Elite do Paulista vê número de goleadas desabar em 10 anos

Para especialistas, melhora dos times menos estruturados explica queda dos placares

Gustavo Scarpa comemora gol marcado na vitória do Palmeiras sobre o Ituano por 3 a 0
Gustavo Scarpa comemora gol marcado na vitória do Palmeiras sobre o Ituano por 3 a 0 - Cesar Greco/Ag. Palmeiras
Eduardo Geraque Luiz Cosenzo
São Paulo

As goleadas do Campeonato Paulista estão mais raras.

Levantamento feito pela Folha na primeira fase dos torneios desde 2008 mostra que o número de vitórias por três gols ou mais de diferença caiu vertiginosamente nas duas últimas temporadas em relação aos anos anteriores.

Em 2018, o número de goleadas chegou a seu patamar mais baixo, com 3 em 120 partidas, o que representa apenas 2,5% dos resultados.

A tendência de diminuição dos placares dilatados vem desde o ano passado, quando 10 dos 120 jogos (8%) da primeira fase acabaram com vantagem de três gols ou mais para o vencedor.

Os índices de goleadas em anos anteriores, no entanto, nunca ficaram abaixo dos 11% (veja no infográfico).

A queda é resultado de placares mais equilibrados tanto em partidas nas quais houve a participação dos quatro grandes clubes do Estado quanto naquelas em que só haviam times menores.

“As equipes do interior estão mais bem posicionadas taticamente. O estudo do adversário tem um peso essencial para evitar goleadas no Paulista”, afirma Pintado, treinador do São Caetano. 

O coordenador de futebol do São Paulo, Ricardo Rocha, vê uma dificuldade maior das grandes equipes para enfrentar rivais do interior.  

“Os times estão mais estruturados e investindo mais em contratações. É um crescimento geral”, diz o também ex-zagueiro, para quem o Campeonato Paulista ficará cada vez mais difícil.

Se nesta temporada não houve nenhuma goleada entre os clubes pequenos, no ano passado houve três. 

Entre 2014 e 2016 foram registradas uma média de dez vitórias por campeonato entre os times pequenos por pelo menos três gols de diferença. Com o recorde de 18 goleadas no Paulista de 2009.

As três vitórias expressivas de 2018 ocorreram em partidas dos times grandes contra pequenos: o Santos ganhou do Linense por 3 a 0, o Corinthians fez 4 a 0 sobre São Caetano e o Palmeiras venceu por 3 a 0 o Ituano.

No ano passado, das dez goleadas, sete foram aplicadas por clubes grandes —incluindo a vitória por 3 a 0 do Palmeiras no clássico contra o São Paulo, no Allianz.

Três jogos envolviam times pequenos. O Audax anotou 3 a 0 no Ituano. O Red Bull, em Campinas, fez 5 a 1 no Novorizontino. E o Ituano, jogando em casa, também goleou o Linense por 5 a 1.

A tese de Pintado e Rocha é corroborada por alguns estudiosos do esporte. Segundo eles, ao contrário do que indica o senso comum, o nível do futebol das equipes chamadas pequenas subiu.

Para eles, os clubes do interior estão cada vez mais organizados e, por isso, ganhar deles com facilidade tem sido mais complicado.

Para o pesquisador Israel Teoldo, da Universidade de Viçosa, até os torcedores das equipes do interior, normalmente, entendem o tamanho de seu clube diante do adversário. Com isso, times atuam mais fechados, evitando serem goleados pelos rivais. 

“Não existe mais muita pressão para o treinador quando ele, por exemplo, resolve jogar fechado, em casa, contra os chamados grandes”, analisa o especialista.

O analista de desempenho do Botafogo-SP, Henrique Furtado, corrobora a tese sobre o equilíbrio no futebol. 

“As equipes conseguem equilibrar mais os jogos porque possuem um departamento físico, de fisiologia e de análise de desempenho que ajudam no trabalho do treinador e dos jogadores”.

MENOS TIMES

A Federação Paulista de Futebol mudou o regulamento do Campeonato Paulista a partir de 2017, o que pode ter influenciado na menor quantidade de goleadas. 

Como o número de times caiu de 20 para 16, o equilíbrio tende a ficar maior pois os quatro piores times acabaram ficando na segunda divisão. O número de partidas também caiu de 150 para 120.

Entre as edições de 2014 e 2016, quando o Paulista teve o mesmo formato, e um total de 150 jogos na fase de classificação, o índice de goleadas variou de 13% a 17%.

Antes, de 2008 a 2013, a primeira fase da competição teve 190 partidas. Cada um dos 20 times jogou 19 vezes, em turno único. 

As goleadas, no mesmo período, variaram de 12% a 17%. Ou de 22 a 32 por torneio.

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