Descrição de chapéu The New York Times

Donald Trump cancelou visita do Philadelphia Eagles à Casa Branca

Presidente americano irritou-se ao saber que boa parte do time não compareceria

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Michael D. Shear
Washington | The New York Times

O presidente Donald Trump cancelou abruptamente uma celebração na Casa Branca para homenagear o Philadelphia Eagles, vencedor do Super Bowl deste ano, depois que quase todos os jogadores e treinadores anunciaram que boicotariam a ocasião, por conta da demanda presidencial de que os jogadores assistam em pé à execução do hino nacional durante as partidas.

Eli Harold, Colin Kaepernick e Eric Reid, do San Francisco 49ers
Os jogadores Eli Harold, Colin Kaepernick e Eric Reid, do San Francisco 49ers se ajoelham durante execução do hino americano, em protesto contra a violência policial e injustiças raciais nos Estados Unidos - Thearon W. Henderson - 6.out.2016/AFP

Representantes da Casa Branca disseram que menos de 10 membros da equipe planejavam participar da festa, que teria sido realizada na tarde da terça-feira no gramado sul da residência presidencial, depois de semanas de planejamento para o evento, que usualmente é uma celebração não política de uma vitória esportiva.

Em lugar disso, a festa em homenagem ao Eagles este ano se tornou um reflexo amargo das profundas divisões que existem nos Estados Unidos quanto a raça, patriotismo e Trump.

Quando ficou claro que a maioria dos jogadores não compareceria, Trump divulgou uma declaração combativa em que retirava o convite.

"O Philadelphia Eagles não poderá comparecer com seu time completo à Casa Branca para a festa amanhã", afirmou Trump em comunicado divulgado na noite da segunda-feira.

"Eles discordam de seu presidente porque ele insiste em que ouçam em pé e com orgulho o hino nacional, com a mão no coração, em honra dos grandes homens e mulheres de nossas forças armadas e do povo de nosso país".

Trump afirmou no comunicado que mais de mil torcedores haviam sido convidados para a festa e que continuavam convidados para visitar a Casa Branca, para o que presidente definiu como "um tipo diferente de cerimônia - que honrará nosso país, prestará homenagem aos heróis que lutam para protegê-lo, e na qual o nino nacional será tocado bem alto e com todo orgulho".

O presidente disse que "estarei lá às 15h com a banda do corpo de fuzileiros navais e com coral do exército, para celebrar a América".

Em post no Twitter na manhã de terça-feira, Trump invocou a questão de novo, e promoveu seu novo evento sobre o hino nacional. "NFL, nada de fuga para os vestiários", escreveu o presidente.

Dirigentes do time não foram localizados para comentar. O Eagles divulgou um comunicado no Twitter na noite da segunda-feira que não tratava da controvérsia, mas agradecia os torcedores por seu apoio, depois do primeiro título do clube na NFL.

"Testemunhar a união de toda a comunidade do Eagles foi uma benção", o texto afirmava.

Alguns jogadores do Eagles trataram a questão de forma mais direta, contestando partes da declaração do presidente. Torrey Smith, que jogava pela Eagles como recebedor, atacou Trump no Twitter pouco depois da divulgação do comunicado.

"Tantas mentiras", escreveu Torrey. "Lá vão alguns fatos: 1. Não muita gente pretendia ir. 2. Ninguém se recusou a ir simplesmente porque Trump 'insiste' em que as pessoas ouçam em pé o hino. 3. O presidente continua a insistir na falsa narrativa de que os jogadores são antimilitares".

Em declaração divulgada na noite de segunda-feira, Jim Kenney, prefeito de Filadélfia, disse que cancelar o convite para que os Eagles fossem à Casa Branca "só servia para provar que nosso presidente não é um verdadeiro patriota, mas um egomaníaco frágil obcecado com o número de espectadores em seus eventos e temeroso do embaraço que sofreria por organizar uma festa à qual ninguém quis ir".

"A prefeitura está sempre aberta se eles quiserem celebrar", disse Kenney. 

Não é inédito que atletas recusem convites da Casa Branca para festas que celebram suas vitórias, em alguns casos por motivos políticos.

Alguns jogadores do New England Patriots optaram por não ir à festa por seu título, em 2017. Larry Bird, astro do basquete do Boston Celtics, optou por não participar de uma visita a Ronald Reagan em 1984.

Michael Jordan, do Chicago Bulls, não compareceu a uma celebração na Casa Branca com o presidente George Bush pai, em 1991, justificando a ausência por conflitos de agenda.

Mas uma disputa entre um presidente e figuras do esporte raramente - ou nunca - explodiu com tamanha rapidez e de modo tão espetacular.

O choque entre o Eagles e o presidente é a culminação de uma controvérsia cultural que Trump inflamou em setembro do ano passado, ao atacar Colin Kaepernick, ex-quarterback do San Francisco 49ers, por ouvir ajoelhado o hino nacional., em protesto contra a brutalidade da polícia contra os negros americanos.

"Vocês não adorariam que um proprietário de clube da NFL dissesse, quando alguém desrespeita nosso hino, 'tire aquele filho da puta do campo imediatamente. Fora! Ele está demitido! Demitido!'", disse o presidente em um comício no Alabama.

