A palavra budetliáne vem de budet (será), futuro de byt’ (ser), e remonta aos primórdios do cubofuturismo, corrente artística russa dos anos 1910 que mesclava o traço cubista e a palavra futurista.
Antes de serem “cubofuturistas”, eram budetliáne, termo criado pelo poeta Velimir Khlébnikov (1885-1922), que se apelidou “presidente do globo terrestre” e foi um dos mentores do grupo do qual participaram poetas, pintores e compositores como Aleksei Krutchónykh, David Burliuk, Elena Guró, Mikhail Matiúchin e Vladímir Maiakóvski.
As ambições do coletivo não eram de desprezar: Krutchónykh e Khlébnikov queriam criar nada mais nada menos do que uma linguagem poética nova e universal.
A recusa ao passado e a busca por uma expressão sem precedentes se alinhavam ao projeto de um novo país. É escusado dizer que desses artistas foi Maiakóvski quem mais ligou sua criação à causa revolucionária, quem trouxe vigor e lirismo ao porvir. Ele não foi um mero arauto da Revolução, mas esta imagem tornou-se icônica: um georgiano altivo de blusa amarela que embasbacava fábricas quando recitava seus poemas, “amigo do palavrão e do coloquial, poeta das ruas, dos comícios”, como escreveu Boris Schnaiderman, expoente da difusão da cultura russa no Brasil.
Quando Maiakóvski se matou, aos 36 anos, ficaram atônitos: de 15 a 17 de abril de 1930, filas intermináveis se formavam para a despedida. O poeta que dizia que “budetliáne são os homens que serão” se calou, talvez quando o futuro que tentava agarrar se mostrou inalcançável. Mas que se respeite seu último pedido: “Que ninguém seja acusado pela minha morte e, por favor, nada de mexericos. O defunto não suporta isso”.
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