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Tratado da OMS que busca melhorar resposta a pandemias não fere soberania dos países

Ao contrário do que afirmam posts, o acordo, ainda em elaboração, não se sobrepõe às decisões de governos

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São Paulo

Representantes de 194 nações vêm discutindo há três anos mecanismos do tratado proposto pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para aprimorar respostas a situações pandêmicas. O documento traz onze premissas para a elaboração do acordo, admitindo, por exemplo, as desigualdades regionais dos sistemas de saúde e reafirmando a soberania dos países para controles biológicos. "A Organização Mundial da Saúde é fundamental para fortalecer a prevenção da pandemia, preparação e resposta, pois é a autoridade dirigente e coordenadora do trabalho internacional de saúde", diz trecho do rascunho mais recente do tratado, divulgado em março deste ano.

Ao contrário do que posts em redes sociais vêm alegando, o acordo, ainda em elaboração, não se sobrepõe às decisões tomadas pelos governos. Em fevereiro, o diretor-geral da organização, Tedros Adhanom, se manifestou publicamente sobre informações falsas que circulam na internet a respeito das negociações e reiterou que o tratado "não dá à OMS qualquer poder soberano sobre qualquer país".

Tedros usa óculos preto, está de paletó e gravata azul e camisa social. Fala ao microfone e está com a mão direita sobre o peito. A sua frente, placa com seu nome e o cargo que ocupa.
Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, em evento na Suíça - Denis Balibouse 20.dez.2021/Reuters

"A nossa função é aconselhar", disse Adhanom. Em outro momento, como verificado pelo Comprova, ele reafirmou que a corrente de "notícias falsas, mentiras e teorias da conspiração" estava prejudicando o andamento do tratado. A expectativa é que o texto seja votado em maio, durante a 77ª edição da Assembleia Mundial da Saúde, realizada anualmente em Genebra, na Suíça.

No fim de 2022, um texto, verificado pela reportagem, espalhou uma teoria conspiratória de que o acordo substituiria "leis nacionais e estaduais" e daria à entidade o poder de exigir vacinações obrigatórias, "acabando com a democracia". À época, a OMS já havia realizado reuniões no chamado Intergovernmental Negotiating Body (Órgão Intergovernamental de Negociação, em tradução livre), que foi criado justamente para reunir representantes dos países-membros e discutir o acordo.

"Não há como usurpar a soberania, porque todo tratado internacional depende da anuência dos Estados. Depende de os Estados aderirem a esse tratado voluntariamente. Cada Estado só vai fazer isso se assim entender por bem e, depois, ratificá-lo dentro do seu ordenamento jurídico", explicou a doutora em direito internacional e professora na Universidade Mackenzie Helisane Mahlke. A especialista lembra, ainda, que a OMS é uma agência da ONU e não atua de forma autônoma.

Posts nas redes sociais também têm citado, de forma irônica, a intenção da entidade de combater teorias conspiratórias em situações de crises sanitárias. O artigo 18 do tratado prevê quatro regras para evitar desinformação em momentos de emergência em saúde pública, mas não dá detalhes como serão implementadas.

Leia a verificação completa no site do Comprova.

Por que investigamos

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984. Sugestões e dúvidas relacionadas a conteúdos duvidosos também podem ser enviadas para a Folha pelo WhatsApp 11 99486-0293.

A investigação desse conteúdo foi feita por BandNews FM e publicada em 28 de março pelo Comprova, coalizão que reúne 42 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, piauí, Correio, Estado de Minas, SBT e SBT News.

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