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'Esporte é para todos', diz narradora de 1ª transmissão 100% feminina da NFL

Hannah Sport e Andrea Kremer vão atuar na partida entre Minnesota Vikings e Los Angeles Rams

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As narradoras Hannah Storm e Andrea Kremer
As narradoras Hannah Storm e Andrea Kremer, que farão a primeira transmissão 100% feminina da história da NFL - Divulgação
Kevin Draper
Nova York | The New York Times

A Amazon anunciou na terça-feira (25)  que as veteranas jornalistas esportivas Hannah Sport e Andrea Kremer comandariam as transmissões do "Thursday Night Football" da NFL em seu serviço de streaming, nesta temporada. Será a primeira vez que uma dupla feminina comandará as transmissões de qualquer esporte masculino importante, não só o futebol americano.

O jogo desta quinta-feira (27) à noite da NFL,  entre Minnesota Vikings e Los Angeles Rams, é exibido na TV aberta americana pela rede Fox, com Joe Buck e Troy Aikman.

Os assinantes da Amazon Prime terão acesso à transmissão da Fox e a três outras opções de narração: Storm e Kremer, um stream em espanhol e um stream em inglês britânico.

Kremer é comentarista na NFL Network e no programa "Real Sports", da HBO, e antes trabalhou na ESPN e foi repórter de campo da rede NBC no "Sunday Night Football".

Storm apresenta o "SportsCenter" da ESPN e serve como âncora na cobertura de diversos grandes eventos esportivos transmitidos pela rede de esportes, Ela também é dona de uma empresa que produz documentários esportivos.

As duas estão seguindo os passos de Gayle Sierens, que narrou um jogo da NFL em 1987, e de Beth Mowins, que narrou um jogo do "Monday Night Football" em cada uma das duas últimas temporadas.

Antes de sua estreia, Storm e Kremer falaram de seu estilo, de sua realização histórica, das palavras gentis que ouviram de Charles Barkley, e do que virá a seguir. Abaixo, uma versão condensada e editada da entrevista.

 

O release não informava, e, assim, quem vai narrar?

Storm: Se tivermos de definir, Andrea narrará e eu comentarei, mas não acho que os telespectadores devam pensar em nossa transmissão como uma transmissão convencional.

Somos uma opção diferente. É um jogo narrado de nossa perspectiva. Vamos contar muitas histórias. Não temos controle sobre o vídeo. Você nos ouvirá falando sobre coisas que talvez não batam com a imagem que está na tela. Haverá muita conversa. Teremos convidados, às vezes.

Kremer: Assistimos muito futebol americano ao longo dos anos, e acredito que exista uma determinada linguagem do esporte, quer estejamos falando de penetração do A-Gap, cover 1, cover 2, cover 3, rub route, RPO [opção corrida/passe]. O que quer que seja, acredito que exista uma linguagem do futebol americano, e na verdade ela não é a nossa linguagem. Vamos explicar coisas? Vamos analisar coisas de nossa perspectiva? Absolutamente.

Storm: Vamos tentar fazer o que fazemos bem, que é reportar, contar historias, colocar as coisas em perspectiva, e vamos fazê-lo com base em uma geração de imagens mundial, uma geração feita pela Fox. Não vamos estar no local do jogo, e por isso, se você decidir nos assistir com a expectativa de ver aquilo que está acostumado a ver, isso não acontecerá.

Kremer: Mas conseguirá acompanhar o jogo. Não vamos perder de vista o fato de que há um jogo acontecendo.

 

O que as entusiasma mais?

Storm: O que me empolga é o quadro mais amplo, o de termos homens e mulheres jovens, todo tipo de pessoa, e que eles compreendam que o futebol americano e o esporte são para todos. Que não se trata de algo que apenas um segmento da população é capaz de entender, e de ter como assunto de conversa. Estou empolgada por estarmos seguindo o caminho aberto por Jessica Mendoza, Beth Mowins e Doris Burke, e especialmente por poder mostrar a mulheres mais jovens que existe uma nova opção de carreira para elas. Se você quer narrar esportes, se você quer comentar, não se si nta intimidada.

 

Por que uma oportunidade como essa não surgiu antes para vocês ou para outras mulheres?

Kremer: Não posso me incomodar com o que aconteceu no passado. Não sei o motivo.

