbitos confirmados, ambos os painéis apontam 11 mortos pela dengue.

Único estado do norte do país a apresentar uma ferramenta própria de monitoramento, Roraima também diverge com dados de aborviroses se comparados aos números do governo. São 245 casos confirmados pelo estado, que faz atualização diária da plataforma, diante a, apenas, 40 casos segundo dados do Ministério da Saúde.

Em Santa Catarina, a secretaria de saúde estadual diz atualizar seu painel duas vezes ao dia e tem números próximos, porém ainda distintos da esfera federal. São 10.384 casos confirmados pelo estado e 10.071 pelo governo. Ambas as plataformas registram 11 mortes.

Segundo dados do painel da dengue de São Paulo, o estado tem 33 óbitos registrados até a tarde desta terça-feira. Já o índice do Ministério da Saúde apresenta 31 óbitos. Em casos confirmados a secretaria estadual tem 144.888 casos e o governo 142.799.

Em nota enviada à Folha, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo informa que a divergência entre os painéis ocorre devido à data e ao horário de estratificação dos bancos. Para atualizar seu painel, o núcleo realiza a extração dos dados no início do dia para que as informações atualizadas estejam disponíveis às 11h.

Segundo o departamento, o Ministério da Saúde disponibiliza ao público os dados coletados no período da tarde. A pasta do governo diz que a divergência acontece em decorrência de erros técnicos.

Discrepância no portal do Ministério da Saúde

A plataforma de arboviroses do governo federal apresenta ainda dissenso entre os tópicos apresentados para filtragem dos dados. Para calcular os casos confirmados como dengue é necessário fazer uma seleção por tais números, que serão mostrados em "casos prováveis".

No entanto, se não é feita nenhuma seleção de tópico, ao rolar até o fim do painel é possível localizar um gráfico de setores que aponta um número diferente em casos prováveis e confirmados em todo o Brasil.

A exemplo, em sua última atualização, a plataforma registrava no território nacional 558.554 casos confirmados com a seleção do tópico "casos confirmados". Porém, sem selecionar nenhum índice, o gráfico setorizava 597.565 casos confirmados, um aumento de quase 7%.

Questionada, a pasta não se pronunciou sobre os dados conflitantes até a publicação deste texto.

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