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Paxlovid não tem eficácia para reduzir risco de sequelas pós-Covid após 15 dias de uso

Droga antiviral da Pfizer não reduziu os sintomas após dez semanas de avaliação em ensaio clínico

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São Paulo

O tratamento com o antiviral Paxlovid contra o Sars-CoV-2 por 15 dias não reduziu o risco de desenvolver sequelas pós-Covid, segundo um estudo clínico duplo-cego, randomizado e controlado feito nos Estados Unidos.

Após três meses da infecção inicial, os participantes com Covid longa foram avaliados para o efeito do tratamento com Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir), da Pfizer, na redução dos sintomas. Dois grupos receberam o tratamento por 15 dias, enquanto o outro recebeu substância placebo (isto é, inócua) combinado com o ritonavir. Como conclusão, os pesquisadores não verificaram diferença significativa na redução das sequelas da Covid.

Caixas do medicamento Paxlovid, utilizadas no tratamento da Covid, estão empilhadas com uma delas inclinada para frente, destacando-se contra um fundo neutro
Caixas da pílula contra Covid da Pfizer, Paxlovid - Jennifer Lorenzini - 07.set.22/Reuters

O artigo foi publicado na última sexta-feira (7) no periódico científico Jama Internal Medicine.

O estudo, chamado STOP-PASC (sigla em inglês para sequelas pós-agudas da infecção por Sars-CoV-2), envolveu 155 participantes de novembro de 2022 a setembro de 2023 na Universidade de Stanford, na Califórnia.

Os voluntários eram pessoas com mais de 18 anos que relataram dois ou mais sintomas persistentes após no mínimo 90 dias desde a infecção inicial com diagnóstico comprovado de Covid. Não houve diferença entre a gravidade da Covid inicial nos participantes.

Dentre os principais sintomas relatados estão fadiga (100%), confusão mental (95,5%) e dores no corpo (57,8%).

Os participantes receberam o tratamento por 15 dias e foram avaliados dez semanas depois. Na primeira avaliação, 99 dos 102 (97,1%) participantes do grupo que recebeu a droga tiveram os sintomas da Covid longa, e 49 dos 53 (92,5%) do grupo placebo, indicando que o Paxlovid não foi eficaz em reduzir o risco de sequelas da Covid.

Também não houve diferença significativa nos participantes que responderam com a melhora dos sintomas após dez semanas de avaliação entre o grupo de intervenção (32,4%) e placebo (41,5%), indicando que a melhora nos casos se deu, provavelmente, a uma resolução normal das sequelas pós-Covid.

Outros estudos buscaram avaliar a eficácia de drogas antivirais contra a Covid longa, incluindo o Paxlovid. Segundo os autores do estudo, relatos anedóticos de melhora eram conhecidos por médicos e outros profissionais de saúde, mas esse foi o primeiro estudo clínico randomizado, duplo-cego e controlado a fazer essa comparação.

Como conclusão, os autores afirmam que a Covid longa é multifatorial, e as razões que levam algumas pessoas a desenvolvê-la ainda não estão muito claras. Um estudo feito no Brasil aponta que 3 em 4 pessoas com Covid no Rio Grande do Sul tiveram sintomas pós-Covid até um ano após a infecção inicial.

Outras pesquisas indicaram uma redução nas sequelas pós-coronavírus com a vacinação, principalmente com as doses de reforço bivalente.

Uma pesquisa feita com indivíduos vacinados até a quarta dose que tomaram Paxlovid apontou uma queda de 44% no risco de hospitalização. No estudo publicado na última sexta, porém, não houve diferença significativa entre os vacinados e indivíduos que não completaram o esquema vacinal para o desenvolvimento das sequelas pós-Covid após o tratamento.

O Paxlovid foi incorporado ao SUS (Sistema Único de Saúde) em 2022, mas ainda demora a chegar a todos os hospitais públicos brasileiros e farmácias, conforme levantamento feito pela organização Fiquem Sabendo a partir de um pedido de LAI (Lei de Acesso à Informação). Dos 3,2 milhões adquiridos pelo Ministério da Saúde, 2,7 milhões foram distribuídos aos estados, sendo que 472 mil seguem estocados.

No estudo global do medicamento, conduzido pela Pfizer, a droga apresentou eficácia na redução de 89% do risco de hospitalização e morte por Covid.

Uma nova pesquisa, publicada no final de 2023, aponta que a droga reduz o risco de internação também em grupos de maior risco, como idosos e pessoas imunocomprometidas, de 2,5% até 28 dias após o uso.

O Paxlovid é uma combinação de dois antivirais, o nirmatrelvir e o ritonavir. O seu uso foi aprovado no Brasil pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em março de 2022. No mesmo ano, a agência autorizou a comercialização em farmácias. A incorporação pela Conitec, comitê que avalia novas drogas e tecnologias para o SUS, foi publicada no mesmo ano, mas a disponibilização da droga nos hospitais públicos é escassa, segundo especialistas.

A administração do Paxlovid consiste em dois comprimidos, de 400 mg cada, duas vezes ao dia, por cinco dias. Segundo a Anvisa, o uso não deve ser maior do que os cinco dias e também não é indicado para gestantes ou pacientes com insuficiência renal grave.

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