Descrição de chapéu Copa do Mundo

Finalista da Copa, Croácia concentra legado esportivo da antiga Iugoslávia

Nos esportes coletivos, croatas e sérvios rivalizam pela hegemonia nos Bálcãs

Marcelo Laguna
São Paulo
 

A dois dias de viver seu principal momento no futebol, a Croácia aguarda a disputa da final da Copa contra a França, neste domingo (15), para alcançar a glória que lhe falta como nação esportiva.

Um dos sete países que surgiram com o desmembramento da antiga Iugoslávia, a Croácia vem se apresentando como a principal potência esportiva dos Bálcãs desde o momento em que se tornou independente, em 1991.

Levantamento feito pela Folha mostra que, na história de medalhas olímpicas conquistadas por essas sete nações, os croatas aparecem com vantagem em relação aos vizinhos.

Desde sua primeira participação nos Jogos Olímpicos, em Barcelona-1992, a Croácia conquistou 33 medalhas, sendo 11 delas de ouro. Depois dela, o melhor desempenho é da Eslovênia, com 23 pódios no período, sendo 5 ouros.

A disputa pelo legado esportivo da antiga potência Iugoslávia é mais equilibrada com a Sérvia quando se leva em conta apenas os esportes coletivos —foi contra os sérvios que os croatas travaram uma sangrenta guerra pela independência de 1991 a 1995.

Ao se comparar os desempenhos dos dois países nas edições de Mundiais e Olimpíadas em cinco modalidades coletivas (basquete, futebol, handebol, polo aquático e vôlei), os sérvios aparecem com uma ligeira vantagem.

Os sérvios somam aí um total de 29 medalhas, 7 delas de ouro, graças à força e tradição do país no polo aquático e dos bons resultados no basquete e handebol. Já no futebol, a seleção integrou o grupo do Brasil na primeira fase da Copa e foi eliminada.

 

Os croatas, que conquistaram 20 pódios como nação independente nessas competições coletivas, se igualariam aos sérvios em ouros caso a seleção de futebol volte a surpreender na Rússia e fique com o inédito título da Copa.

Uma possível conquista como essa poderá fazer com que a Croácia mude até mesmo sua própria tradição esportiva. Potência no polo aquático, assim com os sérvios, os croatas já faturaram duas vezes o Mundial masculino e uma vez o torneio olímpico da modalidade, isso entre os homens.

Na Olimpíada do Rio-2016, o Brasil contratou o treinador croata Ratko Rudic, dono de seis medalhas olímpicas, para levar a seleção brasileira ao oitavo lugar, sua melhor participação na história dos Jogos.

A paixão croata pelo polo aquático é tamanha que pode ser testemunhada nas arquibancadas da Rússia, onde torcedores costumam vibrar com as jogadas da equipe usando as nada discretas toucas quadriculadas, usadas pela seleção croata na piscina.

A virada da Croácia no cenário esportivo mundial, contudo, começou muito distante das piscinas e dos gramados.

A campanha da seleção masculina de basquete em Barcelona-1992 até hoje é considerada como um dos grandes momentos desse novo país da história dos Jogos.

Comandada pelo excepcional ala-armador Drazen Petrovic, que morreu vítima de acidente automobilístico um ano depois, a Croácia contava com uma geração brilhante, na qual despontavam os alas Toni Kukoc e Dino Radja, que também atuaram na NBA.

O azar da Croácia foi ter encontrado pela frente aquele que é considerado o maior time de basquete da história.

A seleção dos Estados Unidos e seu chamado “Dream Team” (Time dos Sonhos), com Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird, entre outros, não teve problemas para derrotar seus adversários.

Na final, superaram os croatas por 117 a 85, também com tranquilidade. Mas, na cabeça dos torcedores, sempre ficou a dúvida sobre o que ocorreria caso o rival dos americanos fosse a antiga Iugoslávia, uma das maiores potências da história do basquete.

Dois anos antes, quando o antigo país ainda existia, um episódio ocorrido na final do Campeonato Mundial masculino, na Argentina, mostrou um pouco o que seria no futuro a rivalidade entre sérvios e croatas no esporte.

Após derrotar a União Soviética, os iugoslavos comemoravam o ouro quando um fotógrafo descendente de croatas invadiu a quadra com uma bandeira do país. De ascendência sérvia, o pivô Vlad Divac jogou a bandeira longe.

O episódio, retratado no documentário Once Brothers, da ESPN, marcou o início do rompimento de uma longa amizade dos então ícones iugoslavos Divac e Petrovic.

 
 
 
 

​Breve histórico  da Iugoslávia

Origem
Em 1918, com o fim da Primeira Guerra, é formado o Reino da Iugoslávia

Nazismo
Ocupada em 1941, a Croácia é governada por fascistas que promovem genocídio

Unificação
Após resistência comunista sérvia e o fim da Segunda Guerra, em 1945, países são unificados

Colapso
Em 1991, Eslovênia, Macedônia e Croácia se declaram independentes. No caso croata, guerra foi até 1995

Massacres
Entre 1992 e 1995, ocorre a Guerra da Bósnia, com fracasso de mediação da ONU e limpeza étnica

Independências
Em 2006, Montenegro declara independência da Sérvia. Dois anos depois, é a vez do Kosovo, que era administrado pela ONU desde 2000

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