Emergente, liga dos EUA começa a exportar atletas para a Europa

Canadense de 17 anos foi contratado pelo Bayern de Munique por R$ 37 milhões

Kevin Draper
Nova York

Pode-se aprender muita coisa sobre uma liga de futebol com base no valor de suas transferências.

De acordo com a Fifa, em 2017 as seis maiores federações de futebol do planeta, pelo critério dos valores líquidos gastos em contratações, foram as da Inglaterra, Alemanha, China, França, Itália e Estados Unidos. Cinco delas fazem perfeito sentido.

 

No seu primeiro jogo depois que a transferência foi anunciada, Davies marcou dois gols e fez duas assistências, calando ao menos temporariamente as dúvidas daqueles que acham que um menino de 17 anos não se encaixará bem na Bundesliga.

Davies disse em entrevista na segunda-feira (30) que o fato de que tenha podido jogar regularmente na MLS, em sua idade, havia sido vital para seu desenvolvimento, embora tenha admitido “aquele medo que todo mundo tem de ir para um clube grande e não conseguir se dar bem”.

O futebol europeu tem muita experiência com jogadores americanos promissores que ficaram devendo. Tim Howard e Clint Dempsey podem ter se saído bem no exterior, mas Freddy Adu e Landon Donovan não conseguiram o sucesso esperado.

Por enquanto, Davies, como a maioria dos jogadores jovens envolvidos em transações desse tipo, se concentra no lado positivo. “Se você chega lá bem jovem”, ele disse, “pode se desenvolver mais do que se chegar já como um jogador formado”.

O valor da transferência de Davies é o mais alto já pago por um jogador da MLS, e ultrapassa os US$ 10 milhões (R$ 37 milhões) que o Villareal, da Espanha, pagou 10 anos atrás para contratar Jozy Altidore.

O fato de que esse recorde tenha durado tanto tempo serve como crítica ao desenvolvimento de jogadores pelos clubes da MLS, ou da incapacidade da liga de formar jogadores que clubes maiores, em ligas maiores, desejem contratar.

Os gastos mundiais com transferências de jogadores mais que dobraram nos últimos cinco anos, e parecia estranho que a MLS não tivesse desenvolvido, nem que por acidente, um jogador que um clube de algum lugar visse como mais valioso que Altidore. Afinal, a MLS tem por base um país rico e diverso, com 330 milhões de habitantes.

Para a MLS, produzir jogadores, ao modo da Primeira Liga portuguesa, da Eredivisie holandesa ou das ligas brasileiras e argentinas, poderia ser uma grande realização.

Há um grande obstáculo: geralmente, quando um jogador assina seu primeiro contrato profissional ou se transfere ao exterior, o clube ou clubes que o formaram precisa(m) ser remunerado(s) pelo time contratante.

Além de pagar o Vancouver por Davies, o Bayern de Munique terá de pagar um valor muito menor ao Edmonton Strikers, pelo qual Davies jogou antes de se transferir ao Whitecaps.

Embora seja assim que as coisas funcionam para os clubes do Canadá e do resto do mundo, nos Estados Unidos elas são diferentes. A Federação de Futebol dos Estados Unidos não aplica as regras de remuneração por formação, conhecidas como “mecanismo de solidariedade”.

O motivo é complicado e envolve um processo judicial que se arrasta há 20 anos, e as leis americanas quanto ao trabalho infantil, mas o resultado é que os clubes americanos não recebem remuneração por terem formado um jogador em suas categorias de base. Só serão compensados financeiramente se o jogador assinar com eles seu primeiro contrato profissional.

De acordo com Don Garber, o comissário da MLS, a organização apoia que os Estados Unidos se enquadrem às regras que valem para o resto do mundo.

“A MLS sai ganhando com os pagamentos solidários, e não tenho objeções a eles”, disse o comissário a repórteres na segunda-feira.

Existem outros sinais positivos, além da transferência de Davies. Em 2017, os clubes da MLS receberam apenas US$ 2,4 milhões (R$ 8.9 mihões) por transferências de seus jogadores.

Este ano, Jack Harrison, Cyle Larin e Érick Torres já se transferiram ao exterior por mais de US$ 1 milhão (R$ 3,71 milhões) e é provável que o ala Tyler Adams, do Red Bulls, se una a eles.

Os treinadores Patrick Vieira e Jesse Marsch, que estavam na MLS, também se transferiram à Europa.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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