Estou com a consciência tranquila, afirma árbitro da final do Paulista 

Marcelo Aparecido Ribeiro diz não ter havido influência externa ao voltar atrás em pênalti

O árbitro Marcelo Aparecido de Souza ao final da partida entre Palmeiras e Corinthians no último domingo (8)
O árbitro Marcelo Aparecido de Souza ao final da partida entre Palmeiras e Corinthians no último domingo (8) - Ricardo Nogueira/Folhapress
Alex Sabino Luiz Cosenzo
São Paulo

Funcionários da FPF (Federação Paulista de Futebol) tiveram longa conversa com o árbitro Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza após a final do Campeonato Paulista, na noite de domingo (8). Ainda no vestiário do Allianz Parque, pediram para que ele evitasse declarações até que a poeira baixasse.

Horas depois, na segunda (9) de manhã, o juiz desandou a falar com a imprensa. 

Ribeiro de Souza estava ansioso demais para dar sua versão sobre o que aconteceu em campo e não se conteve.

“Eu tenho de esclarecer. Estou chateado, mas com a consciência tranquila”, disse o árbitro à Folha.

O Corinthians venceu o Palmeiras por 1 a 0 (depois por 4 a 3 nos pênaltis) e foi campeão. Mas a partida ainda causa discussões pela marcação de pênalti de Ralf sobre Dudu aos 26 min do segundo tempo. O árbitro, em seguida, voltou atrás e deu só escanteio para o Palmeiras.

Os palmeirenses se revoltaram e apontaram influência externa sobre a arbitragem, o que é proibido. Por causa das reclamações dos jogadores, a partida ficou oito minutos parada. O clube alviverde jogava pelo empate para ser campeão.

"Não houve interferência externa. A dificuldade se deu por conta dos jogadores. Eles não aceitavam a marcação e não havia comunicação com o quarto árbitro. Por conta disso, houve uma demora", afirma Ribeiro de Souza, que admite ter sido um problema levar tanto tempo para resolver a questão.

Segundo ele, Adriano de Assis Miranda, o quarto árbitro que estava na lateral do campo, foi quem o avisou que não havia ocorrido o pênalti.

"Imagina se eu peitasse o quarto árbitro, fosse contra tudo e desse o pênalti... Eu estaria com a consciência pesada", afirma Ribeiro de Souza.

"Eu sabia que o Adriano [quarto árbitro] estaria na lateral. Estava combinado. Também por causa dos conflitos que houve entre essas equipes", explica ele, citando que o posicionamento foi acertado no sábado (7), em hotel próximo à sede da FPF.

A final do Estadual não foi a primeira vez que Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza se envolveu em polêmica de suposta ajuda externa à arbitragem em jogo do Palmeiras.

Em abril de 2016, ele expulsou o preparador físico Omar Feitosa por usar um aparelho de comunicação para receber mensagens do então técnico Cuca. Isso é proibido pela Fifa. Ele foi avisado da irregularidade pelo quarto árbitro Magno de Sousa Lima Neto.

O caso se tornou polêmico porque o Palmeiras suspeitou que a revelação sobre o ponto eletrônico havia sido feita pela equipe do SporTV, que transmitia a partida contra o Rio Claro, pelo Paulista. 
Ribeiro de Souza negou na época a ajuda externa.

Por causa da polêmica da final de domingo, o Palmeiras cumpriu a promessa de não enviar representantes à festa de encerramento do torneio, nesta segunda (9).

Jailson, Antônio Carlos, Marcos Rocha, Victor Luís, Felipe Melo, Lucas Lima, Dudu, Borja e o técnico Roger Machado foram eleitos para a seleção do campeonato, mas nenhum deles compareceu ao evento da federação.

Após o jogo, o presidente palmeirense, Maurício Galiotte, chamou o Paulista de “paulistinha

PRÊMIO

Aos 45 anos, o árbitro considerou ter sido premiado pela chance de apitar a final. Ele já havia entrado cinco vezes na lista do sorteio, mas não foi sorteado.

Esta é a última temporada  de Ribeiro de Souza no quadro de árbitros da federação paulista. Em outubro ele completará 46 anos e vai ultrapassar a idade limite. Poderá apenas trabalhar em competições da CBF, nas quais o limite de idade é de 50 anos.

São duas décadas trabalhando para a FPF. Segundo seus cálculos, foram mais de cem partidas apitadas da Série A1, a elite do estado.

Em 2017, ele comandou a final da Copa do Brasil, entre Cruzeiro e Flamengo.

“Os jogadores também não colaboram com a a arbitragem. Se comparar com o [Campeonato] Inglês, a Liga dos Campeões, em qualquer problema o árbitro vai ao assistente, conversa e não tem 15 jogadores ouvindo sua conversa, tentando tumultuar a partida”, lamenta o árbitro, que afirma ter começado a apitar jogos porque foi a maneira que encontrou para estar dentro do futebol. 

Escudo do Corinthians foi arrancado da sede da FPF (Federação Paulista de Futebol)
Escudo do Corinthians foi arrancado da sede da FPF (Federação Paulista de Futebol) - Alex Sabino/Folhapress

PALMEIRAS NÃO SERÁ PUNIDO POR VANDALISMO FORA DA ARENA

O TJD (Tribunal de Justiça Desportiva) de São Paulo afirmou que não punirá o Palmeiras pelo vandalismo de seus torcedores fora do estádio Allianz Parque após o jogo do último domingo (8), quando a equipe perdeu para o Corinthians e ficou com o vice-campeonato Paulista. 

Logo após a partida, os torcedores palmeirenses depredaram cinco trens da estação Palmeiras-Barra Funda, a mais próxima do estádio.

De acordo com o Metrô, a depredação na estação danificou também lixeiras, extintores, porta de hidrante, câmera de vídeo, máquinas de recarga de Bilhete Único e aparelho de telefone.

A torcida palmeirense depredou também a sede da FPF (Federação Paulista de Futebol). O escudo do Corinthians que estava na entrada da sede da federação, no bairro da Barra Funda, foi arrancado e jogado na rua. Foram atiradas pedras no prédio, que quebraram algumas vidraças no primeiro andar.

Segundo funcionários da entidade, os torcedores dispararam rojões dentro na garagem. Um carro foi vandalizado. Ninguém ficou ferido.

“Vamos julgar o que aconteceu no estádio. Fora do local, a responsabilidade é da Polícia Militar e da Polícia Civil”, disse o delegado Antônio Olim, presidente do TJD.

Ele afirmou que o Tribunal ainda não recebeu a súmula do jogo, o que deverá acontecer nesta terça (10). O documento, porém, relata que objetos foram arremessados no gramado por torcedores após a partida. O time pode ser responsabilizado por esses atos. 

Olim evitou comentar se o presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, será denunciado após o pronunciamento feito no domingo (8). 

O mandatário criticou o campeonato e disse que a arbitragem da final havia jogado a competição no lixo.

“Esqueçam o campeonato. O Palmeiras é maior do que o Paulistinha”, disse Galiotte após a partida.
Expulsos no jogo de ida da final do Paulista, o volante Felipe Melo e o atacante Clayson serão julgados no dia 16. Se forem punidos, cumprirão pena na próxima competição realizada pela FPF em que estiverem inscritos.

A Procuradoria do órgão ainda deve oferecer outras denúncias, já que torcedores corintianos acenderam sinalizadores durante a partida, realizada no Itaquerão, e também arremessaram objetivos em jogadores do Palmeiras. 

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