Descrição de chapéu campeonato brasileiro Futebol

Após tropeços na Europa, Gabriel se diz mais maduro e lidera Santos

Mesmo aos 21 anos, atacante procura ser referência para os mais jovens

Klaus Richmond
Santos

O recente jejum de oito jogos sem marcar gols pelo Santos, encerrado aos 43 minutos do primeiro tempo da vitória por 2 a 0 contra o Estudiantes, pela Libertadores, no último dia 24, foi o menor dos problemas de Gabriel Barbosa, 21.

Três meses após a volta à Vila Belmiro, o atacante trabalha intensamente para mostrar outra face: a de jogador maduro. O camisa 10 santista, no entanto, ainda precisa superar um histórico que lhe pesa desfavorável.

 
Gabriel tem sido um líder para Jair Ventura no elenco do Santos, inclusive orientando os mais jovens
Gabriel tem sido um líder para Jair Ventura no elenco do Santos, inclusive orientando os mais jovens - Rafael Hupsel/Folhapress

“As pessoas veem o cabelo diferente, as tatuagens e criam um personagem em mim”, disse à Folha.

Negociado em agosto de 2016 com a Inter de Milão por 29,5 milhões de euros (R$ 108 milhões à época) como nome cotado à próxima Copa do Mundo, o jogador viu a passagem pela Europa ficar marcada pelo abandono ao banco de reservas antes do término de um jogo contra a Lazio e até por uma premiação indesejada, a de “Bidone d’Oro” (que traduzido significa lixeira de ouro), atribuída por jornalistas ao pior estrangeiro na Itália. Tudo isso seguido de um empréstimo apagado pelo Benfica.

“Nunca houve deslumbre meu na Europa. Quando errei, pedi desculpas”, afirmou.

O recomeço no Santos, porém, tem sido intenso. Respondeu logo em campo, com quatro gols nos quatro primeiros jogos, mas também acumulou cartões em série.

Pouco depois, veio a expulsão ainda no primeiro tempo da estreia como mandante pela Libertadores, diante do Nacional, considerado fundamental para a equipe após ser derrotada no primeiro jogo da competição.

“Aconteceu, embora dentro de campo tente fazer de tudo para não tomar decisões que possam prejudicar a equipe. Pedi desculpas ao Jair [Ventura] e a todos. Não faço nada forçado, todos conhecem o meu jeito. Com o tempo tenho mudado, aprendido algumas coisas”, disse.

E Gabriel, de fato, apresenta sinais de mudanças. Primeiro, cessou com reclamações mais acaloradas e, como consequência, atingiu contra os argentinos o oitavo jogo consecutivo sem tomar cartões.

O jogador ainda passou a ouvir constantes conselhos para evitar atitudes que possam lhe trazer prejuízos. O experiente volante Renato, a quem chama carinhosamente de “vovô”, é um dos mais influentes nesse sentido.

Em um elenco que perdeu o centroavante Ricardo Oliveira e o meia Lucas Lima, Gabigol também encontrou motivação em virar referência para a nova geração de promessas santistas, que tem como principal nome o atacante Rodrygo.

“Vejo que o que tem acontecido com o Rodrygo, o Yuri [Alberto] e com o Arthur [Gomes]. Quando vejo eles fazendo algo já digo: ‘não faz isso, não, vem na minha’. Eles têm escutado”, disse o jogador, que também revela outro lado: “Eles também falam comigo quando dou uma enlouquecida”.

A nova fase mais madura de Gabriel é construída por uma sólida relação de confiança com o técnico Jair Ventura. Os dois conversam constantemente no dia a dia.

 
Atacante encerrou jejum de oito jogos sem gols diante do Estudiantes, na última rodada da Libertadores
Atacante encerrou jejum de oito jogos sem gols diante do Estudiantes, na última rodada da Libertadores - Rafael Hupsel/Folhapress

Após a última partida do Santos, Ventura o defendeu publicamente das críticas alegando ter evitado “ir na onda” dos que questionavam a titularidade do camisa 10 pelo longo período sem gols.

“Nos parecemos muito, somos muito competitivos e queremos ganhar de qualquer jeito. Nossa afinidade começou por aí. Ele sabe conversar, entende como acessar o jogador”, conta o camisa 10.

Fã confesso de psicologia, Jair vê Gabriel como uma “liderança técnica e motivacional” no clube, um jogador fundamental para manter o equilíbrio no vestiário.

Dentro de campo, a maturidade é vista pelo entendimento de um trabalho mais coletivo e menos individual. Topou jogar mais centralizado, diferente do posicionamento que lhe rendeu a melhor fase no clube, quando atuava aberto pelo lado direito.

“Ainda sou obcecado por gols. Isso é algo que é natural do cara que está lá na frente, mas quando não acontece não vou mais para casa triste. Quero ser muito mais coletivo do que sou. Atacante pode ser importante ajudando na marcação, também. São coisas que podem ser analisadas melhor”, disse.

O novo momento do jogador, outrora só um figurante entre as lideranças do elenco, também ajuda em situações delicadas vividas pelo grupo, como o problema envolvendo o meia Diogo Vitor, flagrado no exame antidoping.

“Eu também não esperava ir [para a Europa] e acabar voltando, mas tudo levamos como aprendizado. Pude entender que, talvez, a maneira dele tenha que ser essa”, explicou. Os dois foram parceiros na base por um curto período.

Estar na Copa, por sua vez, é um sonho que o jogador trata como ainda possível, mas sem obsessão: “Vou falar sinceramente que não trabalho para ir à seleção. Trabalho para o Santos e, consequentemente, as coisas podem acontecer”.

Gabriel diz que é cedo para pensar em permanência no clube que chama de casa, até porque tem contrato a cumprir com a Inter de Milão.

Mais que resultados dentro de campo, a conquista da Libertadores é o principal sonho. Gabriel constrói uma personalidade mais madura para não naufragar nos futuros voos. No Santos e com Jair, tem o cenário ideal para isso.

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