A declaração causou feroz debate nacional sobre o direito dos jogadores de futebol americano a protestar em um momento de visibilidade nacional. Trump se recusou repetidamente a recuar, dizendo que o que estava em jogo era o respeito à bandeira dos Estados Unidos; ele define sua posição como patriótica.

E na segunda-feira, ele reiterou esses pensamentos. "O Philadelphia Eagles estava convidado para uma visita à Casa Branca", ele escreveu no Twitter.

"Infelizmente, apenas alguns poucos jogadores decidiram aceitar, e cancelamos o evento".

Muitos dos jogadores discordam, dizendo que seus protestos durante o hino são sobre questões que os incomodam profundamente. Nos primeiros dias depois da declaração do presidente, no ano passado, muitos jogadores da liga decidiram se ajoelhar durante a execução do hino nacional, antes dos jogos, em protesto contra Trump.

A discussão sobre como os jogadores deveriam se comportar durante a execução do hino nacional prosseguiu por muitos meses, por trás de portas fechadas. Em outubro, em uma reunião na sede da NFL, os jogadores e proprietários de times debateram como a liga deveria responder às críticas do presidente.

O jornal The New York Times obteve uma gravação em áudio da conversa.

A discussão de três horas revelou profundas divisões entre os jogadores e os proprietários. Os donos dos times da NFL pareciam determinados a encontrar uma maneira de evitar as críticas continuadas de Trump, que na opinião deles criavam rejeição à NFL da parte do público.

Jeff Lurie, o dono do Eagles, disse na reunião que a presidência de Trump estava a sendo "desastrosa", mas acautelou os jogadores a não se deixarem provocar pela tática do presidente.

"Temos de ser cuidadosos para não cairmos nas armadilhas de Trump ou qualquer outra pessoa", disse Lurie na reunião de outubro. "Temos de encontrar uma maneira de não cair na provocação e de nos mantermos unidos".

Lurie não respondeu a um email pedindo seus comentários, na noite de segunda-feira.

A tensão entre o presidente e os jogadores ressurgiu nas últimas semanas, depois que os proprietários da NFL decretaram, no mês passado, que os jogadores seriam punidos - e seus times multados - se eles se ajoelhassem durante o hino nacional.

Os proprietários afirmaram que os jogadores poderiam ficar no vestiário durante a execução do hino, se assim preferissem.

A associação dos jogadores contestou a decisão, afirmando que ela violava os "princípios, valores e patriotismo de nossa liga". Mas Trump a elogiou.

Falando a jornalistas, ele disse que se um jogador optasse por não se levantar para o hino nacional "ele talvez não devesse viver neste país".

Em seu posto da noite de segunda-feira no Twitter, Trump criticou os jogadores que venham a optar por ficar no vestiário.

"Ficar no vestiário durante a execução de nosso Hino Nacional é um desrespeito tão grande grande ao país quanto ouvi-lo ajoelhado. Desculpe!", escreveu o presidente.

A disputa continuada quanto à execução do hino nacional no início dos jogos de futebol americano serviu de pano de fundo às conversas entre a Casa Branca e o Philadelphia Eagles quanto à comemoração da vitória do time contra o New England Patriots no Super Bowl de fevereiro.

Normalmente, uma visita à Casa Branca seria uma decisão automática. Mas no final de abril, ainda não havia surgido um anúncio a respeito.

Depois de diversas perguntas, Sarah Huckabee Sanders, a secretária de imprensa da Casa Branca, disse que "estamos conversando com o Eagles sobre uma data e trabalhando com eles para que a visita aconteça".

Mais tarde, foi anunciada a data da visita: terça-feira, 5 de junho.

Mas a controvérsia aparentemente continuou, nos bastidores. Um funcionário importante da Casa Branca afirmou que, inicialmente, mais de 80 integrantes da equipe do Eagles haviam solicitado credenciais de segurança para liberar sua presença no evento da terça-feira.

Mas depois da decisão da NFL proibindo protestos durante a execução do hino, o número de integrantes que planejavam participar encolheu rapidamente.

Um segundo funcionário da Casa Branca disse que o presidente se irritou com a decisão final do time de enviar apenas um punhado de representantes, ainda que tantos torcedores do Eagles tivessem sido convidados.

Os dois funcionários disseram que o presidente encarou a decisão como um sinal de desrespeito à presidência e à Casa Branca como casa do povo.

Normalmente, dezenas de jogadores e membros da comissão técnica participam da festa, em geral concluída com todo o time posando com o presidente para uma foto no gramado da Casa Branca.

Mas com a presença de apenas alguns poucos jogadores, o evento teria sido muito diferente.

A reação ao cancelamento abrupto da visita do time à Casa Branca foi feroz, especialmente entre os torcedores do Eagles.

Alguns afirmaram no Twitter que o time deveria ter comparecido e criticaram os jogadores por sua falta de apoio às forças armadas.

Outros defenderam o time veementemente, e disseram que foi o presidente que transformou o evento esportivo em causa política.

O senador Bob Casey, democrata da Pensilvânia, recorreu imediatamente ao Twitter para convidar os jogadores a visitar a sede do Congresso.

"Estou orgulhoso pelo que os Eagles realizaram este ano", escreveu Casey. "Vou desconsiderar essa manobra política da Casa Branca e convidar o Eagles a visitar o Congresso. @Eagles, vocês querem conhecer o Capitólio?"

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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