Uma das primeiras pessoas que nos procurou ontem foi Fred Gaudelli, por muito tempo o produtor executivo do "Sunday Night Football". Ele foi uma das primeiras pessoas que falou conosco, e fiquei nervosa porque Freddie é ótimo, mas é bem tradicionalista. Mas ele me disse que "tive essa ideia quatro anos atrás e não consegui apoio, mas estou muito feliz agora. Vocês são a dupla perfeita".

Storm: Sempre houve aquela noção distorcida de que você precisa ter jogado o jogo para comentá-lo. O que é bobagem. Todos sabemos o quanto essa lógica é tola, quer se aplique ao esporte ou à música, às notícias ou à culinária —qualquer coisa. Se você é inteligente, se você pesquisa, se você se interessa, e tem décadas de experiência... é isso que importa.

Uma pessoa que falou com a gente e me animou muito foi Charles Barkley. Nos anos 90, eu participava da equipe da rede NBC que transmitia jogos da NBA. Na época, o Houston Rockets estava batalhando para chegar ao playoff, Charles Barkley jogava lá. Comentei alguma coisa que chegou a ele no vestiário, e ele disse: "Bem, mulheres não deveriam comentar basquete. Mulheres não deveriam falar desse assunto", em referência a mim

Duas semanas depois, o Rockets foi eliminado e estávamos na final da NBA em Chicago. Entrevistei Charles no intervalo do jogo. Ele passou a entrevista toda se desculpando —e você sabe como a audiência das finais era grande naquela época. Nós nos tornamos não só grandes amigos como adquirimos muito respeito um pelo outro.

Temos visto —​de maneira geral no esporte— uma diversidade muito maior de vozes, e isso acontece porque algumas questões sociais muito importantes afetaram o mundo do esporte, e precisamos de vozes diversas, de perspectivas diferentes. A paisagem do esporte hoje, mesmo quando comparada ao passado recente, é muito mais diversa, porque, afortunadamente, viemos a compreender que é importante que tenhamos muitas perspectivas.

 

Vocês acham que, nesse momento, são parte de um movimento mais amplo, de um momento especial que estamos vivendo?

Kremer: O futebol americano de algumas formas era visto como o último baluarte do domínio masculino do esporte, e assim acho que de certo modo é irônico que ele venha a ter a primeira dupla de transmissão feminina, cobrindo a NFL.

Em termos de impacto social, creio que é algo que outras pessoas seriam mais capazes de avaliar. Mas o que importa realmente é que isso não aconteceu porque a Amazon tenha pensado "melhor colocarmos mulheres lá, porque vivemos o movimento Me Too". Não era essa a intenção. A intenção deve ser considerada do ponto de vista dos negócios. Eles pagaram US$ 50 milhões (R$ 199,5 milhões) pelo direito de transmitir os jogos em streaming de vídeo. Por que adquirir os direitos de retransmitir online as imagens geradas pela Fox e fazer a mesma coisa que ela faz? Fazer a mesma coisa não funciona.

Transmitir jogos ao vivo ainda é o ponto alto do jornalismo esportivo?

Storm: Contar histórias é bom —você pode se estender de muitas maneiras—, mas tudo bem considerado, o evento ao vivo é o mais importante. É essa a emoção e é esse o desafio de não saber o que vai acontecer, e ter uma página em branco, por assim dizer. Eu diria que, nesse sentido, é o ponto alto, porque é isso que o esporte é: acontece ao vivo, e você não sabe o que virá. Não há roteiro. Vamos lá.

Quando um notícia como essa deixará de ser importante?

Storm: É difícil calcular. Obviamente, estamos falando de um serviço de streaming, com prioridades e capacidade diferentes daquilo que vemos como televisão tradicional; eles não se apegam a índices de audiência. Transmitem para 200 países em todo o mundo, e querem atender seus assinantes e oferecer opções.

Honestamente, a coisa está virando na direção certa, mas vem acontecendo devagar. Creio que de algumas maneiras as coisas mudaram —e isso parece ter acontecido rapidamente—, mas de outro ponto de vista foi bem lento.

Kremer: Há outra coisa que quero acrescentar, rapidinho. Nossa equipe tem postos para um produtor geral e um produtor de conteúdo, e os dois são ocupados por mulheres. É quase que uma grande coincidência que esses cargos sejam ocupados por mulheres? Sim. Mas são pessoas que conhecemos e em quem confiamos. Nossa equipe pode ser pequena, mas temos um time por trás de nós.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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