Descrição de chapéu Projeto Saúde Pública

Governo adia campanha de vacinação da Covid após atraso na compra de doses

Saúde não compra vacinas da Pfizer desde 2022 e alguns estados ficam sem doses; pasta não tem data para receber novos imunizantes

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Brasília

O Ministério da Saúde adiou o começo da campanha nacional de vacinação contra a Covid por causa de atraso na compra das doses.

O plano era abrir a campanha aos grupos prioritários neste mês. Mas uma compra emergencial de 12,5 milhões de doses, disputada por Pfizer e Moderna, está travada na Saúde.

A nova projeção é começar em maio a imunização contra a Covid, mas não está certo que a nova compra será concluída e quando as doses serão entregues. A última aquisição de vacinas da Covid da Pfizer foi feita em 2022, ainda na gestão Jair Bolsonaro (PL). O governo Lula assinou contrato em 2023 para receber doses da Coronavac.

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O presidente Lula (PT) e a ministra da Saúde, Nísia Trindade, ao lado do personagem Zé Gotinha, símbolo das campanhas de imunização do SUS - Folhapress

A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, disse que o plano é receber as doses cerca de 7 dias após a assinatura do contrato. Ela atribui o atraso na entrega a dificuldades no processo de compra.

Ethel afirmou que o ministério não tem mais doses da vacina bivalente no estoque. Ainda há cerca de 1,5 milhão de unidades do imunizante pediátrico, segundo a secretária.

Sem novos repasses de doses da Saúde, o município do Rio já avisou a população que não há vacinas disponíveis para pessoas com mais de 12 anos. Os governos do Rio Grande do Sul e do Maranhão também afirmaram que estão sem imunizantes para este público para entregar aos municípios.

Ethel reconheceu que a falta de doses mudou planos da pasta sobre o começo da campanha da Covid e disse que já havia publicidade pronta para estimular a vacinação. "Está tudo pronto, a gente achou que fosse dar tudo certo. É a primeira vez que a gente tem uma concorrência", disse a secretária.

Após a publicação deste texto, Ela disse à Folha que a campanha não foi adiada, pois não havia sido anunciada. Ela também corrigiu uma informação que havia repassado e disse que o processo atual de compra não será anulado. O ministério afirma que o contrato deve ser assinado nos próximos dias.

Em fevereiro, a secretária ainda disse em publicação no X, antigo Twitter, que as doses atualizadas já estavam compradas e tinham previsão de chegar ao Brasil no mês seguinte, o que não ocorreu.

A postura negacionista do governo Bolsonaro na pandemia foi um dos principais alvos de crítica do presidente Lula (PT) durante a campanha eleitoral de 2022. Questionada sobre críticas que a atual gestão pode receber pela falta de doses, Ethel disse que o ministério fez todo o possível para acelerar o contrato.

"A gente depende da aprovação da Anvisa [do registro da vacina atualizada], que aconteceu em dezembro. A gente iniciou a compra, que está acontecendo agora. Tivemos essa questão do pregão, com duas concorrentes. Do ponto de vista do Ministério da Saúde, tudo o que poderia ser feito para que o processo fosse o mais célere possível, foi feito", disse a secretária.

A vacina bivalente, atualmente entregue pela Saúde, não é a mais atualizada para variantes da doença. "Está vindo de forma muito atrasada [a dose preparada para a variante XBB], porque a gente já sabia desde o início do ano passado que as vacinas de Covid seriam atualizadas e começariam a ser oferecidas em setembro de 2023 nos Estados Unidos", disse Monica De Bolle, professora de economia na Universidade Johns Hopkins e mestre em Imunologia e Microbiologia pela Universidade de Georgetown.

"O nome disso é má gestão. Por mais que a gente possa gostar da Ministra da Saúde, possa gostar da coordenadora do PNI [Programa Nacional de Imunizações], elas não estão gerindo bem a situação", afirmou ainda.

O ministério discutiu a compra de vacinas bivalentes no segundo semestre de 2023, mas travou o processo por recomendação da área técnica de esperar o registro do modelo atualizado do imunizante, já adaptado à variante XBB.

Em dezembro, a Anvisa aprovou a atualização da vacina da Pfizer contra a Covid para esta variante. Em março, a agência concedeu o registro para o imunizante da Moderna também atualizada.

Ethel disse que o ministério começou a preparar uma compra emergencial de vacinas no começo de 2024. As propostas das empresas foram entregues no começo de março.

A secretária afirma que o registro da vacina da Moderna embaralhou a compra, pois se tornou a primeira disputa de empresas por um contrato de imunizantes da Covid do ministério —antes não havia concorrência, pois só uma farmacêutica detinha os registros para o modelo que a Saúde buscava.

Mais de um mês após a abertura da disputa e quase quatro meses após a Anvisa dar aval para a vacina atualizada, a Saúde ainda não assinou o contrato de compra das doses. O ministério afirma que deve fechar a aquisição nos próximos dias.

A secretária afirmou que a orientação do ministério é, para quem está em grupo de risco, tomar a vacina que estiver disponível no posto de saúde. "Você vai ficar protegido. E depois vai ter a oportunidade de tomar, ainda neste ano, outra dose", afirmou.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do que afirmava a primeira versão desta reportagem, o Ministério da Saúde comprou vacinas da Covid em 2023, do modelo Coronavac. Apenas a vacina da Pfizer não é adquirida desde 2022.
 

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