Antes desconhecido, Richarlison vira revelação brasileira do Inglês

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Crédito: Eddie Keogh/Reuters Richarlison comemora gol marcado em jogo do Watford pelo Campeonato Inglês
Richarlison comemora gol marcado em jogo do Watford pelo Campeonato Inglês

ALEX SABINO
LUIZ COSENZO
DE SÃO PAULO

A mudança para a Inglaterra trouxe uma preocupação para Richarlison, 20. O medo não vinha de como se adaptar ao veloz futebol local ou pela transferência para uma equipe pequena, que parecia destinada a lutar contra o rebaixamento. Nem do frio que o fez, pela primeira vez na vida, ver neve.

O medo era não ter arroz e feijão no prato.

"É o que mais gosto de comer. Todo dia tenho de ter arroz e feijão", disse o atacante, à Folha, por telefone.

Ao ser contratado no início de agosto de 2017, ele não sabia nada sobre o Watford FC. No seu novo clube, também ninguém o conhecia. Cinco meses depois, Richarlison é uma das surpresas do Campeonato Inglês.

O jogador revelado pelo América-MG é um dos responsáveis pelo Watford estar na décima posição. Uma colocação respeitável para equipe que teve como grande momento o vice-campeonato da Copa da Inglaterra de 1984.
Ele é o segundo maior artilheiro do elenco (cinco gols) e o principal assistente (quatro passes para gols).

"Ele abre espaços, dá opções ofensivas e é difícil de ser marcado", analisou o ex-atacante Alan Shearer, hoje comentarista da BBC e quinto maior artilheiro da história do Campeonato Inglês, com 283 gols marcados.

Richarlison não credita a rápida adaptação ao seu estilo de jogo nem ao fato de o técnico do Watford ser o português Marco Silva. Ele agradece à preparação que tem fora de campo.

"Há momentos em que preciso pegar o celular para usar o tradutor quando vejo palavras em inglês. Mas tudo está sendo melhor do que eu esperava", completa.

Sozinho, ele reconhece que estaria perdido. Tímido, Richarlison tem a fala mansa e admite que a necessidade do arroz com feijão é um símbolo da própria simplicidade.

Quando se mudou para Watford, levou junto o empresário Renato Velasco e a mulher dele, Giovanna. É ela quem cuida de que o prato preferido do atacante esteja presente. Richarlison também carregou o amigo, Pedro Emanuel. Para aprender a língua, não se contenta com as três horas e meia semanais que o clube lhe paga de curso de inglês. Contratou um professor particular.

Para todas as outras coisas, há Gomes, o goleiro brasileiro do Watford.

"Ele me dá carona para o treino. Ainda não tenho carteira de habilitação. Gomes me ajudou a alugar casa, está sempre presente", afirma.

CAPA DE JORNAL

Richarlison quer aprender inglês por causa do dia a dia. Para poder sair com liberdade de casa sem depender de um app do celular para se comunicar. Não é por causa do Watford. O clube é uma torre de babel. São jogadores de 17 nacionalidades diferentes. Ele acredita também que falar outra língua vai ajudá-lo no futuro. O brasileiro é simples, mas não é bobo. Sabe que seu nome é colocado em boatos nesta janela de transferências na Europa.

Após marcar o segundo gol do Watford na vitória sobre o West Ham, em 19 de novembro, o atacante foi capa de esportes do diário "The Times". "Richarlison é a maior surpresa da temporada", escreveu o ex-atacante Tony Cascarino, colunista do jornal.

"Vejo matérias saindo que Tottenham, Arsenal e Chelsea estão interessados em mim. Falaram que eu estava errado em sair do Fluminense e vir para um time que estava brigando para não ser rebaixado, mas não adiantaria sair do Fluminense e ir para um clube em que não estaria adaptado. É interessante pegar experiência e depois quem sabe me transferir para um grande", completa.

Não que ele goste de programar tanto assim o futuro. Sabe que as coisas no futebol às vezes não saem como o esperado. No ano passado, estava acertado para jogar no Palmeiras. Acabou como vilão porque não atuou em partida contra a equipe paulista no Brasileiro. Foi chamado de "mercenário."

"Foi um pedido [para não jogar] das pessoas que intermediavam a negociação. Não foi ideia minha. Serviu de aprendizado. Não vou repetir essa situação."

É apenas uma das coisas que ele não pretende viver mais. Na infância em Nova Venécia, no Espírito Santo, sua mãe ganhava R$ 250 a cada 15 dias e era com esse dinheiro que tinham de se virar com a alimentação. Nos dias finais, antes do pagamento seguinte, o filho ia para a casa da tia para ter o que comer. Mas isso não é algo presente como trauma na vida de Richarlison. Pelo contrário. Ele não dá muita importância.

"Não tenho do que reclamar. Tive uma infância muito feliz", lembra.

Em Watford, Richarlison, uma das revelações do campeonato nacional mais rico do mundo, não reclama de nada. A torcida está contente com seu desempenho, ele faz gols, tem amigos por perto e arroz e feijão no prato.

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