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Órgão de saúde alemão não determinou que lockdown era prejudicial, nem disse que Covid matava igual à gripe

É verdadeiro o documento citado em post enganoso, mas não emite o posicionamento oficial do Robert Koch Institut

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São Paulo

Post engana ao afirmar que documentos do RKI (Robert Koch Institut), órgão do governo alemão que monitora doenças infecciosas, confirmaram que o lockdown seria mais prejudicial do que o novo coronavírus, que o uso de máscara era questionável e que a mortalidade da Covid-19 era semelhante à da gripe.

De fato, houve documentos do órgão publicados com essas afirmações, mas elas refletiam opiniões de profissionais do órgão e não representam o posicionamento oficial do instituto, como verificado pelo Comprova. Contatado pela reportagem, o RKI afirmou que os documentos são resumos de discussões da equipe de crise de Covid-19 que mostram o nível de conhecimento em diferentes datas e que nessas conversas são abordadas diferentes perspectivas. "As declarações individuais feitas no contexto de tais discussões não refletem necessariamente a posição acordada do RKI", informou o instituto.

Diferentemente do que sugere o post enganoso, tanto os lockdowns quanto o uso de máscaras continuaram sendo defendidos pelo RKI ao longo da pandemia.

Praça com piso de concreto e, ao fundo, um prédio mais alto à direita, outros mais baixos indo para a esquerda e a torre de TV de Berlim, que é como um obelisco, fina e, no alto, uma esfera. Céu nublado.
Lockdown parcial na Alexanderplatz, em Berlim, na Alemanha, em 2020 - Tobias Schwarz - 16.dez.2020/AFP

Segundo o post enganoso, o RKI afirmou que o lockdown era mais prejudicial do que o vírus, mas não foi isso que o documento mostrava. Ele trazia um alerta de que os lockdowns mostraram um aumento esperado da mortalidade infantil na África. Além de falar sobre a questão do confinamento no continente africano, onde a realidade é diferente, a citação sobre a mortalidade infantil era um dado e não refletia o posicionamento do RKI, que defendia os lockdowns na Alemanha, que teve bloqueios parciais e totais de circulação de pessoas.

Sobre o uso de máscaras, o RKI afirma ter recomendado a proteção assim que percebeu que elas poderiam conter a transmissão do vírus, antes mesmo de outros países europeus. No fim de janeiro de 2020, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) não tinha decretado a pandemia (isso só ocorreria em março), o RKI sugeriu que pessoas com algum sintoma de infecção respiratória aguda usassem a proteção facial em espaços públicos. E, no início de abril daquele ano, passou a recomendar o uso geral de máscaras pela população.

A OMS só começou a recomendar o uso do item de proteção em junho de 2020 e, em fevereiro de 2023, afirmou que o uso de máscara continuava sendo uma das estratégias para reduzir a transmissão do vírus. Em página sobre a Covid atualizada em outubro do ano passado, quando já havia sido decretado o fim da pandemia, o órgão afirma que "o uso de máscara reduz a propagação de doenças respiratórias na comunidade, reduzindo o número de partículas infecciosas que podem ser inaladas ou exaladas".

Outra teoria negacionista citada no post enganoso e que aparece no documento do RKI, de que a mortalidade da Covid era parecida com a da gripe, também não faz sentido. De 2020 a 2022, morreram de Covid na Alemanha, segundo o Robert Koch Institut, 161,5 mil pessoas —destas, 65 mil ocorreram no inverno de 2020/2021. Para efeito de comparação, o órgão cita em seu site que, "na pior onda de gripe das últimas décadas, no inverno de 2017/2018, ocorreram cerca de 25 mil mortes".

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Por que investigamos

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984. Sugestões e dúvidas relacionadas a conteúdos duvidosos também podem ser enviadas para a Folha pelo WhatsApp 11 99486-0293.

Leia a verificação completa no site do Comprova.

A investigação desse conteúdo foi feita por Folha e A Gazeta e publicada em 2 de abril pelo Comprova, coalizão que reúne 42 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por UOL, piauí, Estadão, O Dia, Imirante, SBT e SBT News.

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