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Vídeo pode colocar saúde em risco ao indicar automedicação para pessoas com sintomas de infarto

Medicamentos citados em post viral são usados no tratamento, mas é preciso buscar ajuda médica

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São Paulo

Vídeo compartilhado nas redes sociais coloca pessoas em risco, ao indicar que pacientes com sintomas iniciais de infarto agudo do miocárdio se automediquem com ácido acetilsalicílico, também conhecido como AAS, e clopidogrel, dois medicamentos que diminuem a formação de coágulos no sangue.

Na gravação, visualizada mais de 2,1 milhões de vezes no TikTok até 14 de junho, o médico Juan Lambert dos Santos desinforma ao afirmar que a ingestão dos medicamentos reduz em 42% o risco de morte por infarto —no Brasil, há de 300 mil a 400 mil casos de ataque cardíaco por ano, e estima-se que, a cada cinco ou sete, uma pessoa morre. "Deveria ser obrigatório todo paciente cardiopata, hipertenso, obeso, diabético, andar com esses comprimidos no bolso", diz ele no vídeo.

Yodiyim/Adobe Stock
Pessoa com sintomas de infarto deve buscar ajuda médica, e não se automedicar, diferentemente do que afirma post viral - Ilustração em 3D mostra corpo em tons de azul e o coração em vermelho fluorescente. O corpor aparece do queixo até costelas./Yodiyim/Adobe Stock

Segundo especialistas consultados pela Folha, ao incentivar a automedicação, o conteúdo é perigoso, uma vez que a ingestão dos medicamentos pode levar a complicações e até a morte. "São drogas que podem provocar hemorragia, inclusive gastrointestinal. Às vezes, aquilo que o paciente suspeita ser infarto pode ser a manifestação de uma outra doença. Se for uma dissecção de aorta e o paciente tomar esses medicamentos, o resultado pode ser desastroso", afirma Gerson Bredt, vice-presidente do Conselho Administrativo da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Bredt explica que, de fato, tanto o AAS quanto o clopidogrel são medicamentos que integram parte do atendimento inicial para pacientes com diagnóstico de infarto. A medicação, no entanto, só pode ser administrada após avaliação clínica e exames médicos, como o eletrocardiograma. Ele também alerta que a eficácia dos fármacos para reduzir o risco de mortalidade por infarto não foi comprovada com os dois tratamentos isolados. "Não existe nenhuma diretriz no mundo em que essa automedicação é recomendada", completa.

O médico cardiologista Carlos Alberto Pastore, diretor médico da unidade clínica de eletrocardiografia de repouso do InCor (Instituto do Coração), também alerta para os riscos da automedicação. "Se houver sintomas como dor no peito, com irradiação para os braços, sensação de morte iminente e suor frio, tem que buscar ajuda rapidamente. O caminho é o pronto-socorro, não dá para tratar em casa", afirma.

A reportagem tentou contato com o Ministério da Saúde a respeito do tema, mas não houve resposta até a publicação deste texto. O guia da pasta para manejo inicial de pacientes diagnosticados com infarto e atendidos pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel) inclui o uso combinado de AAS e Clopidogrel, contudo, apenas após o diagnóstico.

Procurado pela Folha, o CFM (Conselho Federal de Medicina) disse que, para manter sua isenção como instância de julgamento em grau de recurso, não comenta casos concretos. O órgão, no entanto, reforçou seu posicionamento contra a automedicação, "tendo já promovido e apoiado inúmeras campanhas e ações de conscientização dos riscos inerentes junto à população".

O médico Juan Lambert dos Santos foi procurado, mas não respondeu até a publicação deste texto.

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